Os turistas vieram para o Festival. Novamente a cidade ficou linda, com eventos em vários polos ao mesmo tempo. Arte em toda parte. A roda da cultura girando, e quem vem pra cá fica encantado, no entanto há sempre uma parcela de nossa cidade que fica em busca de eventuais falhas para criticar o evento, prejudicando sua divulgação e influenciando outras pessoas através das redes sociais. O FIG aconteceu nos mesmos moldes que o ano passado, e até somando novos polos, como o Som da Rural. A crítica principal é porque não contou com artistas populares na Praça Mestre Dominguinhos, e aí fica parecendo que nada prestou. Até acho que poderíamos ter aquele brega romântico que as pessoas querem, mas daí querer transformar o evento numa tragédia, principalmente nas redes sociais, é claramente equivocado.
A imprensa da capital observa toda esta movimentação de forma isenta, sem paixões políticas, que estão à flor da pele em Garanhuns, e dá sua opinião. E o Jornal do Commercio publicou sobre isto.
Tem algo que os críticos observam que muitos de nós não entendem, como a concepção do evento e a pluralização dos palcos. Não adianta ficar reclamando porque seu artista preferido não veio, e achar que por isto o FIG. vai acabar se o Festival é muito maior. As pessoas vão para o carnaval de Recife e Olinda sem nem saber programação, e o FIG está chegando neste nível de maturidade. Infelizmente em Garanhuns é diferente, tem gente que só mostra as falhas e não mostra o quanto ele é maravilhoso e importante para nossa região. Escancarar eventuais falhas antes e durante o evento é trabalhar contra. A programação em nove dias ofereceu, de graça, Zeca Pagodinho, MPB4, Mart´nália, Lucy Alves, Chico César, Fernanda Abreu, Fafá, Baby, BaianaSystem, Geraldo Azevedo, Marina Lima, Edson Cordeiro, Mariana Aydar, Renato Borghetti, Zé Ricardo e Mariene de Castro, maravilhosos, sem contar ainda os tributos a Belchior e os 70 Anos da Asa Branca de Luiz Gonzaga, que contou com Waldonys e Chambinho (que fez Luiz Gonzaga no cinema), entre outros. E ainda nossos talentos de Garanhuns que deram show e mais outras 400 apresentações espalhadas por toda a cidade.
Tem três tipos de críticas. O das pessoas com claras divergências políticas, e que querem usar o evento para bater no governador, como se fosse ele que fizesse a programação. O das pessoas que só querem os shows de artistas populares, de massa, e que por isso não foram, ou até se deixaram influenciar pelas críticas negativas, e em vez de ir curtir o Festival, descobrir coisas novas, ficaram em casa reclamando nas redes sociais, e tem aqueles que têm um olhar mais acurado, que analisam os dois lados e buscam alternativas para que o FIG continue crescendo. É claro que os realizadores têm que ouvir todos, mas com prevalência deste último grupo. Pois o primeiro tem objetivo político, o segundo ainda não entendeu a proposta do FIG e o terceiro quer de fato o crescimento do evento!
Discordo do JC quando ele diz que é uma edição para entrar para história, pois acho que já tivemos melhores, porém reconhecemos um tivemos um evento na média, dentro das possibilidades e que buscou investir em qualidade, ainda bem! Se fosse dar nota, pelo que já vi, diria 7,5.
Vejam como publicou o Jornal do Commercio sobre o Festival de Inverno deste ano:
Festival de Inverno de Garanhuns tem edição pra entrar na história
Dez dias de programação intensa e de qualidade encerram com Marina Lima e Fernanda Abreu.
