Em uma visita recente à Taquaritinga, Garanhuns e Brejão, acompanhado de um consultor e colegas do Itep e do IPA, procurando identificar áreas aptas ao cultivo de oliveira, deparamos-nos com alguns fatos que chamam a atenção.
Em Taquaritinga, duas questões podem ser consideradas exitosas, apesar do apoio escasso recebido ao longo dos anos. A primeira se refere ao sistema de cultivo do café, sombreado, coberto por cajueiro, outras fruteiras e a vegetação nativa. Este tipo de cultivo se caracteriza como um ´Sistema Agroflorestal`. Sistemas agroflorestais economicamente viáveis são algo que instituições de pesquisa e proteção ao meio ambiente vêm buscando arduamente, e com pouco sucesso, em todo o país, há décadas.
De forma anônima, quase silenciosa, os produtores da região desenvolveram e têm, à custo, mantido um sistema produtivo que, tendo uma cultura índice, o café arábica, resulta em dois ganhos: 1. Um sistema ecologicamente sustentável, caracterizado pela proteção ambiental às matas, mananciais e à fauna; e 2. Um café ´gourmet` dos mais deliciosos do Brasil. Até o presente, ao que se vê, este esforço rendeu pouco reconhecimento aos produtores e muito menos, renda.
Também há pouco estive em um café em um dos ´shopping centers` de Recife. Encontra-se cafés de vários tipos e origem. O café colombiano, por exemplo, mas não há o café de Taquaritinga, Garanhuns ou Brejão. Não é interessante?
Por outro lado, com a nova classe média que surgiu em Pernambuco a partir dos grandes investimentos em Suape e outras regiões do estado, o consumo de produtos diferenciados tem crescido, os cafés têm prosperado são os milhares os que podem pagar entre R$ 3,50 e 4,00 por um cafezinho ou, entre R$, 6,00 e 8,00 por uma xícara maior. Existe o público consumidor, o que falta é o produto chegar à ele. Saí convencido que com um esforço básico por parte do aparelho de estado via instituições de crédito, fomento, capacitação, com pouco esforço adiconal ao que está sendo realizado, há como se valorizar e difundir os produtos regionais e inseri-los na nova economia pernambucana.
Esta é a forma de integrar o interior de Pernambuco a este surto de desenvolvimento. Em não conseguindo fazer isto veremos este consumidor privilegiado, por ter renda, deixar de ser acessado por bens locais e vê-lo abastecido por cafés da Colombia, do Equador, do Vietnam, via Alemanha, Itália, enquanto que os produtores de Taquaritinga, Garanhuns e Brejão continuarão lutando para vender uma saca de café arábica por R$ 220,00.
Não necessita ser especialista em cultivo de café, processamento, ou um barista para imaginar quantos cafezinhos podem ser produzidos por 50 quilos de café. Logo, a proposição é para que as instituições, definitivamente despertem para aqueles que estão distante das grandes obras e, consequentemente de uma melhor remuneração e dêm início a um movimento de apoio às atividades tradicionais no interior, seja de produção de alimentos, cultura, artesanato, manifestações religiosas e turísticas, de modo que o melhor do trabalho agrícola ou artesanal seja aproveitado e que cada cidade passe a ter uma identidade.
Por enquanto o que posso fazer é recomendar a todos que visitam o Agreste, em tendo uma oportunidade, não deixem de trazer alguns pacotes de café, tendo a oportunidade de provar o que existe de mais saboroso. Deliciar-se com o aroma e o sabor destes produtos que, nas praças de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro seriam considerados nobres, dentro dos padrões mais refinados é um exercício que vale a pena se tentar.
O importante é que nós, os que aqui habitam, saibamos quem Pernambuco tem algo mais do que um belo carnaval, um dos polos petroquímicos mais importantes do país, uma economia canavieira secular, seus mares de águas azuis e uma culinária ímpar. O estado conta com um interior acolhedor, criativo e pleno de produtos pouco conhecidos e de qualidade. Basta irmos lá, ou ajudar a trazê-los às gôndolas dos supermercados e ´shoppings`, às feiras, aos cafés e aos restaurantes.
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Geraldo Eugênio é Agrônomo pela UFRPE; mestre em genética vegetal pela Acharya N. G. Ranga Agricultural University, Hyderabad, Índia; doutor e pós-doutor em genética e biotecnologia vegetal pela Texas A&M University, nos Estados Unidos. Superintendente de Pesquisa e Pós-graduação do Instituto Tecnológico de Pernambuco (ITEP) é pesquisador do IPA, instituição que presidiu. Foi Secretário de Agricultura de Pernambuco e Superintendente do Incra. Foi Superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e, posteriormente, Diretor Executivo da Embrapa. Nos últimos anos tem se dedicado à gestão de instituição de pesquisa, desenvolvimento e inovação e à política nacional de energia, em particular às energias e biocombustíveis a partir da biomassa
fonte: SITE LEITURA CRÍTICA
publicado originalmente em 10/05/12