Sábado é dia de FALAÊ! O bate-papo cultural do Cláudio Gonçalves com artistas de nossa cidade. Iniciamos com o Gerson Lima, depois tivemos o Antonio Vilela e hoje o Espedito Dias, que viveu intensos momentos culturais em Garanhuns, nos seus mais de 30 anos de arte. Relembrar exposições, a feirinha Mangaios da Terra e o artista plástico Armando Rocha já fazem valer as histórias do Espedito. Esperamos que gostem. Aproveitem e procurem no blog as entrevistas anteriores, pois o Cláudio Gonçalves tem feito um excelente serviço à cultura garanhuense. Vamos ao seu bate-papo de hoje.
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O FALAÊ! esta semana bateu um papo com Espedito Dias um dos mais conceituados artistas plásticos, serigrafista e arte finalista de nossa cidade. José Espedito Dias Gonçalves nasceu em Lagoa do Ouro, mas ainda criança veio com a família para Garanhuns. Desde jovem descobriu a pintura, já se vão trinta anos de trajetória artística, pintor eclético e de obras originais, Espedito Dias esteve em São Paulo de 1989 a 1995 retornando à Garanhuns após esse período. Nessa entrevista tivemos a dimensão do seu conhecimento de pintura, estética e técnicas, mas, sobretudo o seu amor à arte. Espedito Dias é mais um dos nossos artistas que expôs um pouco de sua história e sua arte no nosso Falaê, que vem mostrando que a cultura de Garanhuns é um grande celeiro de talentosos artistas.
1) Todo o artista tem uma história de como a arte iniciou em sua vida. Na vida de Espedito Dias como surgiu a pintura?
Falaê- Os meus primeiros traços começaram aos oito anos e devo muito a um amigo desenhista profissional Aurélio, que residia na Vila do Quartel, foi através da precisão dos seus traços e seu o poder de criação que eu pude me inspirar para começar a desenhar, primeiramente os colegas de classe, reproduzir imagens de pessoas da História e comecei também a perceber a habilidade para a área de comunicação visual. Comecei então a me profissionalizar cada vez mais nessa área, que pratico até os dias atuais.
2) As artes plásticas desde a pintura rupestre podem ser consideradas a assinatura da civilização, pois retratou fatos históricos, denunciaram as mazelas do capitalismo, os horrores da Guerra. Há uma frase que diz que a pintura é muda, mas se comunica muito bem. Os seus quadros trazem alguma mensagem subjetiva?
Falaê – Com certeza, há uma comunicação entre imagem e espectador, havendo uma cobrança da imagem da tela ao espectador, ou seja, a uma interação entre a pintura e o espectador, que é levado a questionamentos diante da imagem, a pintura o envolve numa reflexão de valores e sentimentos.
3) As artes plásticas têm vários estilos, o Barroco, o Retratismo, o Expressionismo, o Impressionismo, Cubismo. Sabemos que você pinta em vários estilos, mas Espedito Dias tem algum estilo que mais se identifica?
Falaê – Sim, dentre os vários estilos de pintura, gosto e pratico Retratismo com Cenas do Cotidiano, comecei pintando o estilo figurativo, o meu primeiro quadro foi “O Sertanejo” ainda influenciado pelo início da carreira, mas foi no decorrer das minhas produções que fui me identificando cada vez mais com o estilo Surrealista, que eu simplifico como o sonho do mundo real dentro de um universo irreal. É o estilo que mais executo atualmente em minhas telas.
4) Em rápidas pinceladas quais as características dessa pintura?
Falaê – Pense você pintar um rosto feminino muito belo e faze-lo germinar no corpo de um pássaro saindo da larva de um vulcão dentro de um oceano em lágrimas e sobrevoando um universo harmonioso e transformar toda essa loucura em uma bela e extraordinária obra pictórica.
5) A história de Espedito Dias com a arte em Garanhuns tem mais de 30 anos, poderia citar os momentos mais marcantes das artes plásticas na Suíça Pernambucana?
Falaê – A explosão para mim veio na primeira exposição dos novos artistas plásticos de Garanhuns em 1981, no hotel Tavares Correia ministrada pelo saudoso artista plástico também de Garanhuns, Walter Vieira de Araújo, que naquela ocasião mostrou o valor dos artistas plásticos de nossa cidade até então desconhecidos pela sociedade, e que me fez acreditar que com apoio ou não dos órgãos competentes eu poderia me dedicar ao mundo das artes. Outro momento marcante foi A Exposição Arte na Rua em 1982 idealizado por Macilon Falcão e executado por mim que consegui reunir os principais artistas de vários segmentos artísticos de Garanhuns, ocorreu na Avenida Santo Antônio com grande participação popular, mas por falta de apoio cultural, o projeto que teve grande aceitação de artistas e populares não teve continuidade.
