Vou resgatar uma entrevista de sete anos atrás, quando o escritor e historiador Cláudio Gonçalves nos brindava com entrevistas culturais. Chamamos o espaço de FALAÊ! No dia 08 de maio de 2010, Cláudio conversava com Luzinete Laporte, falecida na noite desta segunda-feira (18/12/2017).
Em sua homenagem por tudo que representa para as letras, republicamos este encontro que agora fica para os anais da história!
O FALAÊ - O nosso BATE BAPO CULTURAL deste sábado teve um encontro emocionante com uma das mais talentosas cronistas e escritora da Suíça Pernambuca, Luzinette Laporte. Pernambucana de Catende, mas garanhuense de coração, Luzinette Laporte, tem uma história de vida dedicada à educação e a literatura. Autora de cinco livros, com grande repercussão no Sudeste e no Sul do País, Luzinette continua escrevendo crônicas para a Bluenet e esporadicamente em alguns jornais da cidade. Luzinette Laporte é um símbolo da nossa cultura literária, que sem as suas crônicas faltariam o glamour e principalmente o registro de paisagens e personagens que se perpetuaram na memória de Garanhuns.
FALAÊ- Quando a literatura passou a fazer parte da vida de Luzinette Laporte?
Luzinette Laporte – Os meus familiares sempre gostaram da leitura, os meus pais e avós tinham vários livros em casa e eu adorava ouvir e ler histórias, eu tinha fome e sede de leitura, não tinha preferências por autores, minha avó era descendente de franceses e na minha casa havia vários livros, revistas e jornais em francês, o que foi um estímulo para eu aprender a língua daquela nação. E toda essa vontade de ler me fez conhecer várias culturas e autores. Em Catende havia uma biblioteca com vários volumes e era o meu lugar preferido. Resumindo, a literatura começou a fazer parte da minha vida desde criança pelo estímulo dos meus pais.
FALAÊ – Como foi o seu início na literatura?
Luzinette Laporte – Além de gostar de ler, desde criança eu gostava de escrever e a oportunidade surgiu quando fui convidada para escrever no jornal do Colégio Santa Sofia, depois já atuando como professora escrevi para o jornal da escola das irmãs Mercedárias, onde atuava como professora e acabei sendo convidada para escrever para o Jornal O Monitor, o qual passei longos anos escrevendo minhas crônicas. Acredito que eu e meu saudoso amigo Ulisses Pinto, fomos os colunistas que mais escreveram para aquele periódico.
FALAÊ – Como a senhora pode descrever a emoção de ver sua primeira obra A Menina que Falava com as Coisas sendo publicada?
Luzinette Laporte – Indescritível, é uma alegria ao ver que um sonho foi realizado, não é um sentimento de vaidade, de atrair a admiração ou receber homenagens, mas uma alegria poder dar vida aos personagens e ver as crianças, jovens e adultos lendo e quem sabe se inspirando nas histórias para mais tarde também estarem escrevendo suas próprias histórias.
FALAÊ – São cinco livros publicados dois deles pela editora Vozes, A Menina que Falava com as Coisas e Um Amor de Mulher, com grande repercussão no Sudeste e no Sul do País, Os Caminhos de Isabel, O Homem com Girassóis no Olhar que recebeu o prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras e o mais recente Limiar. Luzinette Laporte ainda tem metas a alcançar?
Luzinette Laporte – Todos nós que escrevemos temos sempre metas, quem ama e vive a literatura, dorme e acorda com novas histórias, as vezes não planejamos uma nova obra, mas a inspiração de repente surge e essa passa a ser a nova meta a alcançar .
FALAÊ – Crônicas, romances, poesias, fábulas. Qual o gênero literário que a senhora mais gosta mais de escrever?
Luzinette Laporte – Me sinto muito a vontade escrevendo crônicas, os outros gêneros escrevo, os narrativos também fazem parte da minha obra, mas é um trabalho que envolve bastante o emocional, ocorrendo as vezes o envolvimento emocional e psicológico do autor com o personagem.
FALAÊ - Pode nos falar um pouco do seu recente livro Limar?
Luzinette Laporte – O livro Limiar relata a história de uma mulher com uma grave doença, que anseia desesperadamente pela morte. Em seu estado de conflito e depressão, já não tem mais vontade e forças para viver, está no limiar do suicídio ou da eutanásia, num profundo abalo da sua fé e da sua relação com Deus.
FALAÊ – Como à senhora avalia a Literatura em Garanhuns?
Luzinette Laporte – Bastante promissora. Tenho lido os trabalhos escritos por nossos escritores e suas obras são criativas e enriquecedoras, cada um com suas peculiaridades, mas que me agrada muito os estilos e a própria leitura. Não quero aqui citar nomes, para que não cometa a injustiça de esquecer alguns desses escritores.
FALAÊ – Alguns jornalistas e leitores comparam seus textos literários com o estilo introspectivo e existencial de Clarice Lispector. A semelhança estaria no estilo literário ou apenas em ser poliglota e cronista?
Luzinette Laporte – Muitos já fizeram essa comparação (Risos), tenho admiração pelas obras e vida de Clarisse Lispector, de família judia que veio para Maceió fugindo da perseguição dos nazistas, já li os seus livros e biografia, mas o meu estilo é empírico, escrevo desde criança, e apesar de ter lido vários autores e admirar seus estilos, não escrevia dentro de uma estrutura textual, então não tinha como escrever no estilo desses autores. Acho que a semelhança estar em falar outros idiomas, escrever crônicas e o amor a literatura.
FALAÊ – Educadora , Ex-Secretaria de Educação do Município de Garanhuns e Ex-Diretora da antiga DERE (Departamento Regional de Educação. Como deveria ser feito um trabalho de incentivo a leitura não apenas no nosso município, mas no Agreste Meridional?
Luzinette Laporte- A literatura tem que ser plantada na infância, essa é minha grande preocupação, tive um lar onde a leitura fazia parte da rotina da família, os pais devem fazer esse contato das crianças com os livros,. Tenho conhecimento do trabalho feito nesse sentido pelo Sesc e pela Biblioteca Ler é Preciso, instalada no Centro Cultural, já é um pedagogicamente edificante, não tem muitas informações sobre esse trabalho nos demais municípios, mas acredito que realizam também esse trabalho. Eu apenas sugeria a criação dos centros de leitura nos bairros, o que viria a trazer mais cultura, conhecimento e entretenimento ao nosso povo.
FALAÊ- Em breve teremos uma nova publicação de Luzinette Laporte?
Luzinette Laporte – Pretendo lançar um livro reunindo as crônicas que escrevi nos jornais da cidade e reeditar alguns livros.
FALAÊ- Uma mensagem de Luzinette Laporte para os seus leitores , amigos e admiradores?
Luzinette Laporte – Leiam sempre. Leiam tudo que há na nossa literatura Os livros são mundos a ser explorados e a maiores riquezas que você vai encontrar é o conhecimento e a cultura que vai lhe tornar um ser sensível e melhor.
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Comentário do entrevistador: Luzinette Laporte vai além do seu talento, já tive a oportunidade de visitá-la em sua casa em outras ocasiões, mas o que me impressiona é a sua simplicidade e amabilidade em receber os amigos e admiradores. Luzinette é como os seus livros, a gente sempre quer ler infinitas vezes. Obrigado por esse momento inesquecível. (Claudio Gonçalves de Lima)
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Publicado originalmente em 08/05/2010.