terça-feira, 10 de março de 2015

ADRIANO OLIVEIRA: Quais as consequências da abertura da lista da Operação Lava Jato para o governo Dilma?

FATOS E CENÁRIOS, por Adriano Oliveira

A análise do fato requer processo de desideologização quando o analisamos. O analista que deseja criar estratégias ou construir cenários não pode exagerar nem amenizar na análise dos fatos que integram a análise da conjuntura. Pois se assim ocorrer, os cenários construídos a partir da análise, assim como as estratégias, serão equivocados.

Quais as consequências da abertura da lista da Operação Lava Jato para o governo Dilma? A baixa popularidade de Dilma possibilitará o impedimento do seu governo? É possível Dilma recuperar popularidade? Estas são indagações que estão presentes nos atentos observadores da complexa dinâmica da política brasileira. Procurarei, a seguir, argumentar em torno das indagações apresentadas.

1. A lista da Operação Lava Jato não compromete fortemente o PT. E nem o PSDB. O Partido Progressista (PP) é o mais comprometido. Portanto, eleitores podem interpretar este dado, o qual corresponde à realidade, de dois modos: 1) O PT não é o único partido corrupto; 2) Todos os partidos são corruptos. Ambas as interpretações são complementares. As interpretações são plausíveis à luz do eleitor –Cenário.

2. Se as interpretações apresentadas correspondem aos sentimentos majoritários dos eleitores, observo que o Congresso Nacional está enfraquecido perante a opinião pública – Cenário. Portanto, Dilma encontrará condições propícias para lidar com o Parlamento – Cenário. Soma-se a isto, o fato de que Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos dirigentes das casas legislativas, estão presentes na lista da Operação Lava Jato. A radicalização contra o governo por parte de Cunha e Renan não é, na minha ótica,estratégia dominante, pois ela pode conduzir todos – oposição e situação – a um impasse que possibilitará mais desgaste para o Congresso e para a presidente Dilma. Portanto, em algum instante, Cunha e Renan cooperarão com o governo – Cenário.

3. As atas do Copom são unânimes em afirmar que 2016 será o ano da recuperação econômica –Cenário. Além delas, variadas consultorias também fazem a mesma afirmação. Mas a realidade econômica de 2016 depende do ajuste fiscal que o governo pretende realizar por completo em 2015. Neste sentido, segundo reportagem do Valor Econômico, 87 bilhões de Reais, do total de 111 bilhões pretendidos pelo ajuste fiscal, podem ser economizado sem o aval do Congresso Nacional. Portanto, conclui-se que parte da recuperação econômica do país depende fortemente das ações de Dilma Rousseff.

4. A oposição não encontrou um discurso programático para fazer oposição a presidente Dilma. Eles frisam, em particular o senador Aécio Neves, que a gestão da atual presidente tem colocado em risco as conquistas sociais e econômicas do Brasil. Ao comparar as avaliações dos três presidentes da República de 1994 até hoje, observo que a era Lula obteve o maior porcentual de aprovação popular. Portanto, parte majoritária dos eleitores reconhece que as conquistas que estão ameaçadas advêm das eras Lula e não da era FHC. Deste modo, a ausência de discurso programático da oposição favorece, em longo prazo, o aumento da popularidade de Dilma Rousseff caso ela consiga, junto com Joaquim Levy, resgatar, em parte, os indicadores socioeconômicos observados na última era Lula – Cenário. 

5. Entretanto, não desprezo a possibilidade de intensas e volumosas manifestações contra Dilma Rousseff neste primeiro semestre. Caso elas ocorram, certamente, conquistarão atenção da mídia. Com isto, o Congresso Nacional, junto com uma oposição fortalecida, pode optar por conduzir o impedimento da presidente Dilma – Cenário. Contudo, tenho outra hipótese: as manifestações que ocorrerão serão intensas e volumosas em São Paulo, com forte participação das classes A e B. Caso isto ocorra, elas não serão suficientes, junto com outros fatores, para possibilitar o impedimento de Dilma – Cenário.

Adriano Oliveira, Doutor em Ciência Política. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio-cotista da Cenário Inteligência. Autor de vários artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro.

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