As pesquisas eleitorais que se sucedem umas às outras continuam mostrando que a irrupção das manifestações de junho gerou sementes de insatisfação que permanecem brotando urbi et orbi.
Desta feita, são os dois últimos levantamentos dos institutos Ibope e Datafolha, no mês de novembro, que identificam haver na população grande contingente de eleitores – nada menos que dois em cada três - que quer mudanças na próxima administração presidencial (66% no Datafolha e 62% no Ibope).
Na pesquisa do Datafolha é possível desagregar os dados por algumas características socioeconômicas, de localização geográfica e políticas e verificar onde se encontram os estratos de maior e menor percentual de eleitores que desejam que a gestão do próximo presidente seja diferente da levada a efeito por Dilma.
Os eleitores que mais desejam mudanças se concentram nos núcleos: feminino (67%), jóvens (72%), que têm curso superior (76%), que são de maior renda (80%), localizados no Sudeste (72%) e em capitais de estados (71%), que reprovam a administração Dilma (92%) e têm maior contingente no Partido Verde (94%).
Já os eleitores que menos preferem mudanças são do sexo masculino (64%), de faixa etária idosa (58%), os que têm apenas o fundamental (55%), de baixa renda (59%), os que se localizam no Nordeste (58%) e no interior dos estados (63%), os que aprovam a gestão da Presidente (41%) e admiram o PT (47%).
Observe-se que a amplitude do diferencial entre os que mais desejam mudanças e os que menos desejam é relativamente pequena, exceto na avaliação de governo e na preferência partidária. Isso significa que a insatisfação é mais ou menos homogênea entre os diversos estamentos sociais. Ou seja, a presidente está tendo dificuldades elevadas de aceitação mesmo entre seus adeptos.
A pesquisa do Datafolha mostra, por outro lado, que a presidente Dilma vem-se recuperando devagar, mas constantemente, da queda de avaliação sofrida no meio do ano. Embora a média de aprovação da gestão governamental (ótimo e bom) em 10 pesquisas pós-manifestações continue em 38%, neste levantamento do final de novembro essa aprovação atingiu 41%. Índice expressivo, mas ainda distante dos 65% de março passado.
Tem-se aí, portanto, um estimulante embate que certamente trará grandes emoções ao pleito que se avizinha: uma trajetória ligeiramente ascendente de popularidade da presidente em luta contra um percentual elevado de insatisfação incrustado na população.
Do ponto de vista aritmético, o desafio da presidente será o de conquistar ao menos 50% da parcela dos 2/3 de eleitores que querem mudança de ações governamentais. Se fizer isso ela reverterá as frações, ficando com 2/3 que desejam a continuidade de seu governo. A reeleição estaria garantida.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br. http://mauricioromao.blog.br.