"Foi por ocasião do nascimento de minha sobrinha Beatriz (cujo nome foi pesquisado na Divina Comédia) que conheci o dono de uma clínica neonatal. Na sala de espera as poltronas foram feitas pra ler.
O senhor de uns setenta anos se sentou numa delas e me perguntou o que eu estava lendo. Agora não me lembro o livro. Mas não importa, aquilo serviu para que dois velhos membros de uma sociedade secreta se reconhecessem. Entabulamos conversa e descobri que era o dono daquela clínica, hoje tocada pelos dois filhos, também médicos, e que gastava a aposentadoria em viajar e ler, disse que já conheceu o mundo todo, que uma vida basta para conhece-lo, mas lamentava não dispor de mais tempo para ler todos os livros que gostaria. E não era tudo, lia Em Busca do Tempo Perdido uma vez a cada dois anos. Fiquei impressionado, pois conheço escritores que nunca leram Proust e aquele leitor não somente o leu, mas relia a cada dois anos.
É sobre essa figura, o leitor, nossa conversa no Leitura de Ficção deste mês. Ivaldo Vasconcelos vai ler trechos e falar de seu amor pelo Dom Quixote e Pedro Henrique, outro leitor extraordinário, lerá trechos do Lavoura Arcaica.
Imperdível, sábado próximo, na Casa Café, na Av. Rui Barbosa, ali pelas 19h.
Nivaldo Tenório"