Fomento ao associativismo e investimentos na pecuária e no turismo. Essas foram algumas das sugestões para impulsionar o crescimento do Agreste Meridional apresentadas em audiência pública realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico na última sexta (24). O encontro, que reuniu representantes de órgãos estaduais, prefeituras, câmaras de vereadores, academia e sociedade civil para tratar das potencialidades e vocações da região, ocorreu no auditório do Campus da Universidade de Pernambuco (UPE) em Garanhuns.
PARTICIPAÇÃO – Encontro reuniu representantes de órgãos estaduais e municipais, academia e sociedade civil. Foto: Evane Manço |
“Esta região já teve riquezas como o café e o algodão, além do parque industrial, mas tudo isso ficou no passado”, contou o deputado Sivaldo Albino (PSB), que solicitou o debate. “Chegou o momento de discutir as potencialidades. Temos os caminhos da agricultura e da avicultura, além de um clarão de perspectivas na tecnologia da informação, já que Garanhuns tem bons cursos na universidade e nas escolas técnicas. A Bacia Leiteira também precisa de novos investimentos”, enumerou, defendendo a criação de um grupo de estudos permanente como encaminhamento do encontro.
Presidente do colegiado, o deputado Delegado Erick Lessa (PP) iniciou os trabalhos apresentando um estudo realizado pela Consultoria Legislativa (Consuleg) da Alepe. O documento mostra o crescimento do potencial econômico da Bacia Leiteira e da produção de ovos no Agreste Meridional, além de revelar a composição da produção agrícola na região, com destaque para o feijão (42,4%), a mandioca (29%) e a batata-doce (16,3%).
A pesquisa ainda mostra que, enquanto Pernambuco sofreu uma perda de 12,1% nas vagas de empregos formais entre 2010 e 2019, o Agreste Meridional experimentou crescimento de 4,1%. As principais dificuldades identificadas são o êxodo rural, a dependência da pecuária leiteira, a necessidade de repasses financeiros da União e do Estado, a estiagem (que aumenta os custos da pecuária e diminui o lucro dos produtores), bem como a baixa incidência e o fraco estímulo à cultura associativista e suas derivações (cooperativismo) na região.
DADOS – Presidente do colegiado, Erick Lessa apresentou estudo realizado pela Consultoria Legislativa. Foto: Evane Manço |
A educação é o indicador local que apresenta maior atraso. Porém é também, segundo o estudo, o investimento que traz maior retorno em longo prazo. “A gente quer, junto com a academia, as secretarias e a sociedade civil, encontrar saídas para melhorar esta região tão importante econômica e politicamente, mas que precisa disso depois de algumas crises, como a da Bacia Leiteira e a de turismo”, explicou Lessa.
Como sugestões, o estudo da Consuleg elenca: aumentar o número de barragens para fomentar a vocação natural para a pecuária leiteira; realizar estudos de melhoramento do gado local e importar animais adaptados ao clima; ampliar o papel da universidade e a formação de mão de obra especializada; e estimular o ecoturismo e o associativismo.
Sobre esta última temática, o diretor de Planejamento, Inovação e Fomento da Agência de Desenvolvimento do Estado (AD Diper), Jaime Alheiros, fez uma explanação sobre os arranjos produtivos locais (APLs). “A gente atua não só na atração de indústrias, mas tem uma ação forte no associativismo e no cooperativismo. Pernambuco, em comparação com Estados do Sudeste, ainda é muito fraco nisso”, avaliou, mostrando exemplos de experiências bem-sucedidas, como as da mandioca, do leite e do setor têxtil.
O vereador de Garanhuns Audálio (PSDC) argumentou em favor de investimentos na agricultura familiar. “Principalmente pela experiência do café orgânico que a UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) tem aqui. Na Colômbia, é assim”, disse. Representante da Prefeitura de Garanhuns, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Janecélia Marins, destacou a construção de indústrias em 46 lotes doados pelo município, gerando cerca de 500 empregos.
Para o secretário estadual de Meio Ambiente, José Antônio Bertotti Júnior, há duas questões fundamentais relacionadas ao segmento: a água e o lixo. “Apenas 72 dos municípios do Estado conseguem receber os 2% do ICMS Socioambiental pela destinação correta dos resíduos. E precisamos também ter o cuidado com as fontes e com as nascentes de rios”, observou. A fala recebeu apoio do superintendente de Recursos Hídricos de Alagoas, Pedro Cosmo, que defendeu a criação de um comitê de bacias hidrográficas para os rios Mundaú e Paraíba do Meio.
Investimento na qualificação profissional é a contribuição que a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-PE) pode dar, afirmou o diretor da entidade, Reinaldo Júnior. “Toda a riqueza falada aqui vai chegar nas mãos das pessoas por meio do comércio. Então estamos brigando para trazer uma Faculdade Senac para cá”, antecipou o gestor, que também é presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Garanhuns. Ele informou, ainda, que as entidades oferecem capacitação gratuita para atendentes de lojas, além de cursos de idiomas (Espanhol, Inglês e Libras) para os segmentos de hotelaria e gastronomia.
O reitor da UPE, Pedro Falcão, defendeu o turismo como alternativa viável. “E uma coisa que vai agregar é o turismo de eventos”, observou. Ele complementou reconhecendo que a chegada da universidade e do Instituto Federal ao município “propiciou um boom na questão imobiliária, com construções e aluguéis”. A medida recebeu apoio do professor e geógrafo Carlos Ubirajara, que tem uma tese sobre as vocações econômicas da cidade. “Precisa ter meio ambiente e infraestrutura adequados para gerar valor e atrair fluxos de pessoas, que por sua vez vão gerar novos hotéis, restaurantes, bares, ou seja, uma dinamicidade do espaço”, pontuou.
Morador de Garanhuns, o motorista de caminhão Antônio Bispo sugeriu uma melhor articulação política dos Poderes Públicos municipal e estadual com o Governo Federal a fim de atrair indústrias para a região. “Emprego é o foco. E a indústria é o que vai fazer a economia da cidade crescer. Também tem outros mecanismos, como o turismo, mas por si só ele não resolve a necessidade do povo”, acredita. Para o professor da UPE, Marcos Renato Dias, pequenas indústrias são mais interessantes que as grandes e “atraem a mesma quantidade de empregos”.
O evento ainda contou com a participação de gestores de vários municípios, assim como do presidente do Consórcio Público para o Desenvolvimento da Região Agreste Meridional de Pernambuco (Codeam), Maurílio Rodolfo, conhecido como Neném. A entidade é composta por 29 municípios da região. As secretarias estaduais de Agricultura e de Trabalho, Emprego e Qualificação, além do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), da Empetur, do IFPE Garanhuns, da UFRPE e da Autarquia de Ensino Superior de Garanhuns (Aesga), também enviaram representantes.
Material produzido pela assessoria de imprensa da ALEPE