A Estátua da Liberdade e a própria palavra são femininas. Mas, no dia a dia, são os homens, bem mais que as mulheres, que andam à vontade, despreocupados.
Cuidar das crianças? Fazer as compras para casa? Além do trabalho, toda essa trabalheira fica bem mais para elas. Fora a obrigação de estarem na moda, belas, atraentes...
Mas e se fosse ao contrário? E se fossem os homens a aparecerem quase nus em tudo quanto é banca de jornal? E nas propagandas? Um mundo onde o poder se conjugasse no feminino?
Eleanore Pourriat é uma cineasta francesa e fez um curta metragem brincando com isso. Ela o colocou na internet e, no mês passado, de repente, ele bombou: mais de três milhões de acessos no mundo todo.
Ela diz que é um mistério essa repercussão e que a ideia era fazer ver o que às vezes parece invisível, principalmente para os homens.
O homem, no caso do filme, é o sexo frágil. Logo no começo, uma mulher diz que não vai explicar uma coisa para ele, porque ele não entenderia. Uma condescendência de quem se acha superior.
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Na rua, são as mulheres que correm de peito de fora. São os homens que ouvem gracinhas e palavras agressivas.
São as mulheres que fazem xixi na rua e, quando o homem reclama, um grupinho delas baixa o nível geral. Os comentários são sexuais. A ameaça está presente e, quando o homem se revolta, é atacado e abusado.
Na delegacia, o calvário continua. A policial que o atende pede para um rapaz que pegue um cafezinho, olha para o corpo dele e faz um elogio babão. O homem, traumatizado, espera a chegada da mulher que vai levá-lo para casa. Mas lá fora, é acusado por ela: "Também com esses braços de fora, com essa bermuda, o que você esperava?".
Eleanor diz que os homens riem quando veem o filme, mas menos que as mulheres, porque elas se identificam, conhecem todas essas situações. Já os homens, se surpreendem.
O filme trata apenas de uma pequena parte do desrespeito e do abuso que as mulheres sofrem no dia a dia, mas não fala nada, por exemplo, de violência doméstica e de desigualdade dos salários. Mas ao inverter os papéis, ele mostra, principalmente para os homens, que o que é normal não deveria ser tão normal assim.
Maxime Cervulle é professor universitário em Paris e especialista nesse tema. Ele diz que que quem se aproveita dessa desigualdade são os homens, são eles que se beneficiam do trabalho doméstico e gratuito, e das várias formas de exploração das mulheres.
As mulheres recebem um tratamento de minoria sendo maioria. Estamos todos no mesmo barco, só que elas em posições bem mais desconfortáveis. Não e à toa que elas querem discutir essa relação.