quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Recursos do Projeto São Francisco apoiam pesquisa da flora na Caatinga


Entre as contribuições para a ciência que os recursos do Projeto de Integração do Rio São Francisco promovem, a maior colaboração sobre estudos da flora está em Petrolina, no sertão de Pernambuco. 

No Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (Crad), da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), pesquisadores estudam com profundidade o único bioma exclusivamente brasileiro: a Caatinga. O método do coordenador do Centro, professor José Alves de Siqueira, tem estratégia e etapas.

Segundo ele, é necessário conhecer as plantas para saber como o bioma é formado, resgatar as espécies, coletar sementes para guardá-las e produzir as mudas. Em seguida, descobrir como recuperar a Caatinga. “O nível do conhecimento a ser adquirido é totalmente diferente do que existe acumulado hoje sobre a Mata Atlântica, já bastante estudada pela academia”, explica Siqueira.

Frentes de pesquisa - A criação do Crad e o trabalho dos pesquisadores junto às obras que criam canais para levar as águas do Rio São Francisco aos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará fazem parte dos investimentos em ciência que a obra da transposição possibilita. Os investimentos em estudos da flora, da fauna e em arqueologia somam quase R$ 1 bilhão.

O Centro dedica-se à flora e à recuperação de áreas degradadas, promovendo várias frentes de trabalho. Com a coleta de espécies vivas, por exemplo, é possível manter em laboratório cerca de três milhões de sementes em câmara fria, a 7°C. As cerca de 150 espécies da coleção são todas comuns às áreas onde ocorrem as construções do empreendimento.

As sementes também são utilizadas em novos estudos sobre germinação. Pesquisadores analisam a melhor forma de induzir a brota ou as espécies de plantas que precisam de outros agentes como o clima, insetos, aves, animais ou mesmo uma ação humana.



Mudas - Em outra área do Crad, ocorre a pesquisa sobre as mudas da Caatinga. A partir dos dados levantados, algumas adaptações já foram feitas pela equipe. Os tubetes, onde as mudas são desenvolvidas, precisaram ser mais compridos. “Algumas espécies desenvolvem raízes profundas pela necessidade de procurarem água. Logo, tubetes compridos para as mudas", explica o professor José Alves.

Sementes e mudas são a base da recuperação das áreas degradadas. A tecnologia apoia essa missão. O Centro possui um laboratório de geoprocessamento capaz de produzir mapas que indicam o tipo de solo, proximidade de fontes de água, nível de precipitação histórico, incidência de sol, altitude, dentre outros dados.

As informações são cruzadas com os hábitos catalogados das espécies mais comuns e em que áreas elas foram coletadas. Com a combinação de dados, é possível saber quais locais com melhores chances de ser encontrar determinada espécie ou quais são os tipos mais indicados para recompor uma mata em determinada região. “Se um prefeito ligar dizendo que quer replantar uma área, por exemplo, posso enviar as mudas adequadas para ele”, conta Alves.

Herbário - O centro também possui um herbário com mais de 10 mil espécies devidamente catalogadas, muitas em duplicata para a constante troca de informações com instituições similares, rotina comum entre os herbários ativos. “Queremos nosso herbário como uma referência das plantas existente nos biomas encontrados na bacia do rio São Francisco”, garante o professor.

Como indicador de sua atividade, o local possui duas espécies que estão em fase de descrição e podem se tornar as primeiras contribuições para a ciência. Uma é da família das samambaias e outra uma araliácea.

Xiloteca - O Crad possui ainda uma xiloteca, neste caso um conjunto de amostras das árvores retiradas da natureza por causa da obra de transposição do Rio São Francisco. Os exemplares são guardados com diferentes cortes e é possível se obter informações morfológicas, sobre os desenhos do interior do tronco e a formação da casca.

A sala da xiloteca está localizada próxima à entrada do Crad. Ao receber estudantes em dia de educação ambiental, José Alves gosta de apresentá-los à coleção com uma pergunta: “Quem já viu mil anos de uma vez só?”.

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