Membro titular da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o deputado federal Tadeu Alencar (PSB), participou do início da apreciação do pedido de abertura de investigação contra o Presidente Michel Temer (PMDB), nesta terça-feira (04). Para Tadeu, à medida que o processo avançar, e que novas denúncias sejam provavelmente enviadas pela Procuradoria Geral da República (PGR), o apoio de Temer no Congresso deve “derreter, se corroer”.
Em entrevista ao programa Manhã Total, na Rádio Pajeú, Tadeu afirmou: “Nós vamos ter um embate na CCJ e vamos cumprir o nosso papel, como membro titular do PSB, e trabalhar para que a posição partidária seja uniforme, em observância ao que decidiu a Executiva Nacional, de trabalhar pela renúncia, ou afastamento do Presidente, dada a gravidade da conduta praticada”.
Leia abaixo outros trechos da entrevista:
“Não se resolve a economia, se crise política não for ultrapassada”
Tadeu Alencar - “Eu acho que o Brasil está passando por um momento muito difícil, porque na hora em que a gente acha que resolveu uma crise política, uma crise econômica, surgem fatos novos que nos obrigam a parar para enfrentar essa nova dificuldade. Ninguém resolve os problemas da economia brasileira se não ultrapassarmos essa crise política. E não é algo de menor importância. É algo que afeta a instituição mais importante do País, que é a Presidência da República. De maneira que nós temos consciência da gravidade do momento, mas até por esta gravidade é que não podemos declinar da nossa responsabilidade e daquilo que recebemos do povo pernambucano para representa-lo. Como membro da Comissão de Constituição e Justiça nos cabe apreciar esta denúncia.
“Pressão da sociedade aumenta pressão do Congresso contra Temer”
Tadeu Alencar – O apoio ao presidente é mínimo, e já era por uma agenda que ofendia a consciência da cidadania brasileira, por retirar direitos duramente conquistados, direitos sociais, direitos do trabalhador. Com essa denúncia de corrupção, por aquela situação em que ele recebeu alguém notoriamente investigado depois de 22h, sem estar na agenda, num diálogo claramente indecoroso, incompatível com a dignidade das funções de Presidente da República, é claro que a sociedade brasileira (reprova). O Datafolha na semana passada aferiu uma aprovação de 7% ao Governo de Michel Temer. No entanto ele ainda tem muito apoio dentro do Congresso Nacional. Mas à medida em que o tempo passa, até pela pressão que a sociedade vai fazer sobre nós parlamentares, e é desejável que assim seja, eu tenho a impressão de que este apoio dentro do Congresso também vai diminuindo.
Os movimentos do Governo para trocar parlamentares na CCJ
Tadeu Alencar - O governo tem feito movimentos para trocar os parlamentares que não são simpáticos a ele, e que portanto vão agir com independência, com autonomia, como cabe a um parlamentar. Isto significa que o Governo não está seguro de que tem uma situação tranquila, ainda mais depois da prisão ontem de mais alguém muito próximo do Presidente da República. Todos sabem que o ex-ministro, ex-deputado Geddel Vieira Lima, era alguém da intimidade do Presidente da República e obviamente sempre atuaram ali numa fina sintonia.
“Pescadores de águas turvas”
Tadeu Alencar - Eu acho que o parlamentar que não considerar a voz das ruas está fadado a num dado momento ser julgado severamente pela população. Blindar o presidente, imuniza-lo, para evitar que ele seja investigado, depois de tudo o que aconteceu, eu acho que é um caminho que será cobrado severamente pela sociedade àqueles que, ao invés de defender os interesses maiores do País, da população, da democracia, estão empenhados em ser pescadores de águas turvas. Não todos, evidentemente, que apoiam o Presidente, têm este comportamento. Eu não estou querendo fazer uma generalização leviana. Há aqueles que têm uma convicção ideológica, que acham que o presidente não cometeu nenhuma irregularidade, mas tem muitos daqueles que estão apenas fazendo a pressão para liberar emendas, para emplacar os seus indicados nos cargos federais. E isto é extremamente nocivo.
“Maioria congressual de Temer é inversamente proporcional à pressão popular”
Tadeu Alencar - Esta maioria que o presidente Temer ainda tem no Congresso é inversamente proporcional ao aumento da pressão popular sobre o próprio Congresso, à vigilância que a sociedade tem que ter, o papel dos meios de comunicação, de mostrar as coisas com transparência. Eu tenho a impressão de que na medida em que aumenta esta pressão pela transparência, e por uma atitude republicana do Parlamento, ela vai fazer diminuir enormemente o apoio que o presidente ainda tem. E, se sabe, virão outras denúncias, porque no pedido de abertura de investigação foram feitos pedidos para investigar por três ilicitudes penais, que é corrupção passiva, obstrução da justiça e a formação de organização criminosa. Neste momento só a de corrupção é que chegou aqui à Câmara. Nada faz supor que o Procurador Geral da República não vá encaminhar nova denúncia. Na medida que o tempo passa eu não tenho dúvida que o Presidente vá ver derreter, corroer, o apoio que ainda tem no Congresso.
Crédito da foto: Chico Ferreira/PSB