Era dia de natal e a banda que se apresentava perguntava se tinha muito corno ou rapariga na praça. Quem fosse deveria levantar a mão... E repetia... Garanhuns tá assim de quenga, tá assim de quenga, tá assim de quenga...
Não preciso vir com aquele papo piegas que no Natal se comemora o nascimento do Senhor e coisa e tal... Isso todo mundo já sabe. Somente se descobriu que não é toda festa que cabe qualquer tipo de música.
Tem música que toca o ano todo, em todo canto, no rádio, na TV, na internet, no satélite, nas festas, em todo lugar onde tiver um alto falante, principalmente nas malas dos carrões esportivos com sons de trios elétricos. E tome volume!!!
E quais são essas músicas? Axé, Forró de Banda, pagode e o pseudo sertanejo universitário.
Aí a gente conseguiu criar um evento onde a mídia não tem impõe valores e normas, onde as pessoas se deslumbram com o som de uma sanfona, um acorde de um violão e uma peça de teatro. Com gente na rua fazendo arte! Onde se valoriza a cultura mais que o nome do artista!
Um evento diferente, único, explêndido, espetacular! Ninguém tem o que a gente tem!!
Mas as pessoas ainda querem o que a mídia nos impõe. O sucesso gratuito e descartável do rádio. Uma grande lavagem cerebral!
Poxa, já não basta essa música fabricada em laboratório ter tomado o espaço das nossas vaquejadas e festas tradicionais? Já não é o bastante a gente ter que ouvir o ano todo no rádio e em todos os lugares, e vê-los exclusivamente nas casas de shows trazidos pelos produtores culturais comerciais???
Devemos então entregar nosso maior evento???
Passamos todo o ano sem receber mais em Garanhuns os bons nomes da música nacional. Bandas do cenário pop e artistas da MPB somente no Festival de Inverno.
Não! Deixo claro aqui meu protesto. Não quero, não aceito, não permito! No Festival de Inverno não. Que ele sirva de última fronteira da nossa cultura. A nossa retaguarda a ser protegida. Já não temos o são joão com as músicas tradicionais. O carnaval já está contaminado de pagodes. Os grupos comerciais pseudo culturais já tomaram conta de quase tudo. Resta-nos o festival.
A indústria da música e seus mega-shows é poderosa! Se abrirmos mão, teremos em poucos anos um FIG totalmente desfigurado com pagodes e axés, numa mistura de micareta com espetáculo pornográfico das bandas de forró, dominado pelos empresários dessas verdadeiras empresas e fábricas de fazer festa!
O Festival não foi criado para isso! E para essas bandas existem muitos outros eventos, públicos e particulares. Milhares deles! Nossas prefeituras da região estão contaminadas com este tipo de evento!
E esclareço que também não concordo com algumas iniciativas da Fundarpe que levou hip hop para a a periferia da cidade no caminhão da cultura e que tem metido maracatu através das suas oficinas em nossas comunidades negras, que tradicionalmente eram de côco. Tenho uma série de questionamentos! Infelizmente não tem quem escute!
Mas a discussão tem que ficar nesse nível, não podemos popularizar o Festival de Inverno para trazer os artistas da moda e os sucessos de momento!!!
Acaba virando só festa! E o Festival é muito mais que isso!
Que o Festival de Inverno sirva para entreter e ensinar ao mesmo tempo!
Não vejo caboclinho, ciranda, côco e maracatu no carnaval da Bahia. Não lembro de ter visto um nome pernambucano puxando um trio elétrico por lá, nem recebendo o título de cidadão baiano. Assim como não vejo frevo no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Não é discriminação, é respeito próprio!
Não é discriminação, é respeito próprio!
Portanto, é natural, cada um na sua. O turista não quer ver axé em Pernambuco! Assim, ele iria para a Bahia, pois eles são melhores nisso!
O baiano é bairrista por natureza!
O baiano é bairrista por natureza!
As pessoas se deslocam pra cá e querem descobrir nossa cultura.
E vou além. O Festival de Inverno não é feito para nossa gente curtir, é feito para nossa gente trabalhar e ganhar dinheiro. É claro que curtimos e aproveitamos. Mas o principal objetivo é movimentar economicamente a região através do evento turístico.
Não vejo nas bandas de forró, no axé caro, personalizado e descartável, e no sertanejo romântico o chamariz de um turista potencializado pelo incremento cultural.
Desculpem-me. Mas penso assim, a magia do Festival de Inverno é esta, um evento que agrega expressões culturais, mas onde o povo é mais importante que o artista no palco!
A gente já passa o ano inteiro sendo massacrado, vendo e ouvindo isto na TV, no rádio e em todo canto, numa overdose midiática. Deixem-nos ao menos, uma fonte de cultura.
E outra coisa. A força do Axé, das bandas de forró e do atual sertanejo criado em laboratório é imensa, e se um dia chegar a ter vez no Festival de Inverno, a sua exposição é tão grande que coloca em risco todo o projeto fomentado e vivenciado há 20 anos.
No dia do festival que tiver Ivete, Claudia ou Chiclete, ninguem falará de mais nada! Engolirão o próprio Festival de Inverno! E chegarão aqui chamando Garanhuns de Caruaru! Sem nenhuma identidade com o município! Os nomes são apenas exemplos, pois imagina se vem Parangolé e outros grupos dessa onda!
Acho, sinceramente, que acabamos de viver um grande festival, com grandes atrações em todos os polos. Tulipa Ruiz e Tribo de Jah no Palco Pop. João Neto e Quinteto Violado no Palco Instrumental. Denise Stoklos no Centro Cultural. Selma do Côco no palco da cultura popular. Músicos maravilhosos na Igreja, Maciel Melo no forró. Caminhão da Cultura nos bairros. Festival da Palavra. Sesc. Casarão. etc, etc, etc... Todos os polos lotados!
Temos problemas de comunicação, divulgação, gerenciamento, ... Mas, sinceramente, de programação, não! Tivemos uma excelente programação este ano. Inclusive com expansão dos polos. Talvez com uma falha no último dia!
No palco da Guadalajara tivemos mais de uma dezena de nomes do primeiro time da música nacional. Precisamos mesmo popularizar nossa programação?
Não, minha gente! Por favor. Já temos axé, música sertaneja e forró de banda o ano todo. Deixem que todos escutem pelo menos durante dez dias algo que nos remeta às tradições da nossa terra, e que nos ensine mais do que eu já sabemos. Curtir ídolos que não durem somente um verão ou dois CD´s.
Precisamos oferecer algo diferente a esta gente que só ouve o que a mídia impõe. E o FIG é a melhor alternativa! Daqui até julho do próximo ano já teremos axé, pagode, forró de banda e sertanejo universitário demais!!!! E bote demais nisso!!!
Macaco só come banana porque só dão banana a ele, - Ensinou certa vez o mestre Paulo Gervais.
Macaco só come banana porque só dão banana a ele, - Ensinou certa vez o mestre Paulo Gervais.
Querem axé? Ressuscitem a Garanheta, mas não façam do FIG um carnaval-fora-de-época.
Desculpem-me o desabafo!
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