Mariana Aydar fez um dos shows mais surpreendentes da programação
Fer Verissimo /Secult PE
GARANHUNS - Ela já não é a estrela de massas que, da publicidade de jeans ou lonas de circos voadores aos programas carnavalizados de auditórios como o do insubstituível Chacrinha, ditava o ritmo respiratório do pop brasileiro – hoje mais ocupado por figuras de acordes menores. Madura, orgulhosos 61 anos, de uma beleza que gera jurisprudência e magnetismo, Marina Lima, contudo, segue com sua esfinge. Escalada para fechar os trabalhos do intimista Palco Pop na última noite do Festival de Inverno de Garanhuns, a cantora fez uma apresentação radiante longe do maior palco do evento. A de maior beleza da noite. E também de maior público do palco: do gargarejo ao fim, o plateia se espalhava até a metade da rua.
Depois de uma temporada crua em que percorreu o País apenas com seu violão no show No Osso, Marina está de novo em abrigo eletrônico. Depois do famoso trauma nas cordas vocais em que metade de sua extensão sumiu, Marina ainda tem a voz muito delicada. Mas canta com tanta verdade sussurrada que, mesmo quando, vez ou outra, a voz diminui, a canção permanece integramente bela. Ainda que gripadíssima, controlando uma febre com antibióticos na noite do sábado, sua voz estava com um vigor grave como há varias turnês não se via. Sob a companhia da banda Strobo, formada tão somente pelos paraenses Léo Chermont (guitarra e efeitos) e Artur Kuntz (bateria e programação), clássicos de Marina ganharam uma dilatação cool, mais atmosférica. Quando de seus números sem a voz de Marina, a Strobo imprimia um leve tempero amazônico de guitarradas à sua eletrônica elegante. Com fome de palco e determinação leonina, Marina incorporou também a sexual Vingativa, uma parceria com a banda em que, usando evocações muito diretas ao falo, narra uma mulher em desprezo à arrogância masculina. Linda e aderente também sua parceria com Adriana Calcanhotto, “Eu não quero mais amor”. Fazendo coro à plateia, fez um trocadilho político com a letra de Pra começar: “....Se o Cunha caiu, que o Temer caia”. Uma noite inesquecível: para a cidade e para a cantora.
Ante da Marina, o palco foi da pernambucana Flaira Ferro e Simone Mazzer. Com a naturalidade de uma estrela que não se embriaga com a própria luz, Flaira é mesmo uma grande revelação. É dela mesma a melhor definição sobre sua migração da dança, exímia bailarina que é, para o canto: “Pra mim, as duas coisas são uma só. Cantar é dançar com a voz”. Suave e afirmativa, Flaira dançou muito. Até de ponta cabeça cantou. A banda que teve o luxo de Juliano Holanda na guitarra e a marcação da bateria de Rafa B. imprimiu uma sonoridade rocker ao show de Flaira.
Depois dela, o céu parecia se abrir em tempestade e o chão tremer a cada vez que a também atriz Simone Mazzer soltava a voz. Fez versões tão epicamente dimensionadas de Camisa Listrada, de Assis Valente, e Vaca Profana, de Caetano, parecerem todas as gravações anteriores parecerem apenas anteriores. De uma gravidade absurda sua versão para Auto das Bacantes, de Negro Léo e Ava Rocha. Com a naturalidade de quem puxa um guardanapo do bolso, Simone vai muito rapidamente do samba-canção ao hardcore. Sempre narrativamente performática (como na sua teatral versão da naturalmente teatral Não Recomendados, de Caio Prado), ela, contudo, não abre a boca sem evocar uma dramaticidade que, sim, faz a terra parecer estar tremendo sob nossos pés enquanto as artérias do corpo são todas acionadas pelos ouvidos.