6) A cultura de Garanhuns também teve um momento marcante na década de 80 que foi a criação da Feira “Magaios da Terra”, na Praça Guadalajara a qual você participou com outros artistas de Garanhuns, não apenas artistas plásticos, mas também músicos, cordelistas, artesãos, teatro, várias representações da arte. Quais as lembranças daquela feirinha que foi um espaço para os artistas de Garanhuns.
Falaê – Foi o melhor movimento artístico que já aconteceu em Garanhuns, foi idealizado pelo projetista e artesão Zeca Diabo, e contou com todo tipo de manifestação cultural, onde o artista vinha participar do movimento voluntariamente apenas com o intuito de mostrar o seu talento. A Feirinha acontecia sempre nas tardes de sábados e aos domingos com horário integral, onde as pessoas assistiam a shows de danças, músicas, peças teatrais, além de barracas de comidas típicas, bebidas, artesanato e artes e plásticas, tudo bancado pelos próprios artistas, que a mantiveram por seis meses e infelizmente pela falta de apoio dos poderes públicos não teve continuidade, acabando assim mais um espaço artístico dos artistas de Garanhuns.
7) Nesse longo período artístico, você participou de várias exposições e amostras, viajou para outros estados, poderia citar essas participações em eventos em Garanhuns?
Falaê – Em 1983 – VIII Feira dos municípios - Recife, 1984 Academia de letras de Garanhuns, 1985 Hoje é dia de Arte - Hotel Tavares Correi, 1986 - 48 Horas de arte - Angelim, 1988 – Mostra de telas no Spaço Artes - Garanhuns, 1996 - Mostra de imagens e cores de Garanhuns, 1998 - Galeria Siga Garanhuns, 1999 Oficina de desenho artístico Saloá – PE, 2004 Oficina de serigrafia em Miracica, 2006– Exposição arte na Praça Garanhuns, 2008 Salão do Artista Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcante, 2008- Participação na Abertura da Galeria de Artes Kadichari.
8) O Cantor Reginaldo Rossi tem em sua casa um quadro (aquarela) que foi ofertado por você, como foi esse encontro entre os artistas?
Falaê – Tudo começou a partir de uma brincadeira, eu estava no meu atelier com uma tela limpa e Reginaldo estava sendo anunciado para abrir o VII Festival de Inverno quando ele começou a cantar eu passei a retratar Reginaldo e Ronaldo fenômeno em alusão ao cantor que sempre ao cantar Garçom falava sobre o jogador e como no mesmo dia o Brasil havia ganho a copa América por dois a zero contra o Uruguai resolvi pintar o quadro apenas com a intenção de brincar no show, porém, chegando a praça Guadalajara a multidão queria o quadro de todo jeito, por sorte o segurança de Reginaldo me pediu o quadro e colocou no palco, terminado o show fui ao camarote assinar o quadro, pois não havia dado tempo de assiná-lo pois o fiz em 40 minutos, a tempo de poder assistir o show. No camarote Reginaldo agradeceu e o levou para casa, onde no quadro acordando o artista do SBT apareceu o quadro no quarto do cantor. (detalhe do blog: Expedito tem formação musical de roqueiro e colecionar discográfico dos Monkees)
09) No Livro Os Sitiados A Hecatombe de Garanhuns a capa e as ilustrações da estação Great Western, o assassinato de Júlio Brasileiro e o ataque à cadeia foram feitas por você, sendo o trabalho bastante elogiado pelos leitores. Como foi fazer esse trabalho?
Falaê – Foi uma alegria muito grande uma das melhores que já pude participar, pois confesso que de início cheguei a sentir medo de não conseguir executar o projeto, pois era de muita responsabilidade e a primeira experiência nesse tipo de trabalho, mas fui me inteirando nas passagens da história que eu ia executar ai pude vestir a camisa com toda segurança de um artista que aceita determinada encomenda, conseguindo ao final dá uma visualização prévia do acontecimento histórico, fazendo uma reeleitura de jornais, fotos, vestimentas para não pecar no produto final que para mim acredito que alcancei o objetivo.
10) Quais são os seus ídolos nas artes plásticas?
