Ao visitarmos as instalações da nova fábrica da Nordestina, em março do ano passado, do empresário Cirilo Veloso, no prédio da antiga CID - Companhia Industrial de Doces, um painel em argila, pintado à óleo, logo na entrada recebe os visitantes e trabalhadores todos os dias contando a história da antiga fábrica, com a chegada do açúcar, sua transformação nos doces e a venda dos produtos, até para exportação. O painel foi criado pelo artista plástico Armando Rocha.
O tempo exposto sem cuidados não danificou a beleza do trabalho. Está sem cor e precisando ter partes recompostas, mas mantém a beleza e a marca do artista. Armando era pintor, escultor e poeta, tendo ficado mais famoso por suas pinturas, sempre com temas regionais, em que suas figuras têm rostos de traços largos, pés e mãos grandes e olhares tristes. Armando morreu jovem, creio que há uns 15 anos, por aí. Devia ter uns 50 anos. Conheci o artista na minha adolescência, pois ele era muito amigo de meu tio, Espedito Dias, também artista plástico.
São de autoria de Armando Rocha os painéis que contam a história de Garanhuns, desde o bandeirante Domingos Jorge Velho, avô de Simoa Gomes, à abolição da escravatura e ao desenvolvimento agropecuário municipal, com destaque para a criação de gado e plantação de café, situado no Espaço Cultural Luís Jardim, ao lado do Colunata, onde existe também uma poesia, uma verdadeira ode a Garanhuns, composta pelo multiartista Maurilo Campos Matos.
Voltando ao painel da CID, o próprio Cirilo Veloso disse ter pensado em derrubar para construir outro para a Nordestina. Porém, com a descoberta deste patrimônio histórico e cultural, seria interessante que pudéssemos garantir sua permanência, ou até se possível, sua transferência para uma área pública, como uma praça da cidade, se o empresário autorizar.
Que eu lembre, existiam painéis de Armando Rocha também na fábrica de Móveis Eldorado, na sede do Café DoBom na Praça Jardim, e até em algumas residências.
Um dos filhos de Armando, Aquiles Rocha, guarda um catálogo com algumas das obras do artista, e seria muito interessante que Garanhuns pudesse tombar esse patrimônio, principalmente as que contam parte da nossa história.