Tivemos nas duas últimas gestões em Garanhuns o prefeito Izaías Régis com estilo centralizador, não muito adepto a reuniões para planejamentos e monitoramentos, exerceu a função de forma empírica. É fato que demonstra amor por Garanhuns, mas não é o único apaixonado por esta cidade.
Com seu estilo, atraiu para si todas as qualidades e defeitos de sua gestão. Nenhum secretário ou vereador aliado conseguiu aparecer e as respostas nas urnas para seus candidatos recentes foram pífias, não consegue repassar votos. Ou seja, seu estilo personalista só beneficia ele próprio. Em um universo de cerca de 90 mil eleitores, deu pouco mais de cinco mil votos a seu deputado federal (Sílvio Costa) e menos de quatro mil a seu estadual, Álvaro Porto, que desapontado parece ter se afastado do prefeito.
Izaías trabalhou também para impedir que novas lideranças políticas surgissem em Garanhuns. Na campanha anterior de deputado, apoiou Zaqueu com único intuito de mostrar sua força no município, mas sem o mínimo desejo de que ele fosse eleito. Não arregimentou apoios na região que tornassem possível aquele projeto. Na campanha de 2018 apoiou candidatos de fora para não dar asas aos de Garanhuns. Deu errado. Para vereador, tem também seus escolhidos e faz tudo para elegê-los, evitando o surgimento de verdadeiras lideranças populares.
No seu centralismo político sempre atacou seus adversários políticos e setores da mídia que lhe criticassem. Seu poder centralizador e vaidade política alimentam sua vontade de ser reconhecido como maior prefeito da história, e para isto atacou até os prefeitos que o antecederam, e quis a ironia do destino de ter que aceitar a pré-candidatura de Silvino Duarte, já que não conseguiu decolar a candidatura de Haroldo Vicente, seu vice, e que ele sempre acreditou que o faria prefeito com facilidade.
Em sua vontade de tomar conta politicamente de Garanhuns, não poupou esforços para eleger os 13 vereadores, provando que toda unanimidade é burra, pois pouco tempo se manteve. Barco lotado afunda. Mas queria provar sua força.
Izaías usou todos os meios para atacar o governo estadual, levando a população a rejeitar o governador. O método era simples. Em eventos e encontros, agradecia os investimentos e se dizia amigo. Mas para a mídia, discursos e rodas de conversa sempre atacou, passando sempre a mensagem que Paulo Câmara odeia Garanhuns. Izaías chegava a ir à Recife dar entrevistas a emissoras de rádio para levar este mote à mídia. Como era quase uma unanimidade em Garanhuns, o discurso pegou. Não há uma só frase do governador contra Izaías, e pelos investimentos do estado em Garanhuns, esta visão do prefeito não se sustenta, mas a população assimilou este discurso raivoso. Vale lembrar que foi com apoio de Eduardo Campos e Lula que Izaías se elegeu prefeito. Hoje bate nos socialistas e apoiou Bolsonaro para presidente.
Para manter este discurso contra Paulo Câmara, Izaías criou uma barreira e um distanciamento. Não manteve o diálogo institucional que se espera entre gestores, independente de suas diferenças políticas. Ao longo dos anos, esta situação prejudicou Garanhuns. O clima bélico nunca é bom.
Para manter a sensação de bom gestor, investiu nas festas, e isto ele faz bem. São momentos onde todos estão felizes, recebemos turistas, grandes artistas, movimenta a cidade, embeleza... É a Garanhuns de sonhos que todos querem. Mas a periferia estava recebendo asfalto de péssima qualidade, os PSFs com problemas, obras paradas espalhadas pela cidade (escolas, creches, CEAGA, etc). Problemas com funcionalismo municipal, agentes de saúde, guardas, professores, administrativos...
E chegou a pandemia para mostrar que a gestão não se sustentava no social. A saúde municipal nunca foi prioridade.
Mas ao longo dos anos fomos vendo um prefeito forte, com discurso contundente contra o governador, que realizou grandes festas, mas deixou um vazio de ações sociais que estão sendo cobradas agora pela população.
Izaías se elegeu prometendo o contrário do seu fim de gestão. Iria incentivar o surgimento de novas lideranças políticas, iria trabalhar com a participação da sociedade... E o que vemos é o retorno ao passado, o cerseamento político e a centralização. Vai deixar a prefeitura e se eleger deputado estadual. E seu candidato é Silvino. Ou seja, a Garanhuns do futuro de Izaías é voltar 20 anos no tempo.
Ninguém segura a primavera. Garanhuns cresce (historicamente) quando temos participação de diversos atores políticos trabalhando pela cidade. A eleição de Sivaldo Albino possibilitou abrirmos um bom canal de diálogo com o governo do estado, em apenas um ano já vemos um novo espaço de Garanhuns em Pernambuco, sem brigas. Fernando Rodolfo tem se movimentado em Brasília, devemos apoiá-lo. Garanhuns vai encorpando diversas lideranças e o momento é propício a novas conquistas. Temos na memória Cristina, José Tinoco, Ivo e José Cardoso, todos eles deputados, quer fosse em Brasília ou Recife, brigando por Garanhuns. Queremos isto de novo, queremos a pluralidade e não o centralizamos que persegue e impede vozes contrárias.
Acho que Izaías poderia entender este novo momento, até ajudar esta Garanhuns que pede passagem e não tentar novamente centralizar tudo, pois o que aparentemente parece ser positivo na prática impede o desenvolvimento político e o trabalho daqueles que têm muito a contribuir com nosso município.