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Três dias depois de anunciar a adesão ao projeto eleitoral de Eduardo Campos (PSB), a ex-senadora Marina Silva reafirmou à Folha que a candidatura "posta" ao Palácio do Planalto é a do governador de Pernambuco, mas disse que ambos são "possibilidades" e sabem disso.
"Para nós não interessa agora ficar discutindo as posições. Nós dois somos possibilidades e sabemos disso. Que possibilidade seremos o processo irá dizer e estamos abertos a esse processo."
Marina concedeu entrevista de mais de uma hora no apartamento em que disse ter tido a ideia de formar a aliança com o pernambucano, na madrugada de sexta-feira.
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Folha - Como a sra. define sua decisão de aliar-se a Campos?
Marina Silva - Duas questões estavam colocadas: me recolher no conforto da minha militância, e a maioria começava naquele momento a achar que o melhor era não termos a candidatura, nos dedicarmos ao registro da Rede, ou à possibilidade de uma anticandidatura. Isso para mim seria confortável.
A outra coisa era procurar outro partido, e o PPS era o que mais se aproximava dessa possibilidade, porque não seria um partido com fragilidade em termos de representação social, ninguém poderia dizer 'olha, é uma pura e simples sigla de aluguel'. Então isso [aliança com o PSB] é coerente com tudo isso.
Essa opção não dificulta a quebra da polarização, já que há menos candidatos de oposição?
Quem vai definir a eleição de 2014 não é o tempo de TV, não é estrutura de campanha. É a postura. Esse Brasil que se colocou em junho [manifestações de rua], ele está querendo uma postura.
Sergio Lima/Folhapress | ||
A ex-senadora Marina Silva fala em entrevista exclusiva à Folha sobre a adesão ao PSB |
Para os militantes que estão decepcionados com essa saída, o sonho acabou?
Para eles e para os que estão acreditando na potência, no gesto, só a história dirá. Mas não é incoerente com a lógica da Rede.
A sra. não teme perder votos?
Aqueles que divergirem têm o direito de não votar, têm o direito de não concordar, isso é democracia. Eu não sou Deus, e nem [com] Deus todo mundo concorda.
Muita gente me pergunta: 'Senadora, isso foi uma vingança?' Eu digo: foi um ato em legítima defesa da esperança, da esperança de ver que é possível uma aliança programática, de ir para uma disputa com uma agenda em que a sociedade se comprometa com ela, dando um termo de referência não só para o atual governo, mas para aqueles que virão.
Como vai lidar com as diferenças com o PSB?
A ferramenta de manejar a diferença é o programa. A Rede não está se fundindo com o PSB, não sou uma militante do PSB. É uma filiação democrática transitória. Sou a porta-voz da Rede, militante da Rede. Meu partido é a Rede.
A sra. descarta a sua candidatura à Presidência?
Tanto eu como o Eduardo discutimos que não íamos colocar isso a priori, senão vamos contaminar o nosso debate. Não estamos discutindo, para além do que está posto, que é candidatura dele, quem vai ficar aqui e ali. Estou partindo do princípio que a candidatura dele está posta. Se a aliança prospera com ele, e a candidatura dele posta, a Rede terá ali o caminho da sua viabilização.
Para nós não interessa agora ficar discutindo as posições. Nós dois somos possibilidades e sabemos disso. Que possibilidade seremos o processo irá dizer, e estamos abertos a esse processo. Mas se você me pergunta qual é a minha prioridade, é a de que prospere o programa, a aliança, e que a gente possa, a partir do que foi sinalizado, ter a candidatura que já estava posta.
É possível a sra. ser candidata pelo PSB?
Se a gente ficar discutindo candidatura, a gente vai fazer exatamente o contrário daquilo que eu queria: discutir o programa. É um outro momento político. A candidatura que já está posta, está posta. Nós estamos discutindo um programa.
Na Rede esse assunto é dominante. Se a sra. olhar na sua página do Facebook...
Mas, se olhar na página do Eduardo, verá que o assunto que domina é o desejo de que ele seja candidato. É a vontade das pessoas. Eu e o Eduardo [Campos] estamos em um gesto maduro de tentar dar uma contribuição para a política no Brasil.
A sra. aceitaria ser vice do Eduardo Campos?
A minha possibilidade é de trabalhar para que o programa e a candidatura que o Eduardo Campos hoje representa assuma compromissos com a sustentabilidade política, social, ambiental, cultural, esse é o meu compromisso, essa é a minha cobrança.
Em nenhum momento falei de lugar na chapa, a única coisa que fiz foi dizer: 'reconheço a sua candidatura, e gostaria de saber se há disposição para aprofundarmos uma coligação programática, aonde faço uma filiação ao PSB para registrar formalmente essa aliança programática'.
A sra. se sente confortável com o apoio do Ronaldo Caiado [deputado identificado com os ruralistas] a Campos?
O Caiado e eu somos tão coerentes que, se a aliança prosperar comigo, ele mesmo vai pedir para sair, se é que não está pedindo.
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