“Como jogada política, a aliança entre a ex-ministra Marina Silva e o
governador Eduardo Campos, do PSB, foi espetacular... Mas, para avaliar os
efeitos reais sobre a sucessão presidencial, teremos que aguardar pelo menos
uma pesquisa eleitoral realizada sob as novas circunstâncias e as indicações
que ela trará...” [Grifo
nosso, MCR]. Tereza Cruvinel, DP, 08/10/2013.
Antes das convenções partidárias de 2012, na eleição
municipal para prefeito do Recife, o PT local estava no auge de sua guerra
autofágica para definir o candidato do partido ao pleito que se avizinhava.
Ao sacramentar a dupla Humberto Costa e João Paulo, tendo o
senador como cabeça de chapa, o PT imaginava ter encontrado a solução ideal
para imbróglio: juntava duas expressivas figuras do partido, sendo o candidato
a vice detentor de apreciável densidade de votos.
Os dois lideravam as intenções de voto nos cenários em que
apareciam isoladamente nas pesquisas à época. Imaginava-se, assim, que junção
dessas forças faria o partido conquistar seu quarto mandato à frente da
prefeitura. Todavia, as “circunstâncias”, a que alude Ortega y Gasset,
conspiravam contra o arranjo empreendido.
O partido, que historicamente desfrutava de grande prestígio
na cidade, estava esfacelado, dividido, sem discurso. A intervenção da
executiva nacional no processo eleitoral interno fora um desastre. O que havia
de bom no legado da gestão petista de 12 anos teve dificuldade de ser
“vendido”, face à reprovação da então administração do município. O clima de
fadiga de material era evidente.
Dessa ambiência, aproveitou-se o governador Eduardo Campos
para ocupar o espaço que lhe fora pavimentado pelo próprio PT e lançou o hoje
prefeito Geraldo Júlio como candidato pessebista.
A primeira pesquisa (09-10/julho) do Instituto de Pesquisa
Maurício de Nassau (IPMN),
pós-convenções partidárias, apontava ainda a liderança de Humberto Costa com
36% de intenções de voto. A atmosfera, entretanto, era de mudança, e os
levantamentos subsequentes mostravam a meteórica ascensão de Geraldo e a
tendência declinante de Humberto. A aguardada portabilidade dos votos de João
Paulo não se efetivou.
Todo esse retrospecto vem a propósito do grande fato político
do ano em curso, a filiação de Marina Silva ao PSB, partido presidido pelo
governador Eduardo Campos. Em meio à estupefação geral que a aliança causou, há
em parte da mídia e do eleitorado uma ansiedade muito grande com respeito ao
que vai apresentar a próxima pesquisa eleitoral para presidente.
O trecho de matéria jornalística (08/10) colocado na abertura
deste artigo, à guisa de exemplo, retrata bem essa expectativa. O perigo da
ênfase nos números da pesquisa que está por vir é extrair ilações apressadas
sobre o sucesso ou fracasso da aliança recém-formada.
Nas últimas seis pesquisas nacionais para presidente, os
percentuais médios de intenções de voto de Marina (21%,) com os de Eduardo (6%)
somaram 27%. O novo levantamento pode muito bem mostrar uma queda nesse
somatório, no cenário que vinha sendo o mais provável, com Dilma Rousseff e
Aécio Neves.
Num outro cenário, com apenas três candidaturas, sem Marina,
é nula a probabilidade de Eduardo herdar por inteiro a portabilidade das
intenções de voto da nova aliada. Nos
dois casos, contudo, a contabilização dos números das pesquisas neste momento
tem pouca relevância.
Aqui, mais uma vez, o que importa são as “circunstâncias”: as
demandas e inquietações da população, expressas nos movimentos de rua, as
dificuldades econômicas, a teimosia dos índices inflacionários, o desalento com
o futuro, a decepção com a classe política, com os governantes, etc., ademais
de certa fadiga de material do modo petista de governar.
É impossível prever o real alcance eleitoral dessa inesperada
coalizão, a par das naturais dificuldades de convivência que tumultuarão a
coabitação dos dois partidos, mas o fato é que a aliança dita programática
emerge no bojo do aludido descontentamento e pode ser o desaguadouro através do
qual a esperança seja retomada.
Traz um discurso diferente, embora algumas partes dele soem
contraditórias ou pareçam, às vezes, meras hipérboles retóricas. O duo promete entregar à população um projeto
estratégico para o país, que prega um novo ciclo, um novo modo de governar, o
fim da velha prática política, que alia desenvolvimento à sustentabilidade,
gestão à inclusão social, novo federalismo, etc.
O background
histórico, pessoal e político dos proponentes desse projeto empresta
respeitabilidade às suas diretrizes, ainda que suas linhas gerais estejam
esboçadas apenas no campo da externalização verbal.
Seus ingredientes,
todavia, misturados às “circunstâncias”, têm tudo para empolgar o eleitorado,
criando talvez uma grande “onda de opinião”. Se esse alavanque vai realmente
acontecer, não se sabe, mas com certeza, a eventualidade de tal fenômeno não
será captada apenas na próxima pesquisa.
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Maurício Costa Romão, Ph.D.
em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do
Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br http://mauricioromao.blog.br.