O presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil “está quebrado” e que ele não consegue “fazer nada”. A declaração foi dada a um grupo de apoiadores na saída do Palácio da Alvorada e contrasta com o discurso da equipe econômica, que vem pregando a recuperação do país.
Bolsonaro afirmou que não consegue “mexer na tabela do Imposto de Renda”, uma de suas promessas de campanha quando se elegeu à Presidência em 2018. Sua intenção era elevar a taxa de isenção, hoje em R$ 1.903,98, para R$ 5 mil. A proposta não foi concretizada.
Aos adeptos, o presidente atribuiu responsabilidade à pandemia de Covid-19 e à mídia, que teria, em suas palavras “potencializado” o coronavírus. Nesta terça-feira, Bolsonaro voltou ao trabalho depois de 17 dias sem compromissos oficiais, período em que fez viagens ao litoral de Santa Catarina e de São Paulo.
O que dizem os especialistas: “Não dá para dizer que o Brasil está quebrado”, afirma Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda: “O país vive uma situação de crise fiscal grave, que pode levar à insustentabilidade da dívida pública. E tem uma situação confortável nas contas externas, que, no passado, já foram foco de crise e instabilidade’”. Veja também as opiniões de Armando Castelar, do Ibre/FGV; de José Márcio Camargo, da Genial Investimentos, de Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e de Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências.
Análise: ao se deparar com a impossibilidade de cumprir o prometido, Bolsonaro recorreu à prática velha e batida: encontrar um bode expiatório, avalia Renato Andrade, no Analítico. “As demandas do país sempre foram maiores do que o caixa do governo. Cabe ao inquilino do Alvorada decidir para que lado pretende ir. O ‘Brasil quebrado’ não impediu Bolsonaro de conceder um aumento robusto aos militares.”
Opinião: “a declaração do presidente na volta das férias é tão irresponsável quanto todas as outras, porque com isso ele justifica a sua própria incapacidade administrativa e seu pouco interesse em trabalhar e tomar decisões que possam melhorar a situação do país”, afirma Míriam Leitão.