Uma criança carente quer um presente e não tem dinheiro para comprar. Na frente da loja, uma transeunte vê o dono da loja colocar o menino pra fora. Incomodada com a situação, e tomada pelo sentimento da compaixão, entra na loja para dar aquele presente à criança, mas o dono da loja não quer vender. Criado o impasse, somente com a polícia o negócio foi feito. A mulher levou o caso para as redes sociais, onde tudo acaba hoje em dia. Vando da Travessia foi massacrado.
Mas havia ainda seu lado para ser contado.
Vando explicou que aquele garoto passa o dia na rua e faz esse tipo de cena para ganhar brinquedos, geralmente conquistando a simpatia das pessoas que passam. E segundo o empresário, não sabe o que ele faz com os presentes, pois logo retorna para conseguir mais. No outro dia, diante da ampla repercussão negativa, e provavelmente preocupado com o movimento em sua loja, Vando gravou um video explicando esta situação, e conseguiu até outro vídeo da mãe do menino dizendo que o empresário estava certo, que as pessoas podiam chamar até a polícia quando virem seu filho na rua fazendo isso. Deu pena dela, meio que fora de si, faz um apelo à sociedade por ajuda.
Triste final para uma história infeliz. Resultado da falência da atenção social àquela criança. A mãe chega a dizer que quem quiser ajudar, ajude ela, pois é quem trabalha muito para sustentar os filhos, e não está sendo fácil.
A mulher que se sensibilizou com a criança e deu o presente, está certa. A maioria faria a mesma coisa, faltou somente o cuidado de entender a situação como um todo para depois externar nas redes sociais, que são capazes de destruir reputações, comércios, pessoas... Mas entendo seu lado.
Vando poderia ter se expressado melhor durante o incidente, não deixado dúvidas. Ele sabia da situação da criança, mas a mulher, não.
Retrato do atual momento político-administrativo nacional, que tem afastado as pessoas dos programas sociais. O próprio Vando chegou a dizer que tem aumentado a quantidade de crianças na rua, certamente devido o Bolsa-Família estar sendo cortado pelo governo Bolsonaro. O programa exige a frequência escolar para a família receber o valor. E anotem aí, vai aumentar a quantidade de miseráveis pedindo esmolas nas calçadas e portas das casas, pois o INSS está com fila enorme para conceder aposentadorias e benefícios, e os valores a serem pagos vão diminuir drasticamente, jogando as pessoas nas calçadas novamente, como foi há um tempo atrás.
No caso em questão há ainda a se debater as obrigações de CREAS (assistência social do município) e Conselho Tutelar. E ainda a falta de programas sociais na periferia como foi o antigo Prefeitura Presente e até a falta de creches, que foram prometidas e nunca entregues a estas pessoas mais necessitadas. Escolas de ensino fundamental com horário integral são o futuro necessário.
Este caso em questão, pode ser até um problema regular para CREAS e Conselho Tutelar, como tantos outros, mas pela propagação nas redes sociais, merece um cuidado e uma resposta rápida e eficiente, pois alcançaram milhares de pessoas.
Mas vamos ficando por aqui, pois a ideia é mesmo mostrar que o incidente tem mais de tragédia social dos novos tempos que um problema comercial de um empresário que não quis vender um brinquedo a uma criança. Na verdade, Vando foi a ponta de um problema que tem muitos envolvidos.
E finalizando, aquela família toda, mãe e filhos, precisa do apoio social, pois quando uma mãe quer colocar um filho de 10 anos nas mãos da polícia, mostra que o ambiente está degradado.
Esta criança não é caso de polícia. Falta creche e escola em tempo integral.
Acho que o CREAS, prefeitura e Conselho Tutelar deveriam se posicionar sobre o assunto, assim como nossos representantes políticos devem cobrar eficiência dos programas federais que atendam esta parcela da população.