SAMBA SOUL
Na Praça Mestre Dominguinhos, a multidão de quase 100 mil pessoas bailou sob sotaque carioca. Também curador do Palco Sunset do Rock in Rio, o cantor Zé Ricardo fez um show de levada soul e funk, com seu vocal cheio de maneirismos pops dos anos 80. Convidada para interagir com ele, Sandra de Sá declinou de última hora do convite do amigo – seus empresários, acreditando que estava sendo divulgado que a cantora faria um show solo, e não uma participação, criaram empecilhos de última hora e a participação foi cancelada. Perdeu Sandra, ganhou a pernambucana Edilza Soares que encheu com seu vozeirão soul a praça no dueto de Sarará Crioulo. Pra fechar a noite, a eterna garota swing sangue bom Fernanda Abreu fez um show deliciosamente previsível. Aliás, mais que deliciosamenteSe as novas canções não possuem a vibração das antecessoras, sua musicalidade cristalizada nos já distantes anos 90 prova que a garota da lata ainda tem fôlego para animar muito baile. Fernandinha queria fazer show e fez baile. Abrindo os trabalhos da noite, o incontrolável “curió de Setúbal”, soul man e outras cositas mais, o pernambucano Jr. Black.
BALANÇO DO FIG2017
Com um público de cerca de um milhão de pessoas nos dez dias de programação, e orçamento de R$ 6,5 milhões aportados pelo Governo do Estado de Pernambuco, esta 27ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns teve mais de 500 atrações, sendo 200 delas apenas de shows distribuídos, além do grande Palco da Praça Mestre Dominguinhos, em pólos divididos de acordo com as especificidades sonoras de cada palco: pop, forró, instrumental. Este ano, indicando como parcerias só podem enriquecer o festival que é referência nacional, o trabalho em conjunto com o Conservatório Pernambucano de Música transformou a Igreja de Santo Antônio, no centro de Garanhuns, numa catedral da grande música de câmara. Em apresentações como a da soprano Cida Moreira ao piano ou do projeto em que músicos como Toninho Horta e Mauro Senise revisitaram a obra de Luiz Eça, a matriz ficou absolutamente cheia de gente entusiasmada. Na metade final do festival, a igreja foi ocupada pelo projeto Virtuosi: por pouco, as paredes do prédio religioso não derreteram de tanta emoção durante o recital de árias com Edson Cordeiro com a orquestra jovem Virtuosi. Noutra vertente, o Parque Euclides Dourado recebeu uma Batalha de Hip Hops contemplando mais essa linguagem.
Ainda que receba algumas críticas da “turma dos camarotes” (comercializados, por cerca de R$ 10 mil, cada um, por uma empresa privada sob orientação da prefeitura), mais interessada nas atrações de maior popularidade midiática, esta edição não apenas mostra a maturidade do festival como uma coragem curatorial impressionante. Se o palco principal, claro, teve também as grandes estrelas para o deleite da multidão – e, óbvio, estamos também em festa – sobretudo os palcos menores, como o pop e o ousado Som na Rural, trouxe o que há de mais insurgente e revelador no cenário pop local e nacional – banda Marsa, Ava Rocha, Não Recomendados, para citar alguns exemplos. Elogiável também a iniciativa de transformar a festa em negócio. “Claro que se trata de festa, mas, sobretudo, de uma ação de política pública cultural. Então, temos que investir em formação de público, ampliação de linguagens e investir também em quem não tem tantas oportunidades no mercado, sem esquecer que a música pernambucana, como outras linguagens, é uma referência até mundial”, avaliou Márcia Souto, presidente da Fundarpe. Na Galeria Galpão, o teatro mais alternativo do Recife motivou um público tão entusiasmado como o da música, com peças incorrendo sobretudo numas das temáticas mais recorrentes do contemporâneo: a perversidade do patriarcalismo e os novos padrões morais e sexuais.
Pela primeira vez, o FIG contou, sob a curadoria das produtoras Priscila Melo e Heloísa Aidar, com dois dias de uma plataforma em que artistas, distribuidores e produtores puderam trocar experiências e informações preciosas sobre os novos caminhos do mercado de música no Brasil. A plataforma contou com a participação, do Rec Beat ao Rock in Rio, com produtores dos principais festivais de música do País. “Bacana que, além de tudo, houve também já a sinalização de se contratar algumas atrações do FIG para outros festivais”, diz Heloísa. “Esse é um festival que sempre traz repercussões, em mídia ou outros festivais”, dizia, contente, Fábio Trummer, depois do show de sua banda Eddie.
JC Online