Especial para o blog
O Partido Comunista Brasileiro iniciou sua trajetória em 25 de março de 1922 e desde o seu nascimento precisou superar grandes desafios. O primeiro deles foi compor uma direção nacional, então denominada Comissão Central Executiva (CCE), a partir dos diversos núcleos comunistas que lhe deram origem. Devemos levar em conta que esses núcleos estavam espalhados num país de dimensões continentais, com uma rede de transportes precária. Ao se unirem para fundar o PCB, eles tinham, portanto, muito pouca experiência de militância em comum. Os contatos, na maioria das vezes, eram feitos via correspondência ou envio de panfletos e jornais.
Decorridos pouco mais de três meses da sua fundação, eclodiu a revolta tenentista de 05 de julho de 1922, que culminaria no episódio dos “Dezoito do Forte”. O governo do presidente Epitácio Pessoa decretou o estado de sítio e conseguiu controlar a revolta. Em seguida desencadeia severa repressão contra todos os focos de oposição, civil e militar, atingindo de cheio o movimento operário e o PCB. O partido foi jogado na ilegalidade, sua sede central foi revirada pela polícia, dirigentes e militantes foram presos e espancados.
Diante dessas primeiras dificuldades, ninguém menos do que Abílio de Nequete, o quadro político eleito no congresso de fundação para exercer o principal cargo na direção do partido, secretário-geral da CCE, demonstrou não estar à altura das responsabilidades que assumiu. Logo após ser solto pela polícia com a recomendação de sumir do Rio de Janeiro, muito abalado, ele renuncia e retorna ao Rio Grande do Sul.
As baixas do núcleo dirigente nesses primeiros tempos continuaram. O comerciário Antonio Gomes Cruz Júnior, tesoureiro da CCE, foi expulso por abandono do cargo. Pouco tempo depois, ocorre um problema bem mais grave, por envolver as relações do partido com a Internacional Comunista (IC), o secretário internacional e delegado ao quarto congresso da IC, Antônio Bernardo Canellas, foi afastado de suas funções na CCE por suas atitudes e posicionamentos no decorrer do congresso. Elas foram consideradas impertinentes e equivocadas pela maioria da direção do partido. Bastante contrariado, Canellas fez exigências e críticas públicas aos dirigentes do PCB e, devido a isso, acabaria sendo expulso do partido em 30 de novembro de 1923, por decisão unânime da CCE.
Os percalços iniciais não esmoreceram a militância comunista, recomposta a sua direção e embalados pelo prestígio crescente da primeira revolução socialista vitoriosa, nesse momento a Rússia Soviética vencia a guerra civil e a intervenção imperialista, o PCB procurou cada vez mais se associar a esse triunfo: “A revolução vitoriosa na Rússia não quer dizer: vitória de uma revolução “nacional”, mas sim, vitória, no setor russo, da revolução proletária internacional. E só em seu sentido internacional pode ser a revolução russa devidamente e amplamente compreendida. Seus aspectos e características nacionais são por natureza secundários. Seu internacionalismo, porém, é básico, fundamental, decisivo. Daí, que seu triunfo completo e definitivo esteja condicionado ao triunfo mundial da revolução proletária.”[1]. O partido postulava, assim, a condição de representante no Brasil do internacionalismo proletário e da revolução soviética.
Demarcado seu campo político, o partido também não descuidava de reforçar sua intervenção na luta de classes. A greve dos gráficos de São Paulo deflagrada em 07 de fevereiro de 1923 foi comandada por João da Costa Pimenta, líder comunista e dirigente da UTG (União dos Trabalhadores Gráficos). Essa greve contou com grande adesão e combatividade por parte da categoria, se espalhou rapidamente pela cidade, afetando os principais estabelecimentos. Nem mesmo a prisão de Pimenta durante a greve, arrefeceu os ânimos dos operários. Ele acabou libertado após uma campanha em seu favor e ainda pode participar da conclusão vitoriosa do movimento.
Ainda nesse ano de 1923, apesar do estado de sítio em vigor, os comunistas decidem comemorar o 1º de maio na capital federal, Octavio Brandão foi encarregado da tarefa, articulou com sindicatos de várias tendências uma manifestação unitária na Praça Mauá. O comitê organizador obteve autorização da polícia e a manifestação ocorreu sem incidentes. Segundo nos relata Brandão: “A 1º de Maio de 1923, os trabalhadores em massa compareceram ao comício da Praça Mauá, sob as palavras de ordens da luta de classes e do internacionalismo proletário. O comício aprovou moção especial pela unificação sindical, pela unidade de ação da classe operária, contra o fascismo e as guerras imperialistas.”[2].
Foram esses alguns dos desafios e sucessos inscritos nos primórdios da trajetória do PCB. Ao longo dos seus 95 anos de existência, muitos outros, inclusive de maiores magnitudes, se configuraram. Em nosso entendimento, um dos fios de continuidade que podem explicar a sua longevidade e atualidade, se expressa nesta sintética definição publicada logo após o seu congresso fundacional: “ O Partido Comunista, por sua mesma composição social, por sua doutrina e por sua tática de combate, é um partido de ação das massas, cujo programa tem por escopo único a emancipação integral dos trabalhadores. Sua é a bandeira em que se inscreve a divisa revolucionária da classe obreira, expressa por Karl Marx, o imortal fundador do comunismo: ‘a emancipação dos trabalhadores será obra dos mesmos trabalhadores’.”[3]
Ney Nunes é membro do Comitê Central do PCB.
Apoio: PCB (Partido Comunista Brasileiro) de Garanhuns/PE
Ilustração: PCB/RS