segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Analfabeto sim. Burro não!


Caetano cantando é uma coisa. Falando é outra. O baiano adora uma polêmica e sua retórica não é explicativa como a do seu conterrâneo ex-ministro de Lula, o Gilberto Gil. Caetano é contundente no exercício do vernáculo. Agora chamou Lula de analfabeto. Esse tipo de acinte seria mais ardente se ninguém soubesse disso, mas é final de sete anos de governo de Lula e todo mundo aprova o "cara". É, e daí? Todo mundo sabe, e a contradição está justamente no analfabeto ter conseguido avanços econômicos e sociais que os intelectuais não conseguiram, inclusive inserção mundial nos principais grupos, comitês, organizações, ou que mais seja, o Brasil está presente e respeitado. Sem contar ainda Copa do Mundo e Olimpíadas. Então Caetano perdeu uma daquelas ótimas oportunidades de ficar calado, segundo ditames populares. Mas há algo no discurso de quem defende o analfabetismo de Lula que não me convence. Os avanços significativos não vieram porque Lula é analfabeto, vieram porque foi Lula, uma figura política fulcrada nos anseios populares. Não quer dizer que todo e qualquer analfabeto agora pode ser Presidente da República, e sendo, conseguirá governar e ter a aprovação que tem o garanhuense. E mais, não podemos desprezar ou menosprezar o estudo, dando Lula como exemplo. Ah! Se Lula não estudou e é presidente, porque vou eu lá gastar os neurônios? Não é isso. O exercício da indagação deve ser: Se Lula sem estudar conseguiu fazer o que fez, imagine se tivesse estudado! É preciso entender que os outros, sendo intelectuais, se não conseguiram avanços, não foi porque eram doutores, mas porque o contexto político da época não permitia determinados investimentos ou suas pretensões administrativas estavam longe das camadas mais populares, mas nunca por terem formação acadêmica. Não podemos deixar que esse discurso ecoe no vazio, pois até mesmo Lula sabe da importância do ensino superior e por isso bancou a interiorização das universidades federais. É fato que estamos num crescimento social desde a criação da URV que viria a se tornar o Real, a moeda que estabilizou nossa economia e proporcionou que pudéssemos avançar nos programas sociais. A sensibilidade neste caso foi mais importante que o estudo, mas quem projetou tudo isso para os presidentes que passaram pelo Palácio do Planalto? Foram aqueles que passaram por anos de estudo nas cadeiras universitárias. E para finalizar: Existem várias formas de se aprender na vida, e não podemos comensurar o aprendizado de Lula com conteúdos programáticos de cursos universitários. Existem vários tipos de analfabetos, Brecht nos conta sobre o analfabeto político, dizemos também que existe o analfabeto tecnológico ou digital, o analfabético contextual, e esse talvez seja o de Caetano Veloso. Que tipo de analfabeto somos nós?

RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

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