terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ceguinho do Piado - 2 anos sem a sua sanfona



Há cerca de cinco, seis, sete anos, inventei de gravar um Cd com minhas composições. Levei uns rabiscados para Roberto Lima que consertou uma coisas, deu sentido a outras e me entregou uns arranjos. Vimos pelo perfil de cada canção que músico de Garanhuns poderia interpretá-la, e assim foram 14 músicas. Os amigos que tiveram acesso ao CD elogiam, devem ser para não perder a amizade (rsrsrs). Em breve, quem não ouviu vai poder conferir, vamos disponibilizar na nova página deste blog uns produtos de nossos artistas para venda. Mas voltando à gravação. Bem, tudo pronto, faltavam os músicos, eu queria algo com qualidade e lembro que numa noite/madrugada no estúdio, Roberto Lima (um dos grandes arranjadores que já vi na vida), diz-me - Ronaldo, vamos botar o Ceguinho do Piado pra fazer as "frases" das músicas que levam sanfona. Eu não sabia o que era isso, só me preocupava que ficasse bonito e fosse barato, esse negócio de mexer com cultura custa dinheiro e geralmente os incentivos públicos não vão para a produção, vão para os mesmos ralos das pessoas que já sabem o caminho. Eu não sabia, aliás, nunca soube. Aí, no outro dia, vou buscar João Rufino, sanfoneiro véio, conhecido dos "assustados" da região e respeitado em todo o Agreste. De Venturosa pra cá, o homem era o rei das festas. E o danado era cego. Eu, nascido sadio, com toda a juventude pra aprender a tocar alguma coisa, vou morrer com esse trauma. Conheci Reginaldo, um dos maiores sanfoneiros da história da música nordestina, e que será motivo de outra manifestação da minha parte. Chegamos no estúdio, Roberto solta parte da música pronta e deixou o resto com João. Aí danou-se, Deus tirou a visão do homem porque ele enxergava a vida com o ouvido. Magnífico. Um passeio por músicas que eu havia feito e que nem eu sabia que eram tão bonitas. (perdoem-me a modéstia!). Foram oito, talvez nove músicas que contaram com a sanfona do Cego do Piado, apelidado de João Rufino, ou vice-versa. Tenho muito a agradecer na vida (e vocês sabem disso), estou vivendo já nos créditos, talvez por isso valorize tanto a amizade e a família. Algumas coisas vou lembrar até o dia em que Deus me queira aqui, e um desses momentos será sem dúvida, o Cego do Piado tocando em sua sanfona as minhas canções. Hoje Marcos Cardoso nos avisa que há dois anos ele nos deixou, a festa no céu deve estar boa. (Mas num tenho pressa de ir não!). A benção, Mestre João Rufino!

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