Nem sempre as escolhas se dão pelo gosto, existem fatores considerados como a experiência e principalmente, o conhecimentos impresso e adquirido. Entre o novo e o antigo, muitos escolhem o novo pela descoberta, pode até não agradar, mas ao final houve o ganho da experiência. Ao se conhecer ambos, entra em cena o gosto, aí sim.
A questão do gosto se dá na escolha de produtos com a mesma qualidade, entre a maçã verde e a encarnada, por exemplo. Dá-se o nome de preferência.
Porém, há um histórico de estudo e dedicação em se construir diferentes formas da mesma coisa. Para se construir um vocabulário precisamos de anos de estudo e leitura. Para se construir o pensamento, o exercício constante do conhecimento e da análise. Soma-se a isto, o dom, que é imprevisível. E técnicas, que aprimoram o fazer, nascem junto com o conhecimento, e se juntas ao dom, tem-se a magnitude da dádiva divina.
Por isto, nem tudo é uma questão de gosto, é também conhecimento, de quem produz e quem consome.
Não se poderá comparar uma feijoada com um petit gateau, mas a Feijoada de Joana com a D. Sinhá, deliciosas. Mas eu prefiro a de Joana, pois ela coloca mais calabresa e deixa mais tempo o feijão de molho numa panela de barro.
Para todo segmento cultural haverá sempre seu paralelo comercial. Existe a fotografia artística e a que tiramos para documentos. Existe a escultura única de Abelardo da Hora e Brennand e a feita em produção em massa, de gesso, para se vender em lojas de decoração. Existe a poesia de quem procura a palavra exata para exprimir um sentimento, e a de rechear balas de confeito ou álbuns de fotografias para adolescentes. O que sempre vai diferenciar um e outro é o conhecimento.
Não confundam com a poesia popular. Esta tem o dom. Falo da poesia fútil e comercial de dois versos e rima fácil.
Com a música também é assim. Temos uma música brasileira que embora popular, é erudita na sua feitura, que busca a experiência e dizer coisas originais, com novos ritmos, entrelaçando notas e letras que cheiram a poesia, e outras feitas com o objetivo comercial de durar apenas uma temporada para vender shows, DVD´s e movimentar os meios de comunicação que dependem do business para obter lucros publicitários.
Devido à busca pelo amadurecimento e conhecimento estar diretamente ligada à Educação e Cultura, com baixos investimentos públicos na formação do consumidor, e por outro lado, o produto pseudocultural estar atrelado ao mundo da mídia, de fácil e ampla interação com o público, a mega exposição acaba gerando uma massa consumidora do produto descartável. Não que se esteja menosprezando, ele é até necessário enquanto alternativa, sendo uma opção para o consumidor desfrutar em seus momentos de lazer, como uma comédia romântica tipicamente americana, que se esquece dois dias depois de assistir. Atinge o objetivo da festa pela festa, pura e simplesmente.
Termos dois diamantes, lapidados, com o mesmo quilate, a escolha ficará objetivada em sua forma e aí vem realmente o gosto pessoal. O gosto também define a escolha do produto de menor qualidade, é bom que se frise. Mas não se deve comparar o diamante com uma bijouteria.
Mas em produtos de qualidades diferentes, feitos com produtos especiais, como um perfume francês e um cabrochá, é claro que o item conhecimento se sobrepõe, pois estamos falando de requinte na elaboração. Uma Ferrari e um Chevette são automóveis, mas feitos com peças diferentes, proporcionam resultados diferentes, embora no fundo tenham o mesmo objetivo da locomoção.
Repito, com a música também é assim. Teremos sempre a mais elaborada, em que os alquimistas feito Djavan e João Bosco procuram a nova melodia, a palavra exata e o acorde perfeito, elaborando pequenas obras-primas a cada faixa, e as feitas para durar um verão, com sons que caiam no domínio popular, com tendências onomatopéicas e amparadas pela grande indústria midiática brasileira, para que se tornem mega produtos que gerem cifras extraordinárias, e que a cada ciclo, renovam-se as caras, as bocas, as pernas e as bundas para começar tudo de novo.
O que é feito com mais cuidado, aprimoramento, dom e técnica, como as músicas de Luiz Gonzaga ou Vinícius de Morais tendem a perpetuar, encontrar sempre um consumidor que tenha o conhecimento adquirido para interpretar aquele produto. Pode ser um samba de Noel Rosa, uma poesia de Drummond, um quadro de Van Gogh, uma peça de Shakespeare, um filme de Chaplin, uma escultura de Aleijadinho, etc.
Na música também é assim. Existirão sempre os produtos mais elaborados e o descartáveis, que feito nas fábricas de produção em massa, tendem a ter mais consumidores, mas facilmente são quebrados e trocados, ou se perdem em pouco tempo junto com o modismo da estação.
Entretanto, registre-se dizer, que ambos podem ter convivência harmoniosa, desde que se destacando suas diferenças, e guardando-se os devidos espaços para ambos, sem que entrem em conflito, mas que os investimentos culturais sejam revertidos ao que de fato acabam gerando mais conhecimento, através da educação plena e da cultura, que não são a mesma coisa, mas passeiam de mãos dadas.
Nem sempre é uma questão de gosto, mas também de conhecimento.
Bem, acho que é isso aí.