terça-feira, 5 de abril de 2022

Ivan Rodrigues deixa uma bela história de amor à família, a Garanhuns, ao estado e às causas populares



Escrevi muito artigos sobre Dr. Ivan Rodrigues nos últimos anos, além de publicar também suas crônicas, a grande maioria até então inéditas, e que mostram seu olhar peculiar sobre Garanhuns, o estado e a política.

Era um observador do mundo, e com sua larga experiência socialista tinha sempre um caminho para indicar. Era um grande orador e escrevia como um mestre. Apaixonado pela família e pelas causas populares, não teria outro caminho a trilhar que não fosse ao lado de Arraes, depois Eduardo e Paulo. Foi presidente da Cilpe, conselheiro da ARPE e assessor especial destes três governadores. Na política, foi vereador de Garanhuns, naquela que consideramos (por reconhecimento ou romantismo) a maior legislatura de todos os tempos. Depois, candidato a prefeito, foi a voz em tempos difíceis que bradava pela redemocratização do país, ao lado de Cristina Tavares, Jarbas, Marcos Freire, e outros, inclusive no lombo do caminhão do meu avô, João Gonçalves, em Garanhuns, preparando o campo para a volta de Arraes do exílio.

Ivan foi por décadas um deputado sem mandato. Era a referência de Garanhuns na capital, e por sua presença nos governos, e a consideração com a qual sempre foi ouvido, emprestou seus cargos para as conquistas de nosso município e região. Visitei Ivan algumas vezes, inclusive no Palácio, cuja foto ilustra este post homenagem.

Nunca se escondeu, sua opinião foi sempre presente. Certamente parte feliz com a altivez do socialismo em Pernambuco. Ivan foi testemunha e personagem da história. Estava no Palácio quando Arraes foi deposto. Mas estava lá quando ele voltou nos braços do povo. Ivan viu Eduardo ser um grande deputado, ministro e governador, e não fosse a tragédia, seria presidente. Ivan viu o surgimento de João Campos. Mas o seu tempo já não seria mais suficiente para acompanhar a história daqui para frente.

Contei aqui no blog muitas destas histórias. Conversávamos com certa frequência. Estávamos agendando uma entrevista em vídeo, não deu tempo. Seria há cerca de três semanas, ele pediu para adiar, quando eu disse que seria gravada, aí ele pensou em organizar melhor. Deus chamou antes.

Todos viam como Ivan era família. Aquele patriarca com filhos, netos e bisnetos. Gostava de contar suas histórias. Aliás, a dedicação e paixão por Dona Dulce era exemplar. 

Contamos boas histórias aqui.

Contamos sobre como Ivan tornou a casa da fonte luminosa um patrimônio da família que não poderá ser vendido, para garantir a história. Registramos suas participações na Comissão da Verdade e no Instituto Miguel Arraes. Contamos sua luta contra a entrada de candidatos impostos no município. Sua luta pela Fameg. Seus aniversários, 13 de fevereiro, mesmo dia de Ivo Amaral, antigo adversário político que se transformou em amizade.

Tive a honra de contar com o apoio de Ivan em muito do que fiz na comunicação e na política. 

Ivan fez uma bela homenagem ao meu avô em uma reunião do PSB em Garanhuns, no Palace Hotel, reconhecendo a importância do velho João naqueles dias que ninguém queria nem conversar com quem era do MDB. Meu avô morreu aos 94 anos, de infecção, em um hospital, assim como Ivan.

Perdemos um grande amigo, a quem eu chegava pedindo a benção. Ele abraçava, perguntava por Sonita, pelos meus filhos, se estava tudo bem com a família. Sorriso fácil, abraço caloroso, a ternura em pessoa.

Ivan era baixinho, mas era também uma fortaleza. Seu segredo era almoçar loco cedo da manhã. Gostava de sentar na varanda, ficar olhando a Fonte Luminosa enquanto proseava. Muitas vezes com Emília, Marlos, Dr. Ivaldo, seus filhos e netos ou qualquer pessoa que passava na sua calçada e via que ele estava em casa. Já perguntavam: Ivan está aí? Ele vinha de Recife só para isto. Depois que dona Dulce se foi, não dormia mais em sua casa em Garanhuns, mas nunca deixou de vir. Com muitos amigos, e ávido por notícias, estava sempre bem informado.

Nem sei por que escrevi tanto agora, contando estas pequenas histórias, certamente para dizer que ele fará muita falta, quer seja para sua família, para a política e a gestão que sempre precisa do bom senso e experiência, e para amigos, como eu, que estão sentido esta partida.

Ivan já sabia que seu caminho era o jazigo da família de Zé Batatinha, seu pai, no cemitério São Miguel. Que Deus receba Ivan ao lado de dona Dulce, Zé Ivan, Dr. Ivaldo e outros familiares que estão muito felizes com este reencontro. Certamente Arraes e Eduardo também já estão com o velho amigo.

Nesta quarta-feira, a gente se despede do corpo dele, na Câmara de Vereadores. 

Ivan, obrigado!

RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

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