Não se preocupe, não vou dar, pois não tenho receita de ser feliz ou manual. Não vou querer, pois não consigo dar lição de coisa alguma. Esta semana quero escrever sobre “felicidade”, tema tão vasto e gasto, ao mesmo tempo vão.
Toda semana os escritores de auto-ajuda fazem chegar ao mundo livros sobre felicidade. A impressão que passa é de que existe um movimento social para que a felicidade seja, de fato, um direito humano oficializado, decretado, imposto como casa, comida, dignidade, não estado do ser.
A tal felicidade é um estado de espírito - não depende de atributos físicos, financeiros ou sexual, tão pouco de inteligência, até porque, quanto mais inteligente a possibilidade de ser feliz é menor, por conta do senso crítico, da pseudo auto suficiência, auto nível de cobrança existencial, esta constatação parte da história e da agonia vivida pelos grande gênios da história. Quem pensa mais tende a ceticismo, a analisar demasiadamente o porquê da vida, e, claro, por a vida não ser “cor de rosa” em tudo, a descrença é rumo certo para as conclusões do que seja a felicidade. Afinal, montanhas de dinheiro não arrefece a ansiedade, preocupações, solidão...
Talvez felicidade seja o equilíbrio do conviver consigo o outro e o mundo, falando nisto, talvez o poeta tenha razão quando disse: “Queres pouco, terás muito, queres nada, serás livre” (Fernando Pessoa). Ao revés desta frase, na prática o ser humano contemporâneo, dado às exigências que faz, tende ao isolamento, o fechamento de cortinas para não ver a claridade do dia.
Frente essas reflexões: o que é preciso fazer para ser feliz? Ou, o que se pode fazer para não ser infeliz? A segunda pergunta é mais plausível, pois a infelicidade é mais fácil de se avaliar, ela dói, deprime, se manifesta, já a felicidade se caracteriza por um processo construtivo sob os desastres da vida. O paralelo comparativo, para melhor compreensão pode ser a partir do olhar para nossos jovens e nós mesmos, de joelhos para o consumismo exacerbado, a dúvida sob o próprio gosto que cede para o da moda, a moça na loja não sabe se gosta da bolsa rosa, amarela, verde, quer todas, para, talvez não usar nenhuma, a mãe da menina passa pela mesma incerteza diante da imperiosa necessidade de comprar o que não precisa – por ter autonomia de compra – decide que na dúvida é melhor levar todas, inclusive a preta que viu por último. Ali, na loja sem cerimônia, está decretada a dificuldade de ser feliz – as pessoas querem todas as marcas, cores, os homens ricos, as mulheres gostosas e jovens e na vida nunca se terá tudo – mas, ninguém se preparou para a frustração filha da infelicidade. Assim, cada um, a seu modo, vai vivendo infeliz, sem se aperceber que a felicidade se constrói com projetos e afetos.
Finalmente, uma boa rima para a infelicidade seja, simplicidade e humildade. Faça sua própria construção, apesar dos outros.
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Marta Almeida é psicanalista. Originalmente escrito para o Jornal FOLHAVOX.