quinta-feira, 23 de julho de 2009

Memórias Póstumas de um Distrito Industrial

Vivi 25 anos na Vila do Quartel, onde meus pais e irmãos ainda residem. Amigos da mesma geração e outros mais antigos que são quase parentes. Vi nascer a Lacerdópolis, que era Vila Nova. Vi as primeiras casas na invasão, depois Massaranduba. Num tinha Mãe Rainha, mas hoje dá pra ver de lá. Não tinha CAIC. Meu pai me levava pra jogos no Sete de Setembro, onde meu avô carregava barro e grama em seu caminhão somente pelo amor ao seu clube. Acordava com o cheiro do Café Dubom no ar, isso quando não era o sabor dos confeitos da CID (Companhia Industrial de Doces) em forma de vento que tomava os nossos ares de crianças. A Hora Norte vivia seus últimos dias, mas também lembro dela. Como nos parecia longe! Ainda tinha a IRGA que ainda hoje dá nome à perimetral da Rodovia Deputado José Cardoso. A IRGA é hoje a Coca-Cola. Tinha a fábrica do "Colorau". E na esquina da Vila José Bernardino Teixeira a fábrica de postes CAVAM era o nosso ponto de referência pra quem fosse pra lá. Tinha um postezinho com uma luzinha muito fraquinha e que às vezes nem acendia. ônibus só tinha até à noitinha, depois somente o bacurau dos estudantes. Taxi não levava ninguém "fora da cidade". A buraqueira era incrível e a máquina era quase da gente. As festas eram com as famílias e tinha dois clubes, o Comercial e o Clube dos Compadres. Sempre era com qualidade. Aliás, a tradição da Vila do Quartel sempre foi investir em cultura, tinha as serestas e os forrós. Até a Quadrilha Arrasta-Pé, campeã onde passou. Isto sim é que é tradição. Se for pra resgatar isso, então tem que ser por aí. Era uma época de gibis, notas de cigarro, ximbre, pião, papagaio, barra-bandeira, queimado, bola atrás da igrejinha, etc. Hoje umas coisas continuam como estão, outras melhoraram e algumas deixaram de existir. Amigos que já foram embora, serviços que passaram a ser disponibilizados à população, internet, violência e televisão que tiraram as crianças das ruas, novos bairros ao redor e a tristeza de ver tantas fábricas e postos de trabalho que fecharam suas portas. O acesso à Vila pela entrada entre DNER e a AABB tem o nome de minha irmã Sílvia Raquel e já foi prometida de ser calçada algumas vezes.

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