ARTIGO
"Nunca na História moderna vivemos um momento tão crítico e desolador. Desde a epidemia de Peste Espanhola, no começo do século XXI, o mundo não sofria com a disseminação de um vírus tão letal, rápido e ainda tão pouco conhecido. Mas o que mudou na humanidade em um século? Porque em um mundo globalizado, onde a informação é de fácil acesso e se propaga instantaneamente, estamos tendo tanta dificuldade em conter e minimizar os danos causados pelo novo coronavírus?
Eu me arrisco a dizer que o combustível para a falta de um controle mais eficaz do vírus consiste no fato de o ser humano estar caminhando cada vez mais para o lado oposto do que chamamos e conhecemos por empatia.
No dia 12 de Março deste ano tivemos a primeira morte por Covid-19 confirmada no Brasil. Tão logo a população tratou de estocar produtos como álcool em gel e papel higiênico.
Porém, pouco mais de quatro meses depois, com mais de 77 mil mortos e uma média de 1.068 mortes por dia (Fonte: Uol), a população parece ter normalizado e banalizado a morte e a pandemia. Os SETENTA E SETE MIL MORTOS viraram apenas um número. Mas são 77 mil famílias em luto. O Brasil agora é o segundo país em casos do novo vírus, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Ah, e convém lembrar que estamos sem um Ministro da Saúde até o momento. Temos um interino que não é da área da saúde e já demonstrou não saber o que faz. E justamente nesse momento, a maior parte dos municípios estão determinados a abrir comércios, academias, locais de uso público, etc.
Agora, vamos falar sobre nossa realidade: Garanhuns.
Garanhuns não foge à regra. Em 27 de Junho tínhamos 409 casos confirmados e 30 óbitos (Fonte: Sec. Municipal de Saúde). Hoje, 20 de Julho, a nossa cidade contabiliza 604 casos confirmados. Um aumento de 195 casos em apenas três semanas. O número de óbitos subiu para 39. E sabemos que ainda existem casos não notificados, de pessoas que são assintomáticas, tiveram sintomas, mas não foram testadas etc. Esse número deve ser bem maior. E diante desse cenário, qual foi a atitude tomada? Reabrir tudo.
Ora, se com um isolamento não obrigatório as pessoas estavam a perambular pelas ruas, muitas vezes em grupo e sem máscara, ou quando com máscara, muitas vezes usadas no queixo ou com o nariz de fora, como será a partir de agora, com tudo reaberto e a sensação de liberdade e normalidade se tornar ainda mais acentuada? A resposta é simples: o caos.
Na minha opinião, Izaías Régis sempre foi um prefeito exemplar. Um homem nada acomodado, que sempre defendeu Garanhuns e tem feito uma ótima gestão. Seu empenho em fazer Garanhuns brilhar e ser uma cidade melhor é admirável. Mas o que se passou na cabeça dele para aderir à essa flexibilização?
Senhor prefeito, eu adoraria ver a energia com a qual você governa e defende nossa cidade empregada com a mesma intensidade para encontrar uma solução para essa questão. Reabrir não foi a melhor. O momento não é oportuno. Sabemos que a desobediência será enorme.
A situação é, de fato, muito complexa. Há uma preocupação grande com a economia das cidades e do país, o que é bastante plausível. Todavia, de que serve um comércio aberto com uma população exposta ao risco? Há consumo e economia sem pessoas? O bem mais valioso não deveria ser a vida, assim como rege o Direito brasileiro? Insisto: entendo a necessidade da retomada das atividades, mas as autoridades estão pensando no preço que iremos pagar por isso?
As consequências serão devastadoras. Temos exemplos no mundo inteiro de locais que resolveram reabrir e em pouco tempo decretar isolamento de novo, por conta do aumento de casos. Então que caminho seguir? É uma resposta difícil. Não há consenso ainda. A Organização Mundial de Saúde não recomenda tal atitude. Economistas liberais defendem. Parte da população quer, outra sequer sairá de suas casas.
E que perfil de cidadão é esse que deseja que tudo volte ao normal? Exatamente aquele que não consegue exercitar sua empatia, sua compaixão. O brasileiro de uma forma geral nunca pensa nele como sendo parte de um todo, de um coletivo. Há muito egoísmo. Essas pessoas são as mesmas que usam a máscara no queixo, que não respeitam as faixas de distanciamento nas filas, que se informam por whatsapp, que acreditam que o Presidente do país é a autoridade competente para gerir a pandemia, inclusive RECEITANDO medicação sem nenhuma eficácia comprovada ainda pela classe médica e científica.
Então, o que fazemos nós, que estamos respeitando o isolamento? Não se trata aqui de "ah, cada um faz o que quer". Não é assim que essa banda toca. O cidadão que optar por ir às ruas, por falta de empatia ou até mesmo por não suportar mais ficar confinado, não parou para pensar que não coloca em risco apenas a vida dele, mas também de toda a população? O cidadão que diz que "cada um age como quer" precisa entender que essa situação é como o trânsito de uma cidade. Se você avançar o sinal vermelho provavelmente irá causar um acidente e machucar alguém que estava respeitando a lei.
Bom, ficam a reflexão e os questionamentos. O texto é tomado sim por interrogações, uma vez que ainda não temos respostas para tudo e estamos um pouco longe de algo que combata o vírus. Mas um coisa já foi comprovada: o isolamento, a quarentena, funciona.
Não se informem por mensagens de Whatsapp ou matérias sem fonte confiável. Respeitem o distanciamento. Usem a máscara de forma correta. Lavem bem as mãos. Pensem como parte da coletividade e não apenas em si. Esse, até o momento, é o meio que tem nos mantido ainda sadios e vivos.
Ouçam as autoridades da saúde. Esqueçam as opiniões infundadas e irresponsáveis de políticos que não sabem (ou bem sabem) o mal que estão fazendo (leia-se Jair Bolsonaro).
Fica meu apelo, minha reflexão."
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