terça-feira, 20 de maio de 2014

IVAN RODRIGUES: Alvíssaras. Temos um Povo!‏ - REAÇÃO DO CDL RECIFE À GREVE DA POLÍCIA

O CDL Recife precisa descobrir que estamos no planeta Terra, na cidade do Recife do Estado de Pernambuco e, sobretudo, que o centro do sistema planetário não é o umbigo dos comerciantes. Essa nota dirigida ao Governo do Estado que acabam de divulgar é uma vergonha e uma exaltação ao egoísmo que comanda a violência que tomou conta do nosso mundo. 

Saibam que POVO, mesmo como concepção abstrata, é muito mais que os seus clientes que eventualmente estão se afastando de suas lojas e, por consequência, diminuindo os seus apurados; é muito mais que a possibilidade de redução dos seus lucros. 

Quando se lida com gente, meu caro Catão, é DIFERENTE como disse o poeta. Prioritariamente, temos que atentar para a segurança física de todo cidadão; para a locomoção dos maltratados usuários dos transportes coletivos que penam duas horas pra chegar aos seus locais de trabalho usando ônibus infectos, imundos, quentes, com metade da lotação em pé (cinto de segurança é exigência para os afortunados); e se atrasarem, vocês os patrões os demitem sem contemplação; para os pedestres que, sem a proteção dos carros blindados, são alvos fáceis dos “tiros perdidos”; enfim, como toda COISA DE POBRE, ninguém se preocupa com uma população submetida à uma desigualdade que nos envergonha como sociedade dita civilizada. Pelo menos, até para salvar as aparências, num momento aflitivo como esse, esqueçam seus próprios interesses e pensem mais na humanidade inteira e na população que está sofrendo. 

Vejam o exemplo admirável que a população pobre (pretensamente autora dos saques (?) que tomaram conta de algumas cidades da região Metropolitana) está dando ao nosso povo. Mostra sentimentos natos como decência, honradez, dignidade, solidariedade e, sobretudo, um profundo respeito a princípios imprescindíveis à convivência humana. 

Vejam na primeira página do Jornal do Comércio (17.05) a lição que um homem do povo, simples e humilde chamado Severino Barreto da Silva, trabalhador de salário mínimo que, ao devolver os objetos saqueados por um filho, nos ensina: “ESSA AMBIÇÃO DE TER AS COISAS NÃO SE JUSTIFICA. EU TRABALHO TANTO PARA DAR TUDO QUE POSSO A ELE. NÃO MERECIA ISSO, PASSAR POR TANTA VERGONHA”. 

Uma lição à essa maldita e sedutora sociedade de consumo; à uma classe empresarial precisada de uma Lei de Responsabilidade Social que os comprometa com alguma coisa mais que os seus lucros; aos líderes religiosos que esquecem as lições de Cristo para transformar as igrejas em balcão de negócios; aos afortunados da sorte que apaziguam suas consciências com exibicionistas prestações de serviços ditos “voluntários”; à uma classe política insensível às dores do povo, preocupada apenas com seus interesses pessoais; enfim, um grito de alerta à toda sociedade para que se apercebam que do outro da rua existe um povo bom, decente, sofredor, honrando os seus princípios, justificando sua condição humana, além da condição de consumidores e clientes de suas lojas. 

ALVÍSSARAS, SENHOR DEL REY: TEMOS UM POVO!

Ivan Rodrigues

RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

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