terça-feira, 25 de junho de 2013

Protestos no Brasil: uma breve reflexão - Por Carlos Ubirajara


Dr. Carlos Ubirajara exclusivo para o blog

Nas principais cidades do país milhares de pessoas vão as ruas para lutar por um outro Brasil. As crescentes manifestações que se generalizaram, no dia 17 de junho, são provas de que existia por baixo de um aparente apassivamento, uma aparente normalidade das coisas, uma intensa insatisfação. 

Quer dizer, a marca desse governo, ou seja, a marca do que a gente chama de democracia de cooptação, que era formar um pacto entre classes para permitir um certo padrão de desenvolvimento do capitalismo, submetendo a classe trabalhadora, que vem recebendo muito pouco por essa submissão através de parcerias publico privadas, através do desmonte de políticas públicas, através do sucateamento da estrutura pública de atendimento das demandas da população e uma intensa privatização. Isso foi criando uma série de déficits que precisavam ser enfrentados na educação, na saúde e nos transportes. 

Enganam-se aqueles que acham que essa é uma explosão momentânea unicamente pelo fato de um aumento dos preços das passagens. Na verdade é um descontentamento que foi se acumulando e que agora pela gota d'água motivadora, pelo gatilho das passagens, explode em grandes manifestações de massa. Ao longo de um contexto histórico a população sempre foi chamada para ter um comportamento passivo, votar nas eleições, voltar para casa e deixar o governo fazer suas alianças, fazer sua governabilidade, sem a pressão popular. Isso gera um caldo que agente poderia identificar como uma despolitização, quer dizer teve uma despolitização dos movimentos sociais.

É natural que os movimentos agora venham a tona como reflexo dessa despolitização, então, é natural a heterogeneidade dele, é natural que ele não tenha um rumo claro nesse primeiro momento ainda que demonstre nítida e enfaticamente essa insatisfação. Nessa heterogeneidade tem aspectos muito positivos de mobilização de uma nova geração lutando, da consciência e da necessidade de que é na luta que essas coisas se conquistam, mas vem também uma série de preconceitos que a experiência histórica deveria ter combatido e que na verdade não combateu, então por exemplo, preconceito contra partido é compreensível ainda que não justificável. Compreensivo porquê a população está cansada de um certo oportunismo político daqueles partidos que se aproximam do movimento social para vender seus candidatos a vereador a deputados, prefeitos etc., depois voltam as costas aos verdadeiros anseios da população, de outro lado a população não aceita que um partido queira pular na frente da mobilização e dirigi-la sem participar organicamente da sua construção. Isso é legitimo e é saudável, no entanto, aí um perigo, esse movimento que agora emerge não pode ser entendido como tenha emergido do nada, nesse período todo você teve militantes que mantiveram acessas as necessidades dessas demandas, por transporte, por moradia, por saúde, por educação, pela questão da segurança, na vigilância dos gastos do estado; e esses militantes são militantes dos movimentos sociais, são militantes dos partidos políticos que não precisam pedir a ninguém para fazer parte de movimentos de massa, se legitimaram com a sua própria construção na luta e na defesa dessas bandeiras como muitos apoiavam as bandeiras passiva ou diretamente. 

A oportunidade agora é de encontrar essas duas vertentes, dos movimentos sociais, dos partidos políticos, do movimento independente das massas que tomam as ruas e dar uma direção política, para isso quer dizer: o que nós queremos com esses movimentos? Para o professor Mauro Savi da UFRJ setores conservadores da sociedade tentam agora domesticar e pautar essas manifestações. Interessante perceber como que o próprio trato da imprensa se alterou durante esse processo, primeiro criminaliza , são vândalos, são baderneiros, são quadrilhas, depois tenta desqualificá-los: há é um movimento de interesse político. 

Na medida que toma a dimensão que toma, a rede globo, os grandes jornais a grande imprensa tenta domesticá-los pautando o movimento, dizendo ao mesmo o que ele deve dizer, tentando trazê-lo para um movimento propositivo que quer uma negociação. Quais são os termos dessa negociação que se apresenta? aí há uma armadilha, o governo vai mais uma vez resolver ou tentar resolver o problema a golpes de isenções dá para baixar a tarifa, que agora já pode, primeiro era impossível, agora já é possível, mas como baixar as tarifas? vamos fazê-la a partir de isenções de impostos onde o governo abre mão desses impostos para garantir não a qualidade dos serviços, mas a lucratividade das empresas que os exploram. 

Nós temos que estar atentos para negar essas alternativas, nós temos que apostar fundamentalmente que a alternativa hoje, para a questão do transporte, como também para a pauta mais ampla que se apresenta na saúde e na educação etc. é a garantia do caráter público desse serviço com verba pública sem a presença de empresas sejam elas privadas, sejam elas parceria público-privado seja qualquer outra forma que se apresente. E como afirma Pedro Demo em sua obra "Pobreza Política", "é politicamente pobre o cidadão que somente reclama, mas não se organiza para lutar, não se associa para reivindicar e não se congrega para influir". Neste sentido precisamos exercer uma cidadania responsável (sem vandalismo), pois a política está em todos os lugares, em todas as situações da vida. Ela é um reflexo da sociedade que a representa, sendo assim, temos nossa parcela de responsabilidade na situação atual da política de nosso país. 

Para que haja mudanças é preciso exercer a cidadania sem medo mas com o respeito devido pois, só com respeito criamos as condições necessárias ao dialogo. Neste sentido, se torna imperativo no momento presente, a percepção de que, a revolução circunstancial que se observa nas ruas cria uma nova linguagem e tem coisas novas a dizer; mas os nossos dirigentes teimam em dizer com palavras novas coisas antigas. Portanto vamos torcer e lutar para que as coisas se ajustem e nosso querido Brasil "o gigante adormecido" acorde realmente para solucionar os grandes problemas nacionais pois discursos e promessas já não resolvem mais. 

Qual a solução? a meu ver é preciso um grande dialogo para que efetivamente se cumpram as promessas e as coisas comecem a acontecer. E você, o que acha?


Dr. Carlos Ubirajara
Professor Assistente II e Coordenador Administrativo dos Cursos de Pós-Graduação Latu Sensu/Campus Garanhuns
Mestre e Doutorando em Geografia (*UFPE/UECE) respectivamente. 
* Universidade Federal de Pernambuco/Universidade Estadual do Ceará.

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