Em 12 de outubro de 2021 o “Gigante da Praça da Bandeira”, o Colégio Diocesano de Garanhuns, comemorou seus 106 anos. Faz parte de um remanescente e seleto grupo de instituições de ensino que visa o conhecimento aliado à formação integral do aluno: humana, cívica e, por sua origem, religiosa. Foi neste Colégio onde tive uma das grandes experiências da minha vida. Interno durante três anos, nos anos 1965, 66 e 67, fiz a admissão, primeiro e segundo ano ginasial.
Fundado em 1915, sob a responsabilidade da Diocese de Garanhuns, fez história através dos seus sete diretores, centenas de professores, colaboradores e milhares de alunos e ex-alunos. Entre esses, um destaque especial ao Monsenhor Adelmar da Mota Valença, o mais longevo diretor, que marcou época pelo seu carisma e compromisso social, autoridade moral e ética perante sua comunidade e, principalmente, diante dos alunos internos e externos. Referencias do magistério que são lembrados até hoje: Levino Epaminondas de França, Almira Valença, Maria José Ferreira, Luzinete Laporte. Instrutores: Carlos Lins, Fernando Berenguer e João de Barros, dentre tantos outros marcados pela dedicação.
O Colégio Diocesano pontifica durante mais de 100 anos em uma das cidades mais agradáveis de Pernambuco, não só pelo excelente clima, como também pelo seu povo acolhedor, que recebeu milhares de estudantes de outras localidades. Poderíamos, assim, dizer que Garanhuns não é só a “Suíça Pernambucana”, mas também a nossa “Coimbra”. Durante mais de cinquenta anos, o Colégio Diocesano de Garanhuns, chamado carinhosamente de Diocesano, manteve o sistema de internato. Ora, alunos para quem os pais buscavam um melhor ensino para os filhos. Ora, alunos cujos pais já tinham esgotado as possibilidades da boa convivência com os livros e a disciplina (até hoje não sei onde me classificaram). Vinham alunos de várias partes de Pernambuco e estados vizinhos e de diversas camadas sociais e econômicas. Conviviam diuturnamente, dormindo em três grandes dormitórios, tomando café da manhã com mungunzá, assistindo às aulas, almoçando, fazendo bancas de estudos, jantando, eventualmente em pé, pagando castigo ou recreando na área e na quadra. Eram, aproximadamente, duzentos filhos de comerciantes, comerciários, industriais, operários, governador e outros servidores públicos, índios, profissionais liberais, parlamentares, trabalhadores rurais, agricultores, jornalistas, juízes, promotores e apenados. Esses os de que me lembro. Foi uma convivência educadora para a vida, que tive a oportunidade de vivenciar durante três anos, depois de ter passado quase um ano interno no Colégio Cristo Rei, em Pesqueira. Muitas histórias, parcerias e amizades foram consolidadas por aqueles que tiveram oportunidade de participar dessa grande “aventura”, tornando-se melhores.
Silvio Amorim |
Por se tratar de uma das poucas instituições culturais centenárias do Estado, e com grandes serviços prestados à educação, ser ex-aluno do Diocesano de Garanhuns, faz a diferença. A repercussão do Diocesano em nossa Região foi exponencial. Durante esses mais de 100 anos, considerando que a educação, como política pública, não foi prioridade no país, a participação das ordens religiosas assumiu dimensões gigantescas, minimizando a ausência estatal. Essas escolas mantiveram o ideal da educação e da formação integral de parte da juventude, formando uma bela salada social, cultural e econômica. Por tudo isso, vida longa ao nosso “Gynasio” de Garanhuns. E aos que por lá passaram, lembramos que 12 de outubro será sempre uma data memorável, será o dia do nosso grande reencontro, sempre lá, na Praça da Bandeira.
*Silvio Amorim, advogado. Foi secretário de Educação do Recife. Dedico o artigo a garanhuense Cristine Sereno.