terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O CARNAVAL DE PERNAMBUCO NÃO É FEITO SÓ DE BLOCOS - Por Alexandre Acioli




Alexandre Acioli*

O Carnaval de Pernambuco é algo grandioso, muito maior e mais prazeroso do que ouvir contar ou simplesmente ver e escutar nos noticiários da TV, ou ler em jornais e revistas. Aliás, se informar apenas através da imprensa não é o que há de melhor. Infelizmente, os profissionais de comunicação passaram, nos últimos anos, a denominar de “blocos”, todas as agremiações carnavalescas que participam dos festejos de Momo.

Um verdadeiro absurdo! Isso é, simplesmente, prova de desconhecimento de quem não observa, não brinca, não participa e não vive o Carnaval pernambucano. É querer reduzir as nossas manifestações e deixar a festa superficial, pobre, limitada apenas aos“blocos”.

Nossos colegas jornalistas, radialistas, apresentadores e comentaristas precisam saber que Pernambuco é um celeiro cultural. O nosso Carnaval tem “blocos”, sim! Mas a festa de Momo nesta “Terra dos altos coqueiros” tem muito mais – e diferentes – manifestações culturais e ritmos. Temos La Ursas, clubes, troças, caboclinhos, maracatus de baque solto e baque virado; tribos de índios, afoxés, ursos, bois, bonecos e escolas de samba, sem esquecer as tradições de muitas cidades do Interior, como os cavalos marinhos, papangus, caiporas, caretas, grupos de coco e de ciranda. Tudo isso é folia, ferve e se mistura no Carnaval… só não podem ser chamados e nem podem virar apenas “blocos”.

É um erro afirmar “o bloco” do Homem da Meia Noite, o “bloco” da Pitombeira dos Quatro Cantos, o “bloco” da Burra do Rosário ou o “bloco” do Preto Velho. São agremiações diferentes, com características distintas. O Homem da Meia Noite é Clube de Boneco, a Pitombeira é troça, a Burra do Rosário é Clube de Frevo e o Preto Velho é escola de samba.

O bloco lírico é diferente: originário dos anos 1920, nos bairros centrais do Recife. O seu abre-alas é o flabelo (diferente de estandarte, utilizado por clubes e troças); as suas orquestras são de pau e corda e não de metais; tocam marchas e são acompanhados por corais de vozes femininas; desfilam com abajures, se organizam em alas, damas de frente e cordões.

Blocos são diferentes de clubes, muito mais antigos (surgiram nos anos finais do século XIX), e de troças (comumente nascidas a partir de uma história pitoresca ou de uma brincadeira entre amigos). Estas são agremiações mais simples, que desfilam durante o dia e se caracterizam pela irreverência e descontração. Até mesmo o horário de ir às ruas para brincar alegrar o povo é um diferencial de cada um.

Vejam quantas diferenças! É preciso mostrá-las e nominá-las aos foliões-novos e, principalmente, aos turistas, para que não retornem aos seus locais de origem e espalhem por lá que as nossas manifestações carnavalescas e ritmos são apenas“blocos”.

Por favor, não deixem que a grande diversidade das nossas manifestações fique nas sombras e no anonimato. Afinal de contas, o Carnaval de Pernambuco é muito maior e mais rico de manifestações. Temos muito mais do que apenas blocos.

Alexandre Acioli é jornalista

RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

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