quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Eu e Eduardo Campos



Entrei na faculdade muito jovem, e rapidamente estava no movimento estudantil, era 1988 e já presidente do Diretório Acadêmico, cheguei a participar de um Encontro Nacional da UNE, em São José dos Campos-SP. Na época, eu e Gustavo Siqueira, representamos Garanhuns e o interior do estado na caravana do DCE.

Depois, fomos contagiados por aquela campanha de 1989 de Lula contra Collor. Foi uma campanha apaixonada, que só encontro paralelo anos antes com a volta de Arraes, e anos depois, em 2006, com a primeira eleição de Eduardo. Em 86, Arraestaí. Em 89, o Lula-lá, Sem medo de ser feliz! Em 2006, Madeira do Rosarinho!

Lembro de uma frase de professor Petrônio, do PT, quando "alienados" comemoravam com trio elétrico a festa de Collor em Garanhuns: "Queria ser como eles, não saber o que está acontecendo e festejar sem me preocupar com o amanhã". Parece que antevia os anos seguintes. Quem participou das campanhas de Arraes e Lula, aprendeu coisas que servem pro resto da vida.

Filiado em 89 ao PT, não tive vida partidária, como se diz, nos anos seguintes. Entrava jovem no Banco Econômico, e o mundo sindical não me seduzia, embora apoiasse. Gostava mesmo da luta estudantil, salas de aula, juventude, algo assim. Era muito jovem também, aos 19 anos.

Mesmo profissionalmente, tive a felicidade de sempre apoiar quem acredito. Foi assim desde o primeiro voto, em professor Zoroastro para vereador. Em 86, fomos pra rua por Arraes, incentivado pelo meu avô, João Gonçalves, partidário histórico do MDB, defensor de Marcos Freire, Cristina Tavares, Jarbas (da época) e, claro, Arraes. Minha família sempre foi por estes caminhos. 

Em 2005, Audálio Filho e Alcindo Menezes estavam com o PSB no município, e eu já tinha atividade de comunicação, escrevia para jornais e rádios. Convidaram-me para ingressar no partido, que começava a trabalhar o projeto de Eduardo Campos, que pensava em se candidatar a governador. Não tinha ainda nem os 3% que todos lembram sempre. O trabalho começou do zero, de reuniões com pouca gente, montando pequenos grupos nos bairros. Lembro de reuniões no seminário, Centro São Geraldo, Centro São Cristóvão, casa de um, casa de outro.. Somente depois viria o candidato e uma melhor estrutura, mas nem tanto. Era a terceira via e não tinha os recursos das outras candidaturas. Mas a campanha pegou, era alegre, entusiasmada, como foram 86 e 89. Foi a união da juventude com a história, com referências políticas arraesistas.

Assumi a comunicação do Diretório Municipal, e numa época em que Eduardo era o azarão, não faltavam conselhos para não me expor muito, pois a vitória era difícil. Mas não existe meia entrega quando se acredita. Fomos pra rua, alardeamos, pegamos fogo e a campanha foi histórica, também em Garanhuns, onde Eduardo venceu já no primeiro turno. Some-se ao esforço do Diretório Local, a participação fundamental de lideranças regionais, que sempre estiveram com Arraes e seu neto. Audálio coordenava o comitê.

Eduardo fez alguns encontros no município. Lembro de um no auditório do Santa Sofia, que fui o Mestre de Cerimônia, mas o ápice daquela campanha foi o comício no centro da cidade, com todos aqueles que faziam parte do time, e convidados especiais do PSB, como o então governador do Mato Grosso, Blairo Maggi e a ex-prefeita de Maceió, Kátia Born. Fiz a locução, entusiasmada, e guardarei aquele dia para sempre na memória. Ao meu lado, o tempo todo, Eduardo Campos. Era jovem, atento, acompanhava tudo. Conversamos sobre o dia e aquela campanha. 

Era ainda primeiro turno, então não tinham os petistas que vieram para a Frente Popular, junto com Humberto Costa. O centro de Garanhuns ficou amarelo, numa grande festa. De Garanhuns, anotamos Bartolomeu Quidute, Izaías Régis, Givaldo Calado, entre outros que falaram. Lideranças regionais como Sandoval Cadengue, Antônio de Pádua, Ivan Rodrigues, entre tantos outros. Candidatos como José Chaves, Armando Monteiro, Inocêncio Oliveira, etc.

Com o sucesso naquela campanha, infelizmente alguns compromissos do Diretório Estadual não foram cumpridos, e o diretório municipal foi desfeito, com a saída de Audálio e Alcindo e o afastamento do grupo. 

Até que Ivan Rodrigues impulsionou novamente o partido, reoxigenando e abrindo novos campos de batalhas políticas na defesa do município e de sua gente. Já não tive mais participação direta, embora tenha descoberto os propósitos de Eduardo Campos, e defendido seu governo com a certeza que vivíamos a renovação do estado, o avanço em busca de recuperar décadas perdidas, e a certeza que estávamos vivendo um período que recolocaria Pernambuco no mapa do Brasil. E Ivan Rodrigues, capitaneou o novo momento, embora, num futuro não tão distante, também tenha sido atropelado por escolhas erradas de lideranças estaduais, quando também tinha o controle correto das ações do Diretório Municipal. Minha relação com Ivan e o respeito que tenho por ele, é imensurável. Ivan é uma espécie de avô da minha geração, e suas histórias seduzem qualquer um. Coerência em pessoa, deve estar sentindo a perda de um filho com a morte de Eduardo. Sandoval, um irmão.

Eduardo Campos não deixa sucessor, mas um legado de paixão pelo estado, com investimentos na cultura e na sua gente, e mostrando que precisamos de homens probos, dignos e preparados na vida pública nacional. O investimento maior se deu na recuperação da autoestima de nosso povo,  que voltou a acreditar no Leão do Norte. Com alegria e participação. E na preparação de um estado com o olhar no futuro, com a atração de indústrias e a interiorização do desenvolvimento, que trará resultados a curto, médio e longo prazos.

Eduardo Campos era um líder político natural e um administrador público que revolucionou o estado com um governo rígido baseado em resultados. Acompanhava cada ação, cada programa, cada secretaria em suas reuniões de monitoramento. Para funcionar, tinha carisma. Sua simpatia contornava a mão-de-ferro para que o governo desse certo. E deu.

Com a criação deste blog, há cincos anos, passamos a acompanhar diariamente a vida política estadual. E estivemos em muitos eventos com Eduardo Campos, que onde estava, com quem estivesse, sempre reservava tempo para conversar com a imprensa. Sempre com um sorriso e respostas para todas as perguntas. 

Seus pronunciamentos eram sempre carregados de emoção e de conhecimento. Em cada lugar, conhecia nomes, ruas, praças, histórias. E tinha o linguajar para cada plateia. 

Não convivi com Eduardo Campos, mas estou na lista de milhares de pessoas que estão sentindo a perda como quem perde alguém de casa. Deixa este vazio na política, na vida pública e no seio da família. 

O Brasil ainda ia conhecer o Eduardo que Pernambuco conhecia!

Não tenho dúvidas que o Brasil perdeu um futuro presidente, mas dor maior, é a da família, que perdeu um marido, pai e filho presentes, de uma relação apaixonada!

Infelizmente!

RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

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