Quantas noites fomos dormir mais tarde por "culpa" do Jô Soares? Em nossa infância devido seus programas de humor, seus personagens caricatos, aparentemente ingênuos, mas que tinham o devido argumento para nos fazer pensar o país.
Depois, Jô peitou a Globo que não deu muita bola para para seu projeto de importar o modelo de talk-show americano. Foi para o SBT, levou o programa de humor, mas brilhou nas entrevistas, nem sempre às 11 e meia.
Voltou por cima para a Globo e se tornou uma referência histórica na TV brasileira quando o assunto é entrevista com credibilidade, bom humor, e música. Do presidente da república ao campeão de torneio de comilança de banana, todos passaram por lá, foram mais de 15 mil entrevistas.
Por sua formação no humor, Jô colocava a graça onde lhe cabia, e tornava ilustres desconhecidos em celebridades por 15 minutos, muito interessantes. Políticos e artistas estavam sempre em seu sofá, e abriam seus corações a alguém que sabia escutar, e opinar com propriedade. O sexteto dava o tom leve e cultural da trama.
Jô debateu o país com inteligência, e neste momento de tanto ódio e imprensa combalida, atacada, falta a genialidade de Jô para desmontar a farsa com argumento, uma tirada sarcástica ou uma gargalhada, dizendo verdades. Sem Jô Soares no ar, na TV, todos os públicos que ele atingia ficaram sem esta opção de entretenimento popular e inteligente. Jô abriu caminhos, mas nenhum consegue chegar perto do que ele fazia. Que me perdoem os bons. Jô era genial.
Apresentador, humorista, ator, escritor, dramaturgo, diretor, roteirista e pintor. Gênio da TV brasileira, que também teve atuação destacada no teatro e no cinema.
"O medo da morte é um sentimento inútil: você vai morrer mesmo, não adianta ficar com medo. Eu tenho medo de não ser produtivo. Citando meu amigo Chico Anysio, [uma vez] perguntaram para ele: ‘Você tem medo de morrer?’. Ele falou: ‘Não. Eu tenho pena’. Impecável."
É uma pena mesmo, mas como ele mesmo disse, a vida continua. É o caminho natural. É uma pena perder a genialidade no momento em que se venera a ignorância.