domingo, 17 de março de 2013

Diário de Pernambuco faz grande reportagem sobre Nivaldo Tenório


Escritor Nivaldo Tenorio lança livro de contos Dias de Febre na Cabeca. Credito: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press.
Escritor Nivaldo Tenorio lança livro de contos Dias de Febre na Cabeca. Credito: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press.

Em 1970, o ex-presidente Lula já havia deixado Garanhuns há 18 anos, e dava os primeiros passos como sindicalista no Sudeste do país. Enquanto começava a jornada de um dos políticos mais populares dos últimos tempos, no município do Agreste pernambucano nascia um conterrâneo anti-herói. Também de origem pobre, pais semianalfabetos, o aluno repetia de ano sistematicamente. No fim da adolescência, detestou o Exército. Por necessidade, tentou ser policial. Acabou se tornando bombeiro e, com o avançar da idade, habilidoso escritor.

A simpatia de Nivaldo Tenório o aproximou de autores consagrados, como Ronaldo Correia de Brito e Raimundo Carrero, de quem recebe elogios rasgados pelo talento e originalidade. Se por um lado o garanhuense soube se apadrinhar nas andanças pelo Recife, foi igualmente capaz de se associar a potenciais escribas da terra, com quem criou o zine literário u-Carbureto e, posteriormente, selo editorial com o mesmo nome. No fim do ano passado, a cooperativa publicou o quinto livro, Dias de febre na cabeça (112 páginas, R$ 25), uma densa e obscura coletânea de contos.

A obra reflete com precisão a personalidade quase secreta de Nivaldo Tenório, pessimista e ateu inconformado com a morte. Foi escrita e reescrita incansavelmente nos últimos anos, tempo suficiente para apurar no texto a dor da existência humana e a falta de opções diante do destino. “Estamos fadados ao mais completo e irremediável fracasso. Um dia a gente vai ter câncer na próstata e morrer”, resume.
Sem exceção, as histórias trazem personagens sofridos, em situações de luto, cansaço, dor, tragédia, agonia. “São contos dolorosos. Queria um livro com unidade, então todos estão em uma situação limite. Minha razão para escrever é falar do humano. E nesse sentido não sou alegre. Viver é muito doloroso. Nós estamos em uma encruzilhada”.

Quanto à relação entre literatura e a carreira no Corpo de Bombeiros, alega dupla identidade, tal qual Super-Homem e Clark Kent. Há 23 anos na corporação, o primeiro-sargento Tenório, como é conhecido, não se arrisca mais no combate ao fogo. Sem atos heroicos, o trabalho administrativo de meio período é respaldo para exercitar a verve literária, segredo bem guardado dos colegas. “Nunca me senti militar. Alguns amigos se consideram verdadeiros salvadores, guerreiros. Eu não. Me sinto funcionário público”, confessa.

Leitor voraz de autores russos como Liev Tolstói e Fiódor Dostoiévski, é também admirador de Philip Roth, Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Guimarães Rosa. Embora tenha fôlego para consumir obras imensas, costuma sair em defesa das histórias curtas. “Ninguém chega para um poeta e diz para ele escrever uma epopeia. Mas para o contista tem que dizer para ele escrever um romance”, compara.

Na estante com mais de 2500 livros, aparentes contradições. Lado a lado, estão Deus, um delírio (considerada obra essencial para o ateísmo), de Richard Dawkins, o Alcorão (“livro terrível, de causar pesadelos”), a Bíblia Sagrada (“adoro e leio muito, embora seja um monte de mentiras”). 


SERVIÇO

Dias de febre na cabeça, de Nivaldo Tenório 
Páginas: 112 páginas
Preço: R$ 25
Vendas pelo e-mail editora@u-carbureto.com.br


 DEPOIMENTOS >>>>
Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press. Fotos do escritor Ronaldo Correia de Brito.
Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press. Fotos do escritor Ronaldo Correia de Brito.

“Fiquei muito surpreso com a qualidade do texto . O conto Quebra-cabeça, mesmo com alguns problemas, é muito bom, de maneira que revela o escritor. Você vê que ele sabe escrever um conto, conhece os mistérios do conto, conhece literatura. Nivaldo escreve coisas extraordinárias. É impressionante como cria um mundo tão sombrio, hipocondríaco, tão suicida. É um niilista.”

RONALDO CORREIA DE BRITO



Escritor Raimundo Carrero. Crédito: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press.
Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press. Fotos do escritor Ronaldo Correia de Brito.


“Nivaldo foi ao encontro do limite humano. Deixou que seus personagens sentissem o peso da existência. Essa existência que tem hora para acabar. Dias de febre na cabeça emociona o leitor pelo que tem de qualidade literária. É no sentido do absolutamente humano que se encontram as histórias e os personagens do livro. Nivaldo consegue ir muito adiante. Consegue avançar seu projeto literário.”

RAIMUNDO CARRERO


RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

Direitos do Autor

Copyright 2014 – RONALDO CESAR CARVALHO – Para a reprodução de artigos originais assinados pelo autor deste blog em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso,é exigida a exibição do link da postagem original ou do blog.