terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NATAL DE ANTIGAMENTE: Eram tempos de sonhos e de vida - Por Jodeval Duarte


Estava chegando o Natal e tudo era muito diferente dos dias comuns. Mesmo a pobreza, que delicadamente se vestia de novo. E a gente descia para o centro. Uma expressão que se aplicava perfeitamente a nossa terra.

Descíamos das colinas, onde moravam os menos afortunados. Mas eram tempos que nivelavam as distâncias sociais. E descíamos para viver o centro como não mais se vive. A avenida Santo Antonio era espaço de gente, não de carros. As pessoas tinham o saudável hábito de andar e trocar saudações. Bons tempos aqueles, sem novela, sem celular, vividos intensamente cada minuto na partilha dos problemas do vizinho, sem notícias do Iraque ou do aquecimento global batendo a nossa porta todo instante.

Bom dia, boa tarde, boa noite. Seu fulano, dona fulana. O leiteiro na porta, o pão em sacolas de tecido, a manteiga embrulhada, dois mil réis de carne, quatrocentos réis de açúcar... E a gente, na infância ou na adolescência, sem saber como eram bons aqueles tempos, porque não tínhamos referência. Hoje temos.

A avenida Santo Antonio não é mais passarela da imaginação, o carrossel girando, a "onda" arrancando gritos de espanto pela tremenda velocidade, tá bom! tá bom! Não empurra mais! Acabei de ganhar um presente na pescaria! O que foi? Um beliro! Jogando argolas, com muita sorte a gente poderia ganhar um maço de Astoria, que seria fumado às escondidas. Se pai me pega! E a gente pra lá e pra cá. Da igreja dos "crentes" para a igreja católica, onde meia-noite tinha a Missa do Galo e todas as ofensas, todos os pensamentos pecaminosos deveriam ficar no passado...

Atenção, atenção você que está com vestido amarelo com bolinhas azuis, ouça essa gravação de quem muito lhe quer... "Revendo agora o meu jardim, oh, que tristeza enfim..." Como tudo era tão diferente. Uma semana inteira de rua iluminada e a gente mostrando a roupa nova comprada com sacrifícios inimagináveis. A espera de Papai Noel que nunca chegava.

Tempos difíceis, aqueles. E tão românticos tempos que perdemos nas curvas da vida, até chegar a uma avenida Santo Antonio abarrotada de carros, cheia de luzes e nenhuma vida.
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Agora comigo: Quero pedir licença ao jornalista Jodeval Duarte para reproduzir este belo texto. Senti voltar no tempo. Vi-me na "onda", no "chapéu mexicano", nas "canoas", "rodas gigantes", tempo de uma infância pobre, mas mágica, onde não faltavam a roupa nova, dinheiro para os brinquedos e até para gastar com as primeiras namoradas. kkk. Éramos crianças e aquela era a magia.

Voltei no tempo e vi as mesas de roletas dos adultos que nós não podíamos nem chegar perto. Mas nas barracas de bingo havia mais tolerância. Saudades de uma época dos passeios na Avenida Santo Antonio apilada de gente.

Hoje o tempo é outro.

Perdeu-se o amadorismo de então e junto levou a magia daquela época. Diz Jodeval Duarte que a Santo Antonio ficou sem vida, a festa foi para a Esplanada, que de tão grande, afasta as poucas pessoas que levam seus filhos para brincarem.

Não sei se o intuito de Jodeval foi apenas recordar ou defender a volta das festividades para o Centro da Cidade, até para oferecer a movimentação das pessoas no coração comercial da cidade, mas de qualquer forma, foi muito bom voltar tanto no tempo dentro da gente.

Não dá mais, a pulsação financeira do centro comercial não comporta mais a inocência e a beleza daquele tempo. 
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Publicado originalmente em 22/12/2009.

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