A cada ano diminui a participação de Garanhuns nas decisões e gerenciamento do Festival de Inverno em nossa cidade. Paralelamente a isto diminui também os investimentos locais, e como uma coisa leva a outra, a nossa parcela passa a ser ínfima no que temos de mais valioso em nossa recente história cultural e turística, o FIG. É como se alguém viesse em nossa casa fazer a nossa festa de aniversário, mas nem nos convidássemos, não perguntasse como gostaríamos que fosse e ainda ficarmos felizes porque nossos filhos vão trabalhar de recepcionista, garçon e cozinheira, sem querer desmerecer estas profissões, mas o músico, o gerente, o organizador, o DJ, o marketing, a publicidade, e a galera que coordena vem toda de fora. A gente poderia escolher, pelo menos, a cor da vela, e queria estar na hora de cantar o parabéns pra você.
É por isso que dizem que o Festival de Inverno não é mais de Garanhuns, é EM Garanhuns. São milhões investidos, quase uma dezena, e a cada ano aumenta mais. Polos descentralizados (uma das grandes iniciativas do festival) mas que estão se afastando do público. No ano passado a Fundarpe matou três dias do Instrumental no Pau-Pombo. Em anos anteriores tirou o palco da cultura popular do centro da cidade, que foi substituído pelo caminhão-teatro do SESC. Ah! No Pau-Pombo realizamos o Doritos Garanhuns Festival, com música de qualidade e espaço para artistas locais.
O teatro infanto-juvenil absurdamente está sendo apresentado num circo, com todos os problemas de acústica e iluminação. Como é que se forma público para a dramaturgia desse jeito? A criançada acha que está num circo e não em um teatro, e é verdade!
Nossos músicos continuam abrindo noites para gatos pingados, com camarotes vazios e longe dos olhos da imprensa. E mais, ganhando muito pouco em comparação ao que paga, ou deveria pagar, a Fundarpe. Seria muito interessante o governo municipal pedir que a instituição estadual arcasse com os cachés dos músicos locais também.
Agora tem a possibilidade da organização do FIG sair da mesa da Fundarpe e parar na Empetur. Os artistas criticaram a programação do carnaval realizado pela Empresa Pernambucana de Turismo, que deu margem a entrada de muito axé, pagode, brega e tudo mais por aí. Imagino que se for esta a filosofia para o Festival de Inverno desta ano, poderemos ter uma programação mais popular, longe do ideal cultural.
E tem mais. Existe uma ideia na Fundarpe que já está sendo posta em prática, descentralizar os eventos do Pernambuco Nação Cultural, onde o FIG está inserido como o principal, com outras cidades da região. Por exemplo, em Goiana, outras cidades da região tiveram eventos também. Pela proposta, poderemos ter atividades em São João, Brejão, Bom Conselho, Caetés, etc, descentralizando o grande festival.
A Fundarpe traz um monte de gente para se apresentar aqui em Garanhuns, e não leva ninguém, ou quase ninguém daqui pra canto nenhum. Não lembro de ter visto nossos artistas participarem de um dos 15 eventos que fazem o mega-festival Pernambuco Nação Cultural.
Continuamos exigindo a descentralização do gerenciamento da cultura pernambucana, ou então vamos viver das migalhas que a gestão metropolitana solta pro interior. E precisamos deixar de pensar somente em festival para cobrar uma política cultural cotidiana, que impacte nossa cidade durante todo o ano.
A gente não quer só comida...