A terceira alma do PT
Em março de 2013 o Datafolha detectou que a percentagem dos eleitores brasileiros que tinha preferência pelo PT era de 30%. Dois anos depois, em março de 2015, esta taxa caiu para 9%, o menor nível desde 1989.
A que se deve esse desgaste da sigla que foi referência para a democracia brasileira e sempre esteve na vanguarda das lutas sociais e políticas do país desde sua fundação?
O PT surgiu da base sindical do operariado paulista do fim da década de 70 e angariou protagonismo e admiração como um grande partido de esquerda que pregava o socialismo democrático como forma de organização social.
Com apoio de grande parte da população brasileira, em especial dos movimentos sociais, dos intelectuais de esquerda, dos católicos ligados à Teoria da Libertação, dos dirigentes sindicais e dos estudantes, a agremiação chegou ao poder em 2002, elegendo Lula presidente.
Os especialistas consideram a assunção do PT ao poder como o ponto de inflexão de sua exitosa trajetória. O partido deixa de ser de ruptura, programático, ideológico, e assume valores e práticas que se contrapõem à sua formação (André Singer fala da “segunda alma” do PT e Demétrio Magnoli, da “segunda fundação”).
Uma vez instalado no poder, o partido, embalado que foi no pragmatismo de resultados sindicais, logo aderiu à lógica capitalista, adotando uma política econômica de cunho ortodoxo. A guinada seria justificada para os militantes à luz da doutrina econômica leninista: fazer uso dos mecanismos puros de mercado, mas sem relegar os fundamentos socialistas.
Daí prá frente, a permanência no poder a qualquer custo presidiu a ação política e eleitoral da sigla, que estendeu seus tentáculos patrimonialistas sobre a máquina pública, aparelhando-a de tal sorte que em algumas instâncias os símbolos nacionais e petistas se confundiam. A conseqüência natural dessel’état c’est moi foi a associação da sigla a grandes escândalos de corrupção.
Não sem razão que os 12 anos de governos petistas, meritórios nos avanços de inclusão social, estão sendo agora revistos criticamente pelo eleitor.
Ademais, a estrela vermelha está cada vez mais arranhada em face do desprestígio da presidente Dilma Rousseff. As razões de sua débâcle são conhecidas: anúncios e/ou implementação de medidas contrariando o discurso de campanha, piora dos ambientes econômico e político do país e a roubalheira da Petrobrás.
A situação de desalento com o PT chegou a tal ponto que o partido perdeu pela primeira vez, na série histórica do Datafolha, a liderança de preferência para o PSDB no segmento que mais lhe devotava admiração: os jóvens (16 a 24 anos).
Pelo jeito, o PT vai precisar de uma “terceira alma”, ou uma “terceira fundação”, para ressurgir das cinzas.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Cenário Inteligência e do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau.
http://mauricioromao.blog.br.