Falaê – Brasileiros Candido Portinari e sem sobra de dúvidas Francisco Brennand. Estrangeiros Van Gogh e Salvador Dali.
11) O que é preciso para que os artistas plásticos voltem a ter maior visualização em Garanhuns?
Falaê – Falta um espaço permanente e projetos para promover exposições, concursos, oficinas e amostras.
12) O psicólogo Howard Gardner defende a tese que os indivíduos são capazes de uma atuação em pelo menos sete diferentes áreas intelectuais, uma delas é a inteligência espacial que é a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa, sendo a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial, sendo esta a inteligência dos artistas plásticos. Qual a opinião de Expedito Dias, a pintura é congênita ou uma habilidade a ser desenvolvida?
Falaê – É uma habilidade que pode ser desenvolvida com orientações de técnicas desde que haja uma aptidão artística, porém, um mal orientador pode atrapalhar o desenvolvimento artístico do aluno aprendiz.
13) Há uma frase na televisão que diz que na TV atribuída ao Chacrinha – “nada se cria tudo se cópia”. Vemos também que na pintura a originalidade às vezes é escassa, existem muitas cópias, você considera isso pintura?
Falaê – Absolutamente não, no Retratismo podemos considerar como arte pois você vai transformar uma fotografia em um retrato, ou seja eternizá-lo. Agora você copiar uma obra de arte mesmo que seja parte de vários quadros transformando-o em uma tela e assiná-lo é descaradamente uma cópia, e este não pode ser considerado um artista, nem o que ele pintou uma obra.
14) Você foi um grande parceiro do saudoso artista plástico e escultor Armando Rocha que foi responsável pelas esculturas em alto relevo no espaço Luis Jardim, na Avenida Santo Antônio, obra que conta a origem de nossa Garanhuns. Ainda falta uma grande homenagem a esse grande artista Garanhuense?
Falaê – Falta sim. Falta uma exposição que mostre de fato as telas e os seus projetos, inclusive as obras semi-acabadas, exposição essa que traga as pessoas que adquiriram obras dele em vida e seus amigos que participaram de seu dia a dia e que o ajudaram em vários momentos de criações, coisa que Armando Rocha sabia criar com muita facilidade e principalmente a sua família. Mas acredito que essa homenagem ainda virá mostrando o verdadeiro lado do artista plástico Armado Rocha meu grande amigo.
15) Pablo Picasso fraseou “Na arte não se encontra nada, o que importa é procurar”, segundo o pintor espanhol a pintura solicita a visão, a audição e os demais sentidos como porta de entrada para uma compreensão significativa da dimensão da obra do pintor. Você após concluir um quadro e é claro a pintura tem o poder de interagir um dialogo entre artista e espectador, você agora no papel de espectador ainda consegue procurar e encontrar outros detalhes imperceptíveis na sua pintura, ou seja, um outro tipo de comunicação que não era seu objetivo no processo de criação?
Falaê – Sim, primeiro porque o artista nunca termina uma tela, ele assina porque tem que pintar outro e nesse outro ele vai fazendo o que deixou de pintar no anterior. Em muitas telas minhas eu só fui notar determinados itens depois que outra pessoa interpretou para mim, o que é muito natural acontecer na pintura Surrealista.
16) O que você achou da iniciativa do blog do Ronaldo César em criar em parceria com o entrevistador, o bate papo cultural Falaê, entrevistando semanalmente artistas de nossa cidade?
Falaê – Muito importante esse espaço para o artista expor suas idéias e abrir o coração para a realidade cultural que cerca a nossa cidade, espero que minhas rápidas pinceladas tenham dado para esclarecer e acordar o lado esquerdo do cérebro daqueles que tem a arte dentro de si adormecida.
José Espedito Dias Gonçalves
Rua Agostinho Branco, 246 – Bairro – Heliopólis
Garanhuns – Pernambuco
Fone para contato: (87) – 9115-6274 e (87) 9639- 8390
Email: jotaespedito@yahoo.com.br
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Agora comigo: Se você gostou da entrevista, liga pro artista, manda e-mail. Essa interação é muito importante, e muitas vezes nem sabemos o quanto. A gente sabe da luta que é fazer arte e Expedito é um desses caras que nasceu pra fazer isso, batalhar e criar. A sua ousadia é querer sempre fazer algo novo e metendo a cara em novos projetos. Um nome multicultural que faz o cotidiano de nossa cidade ter mais cor.
De nove irmãos, Espedito é o único filho de Seu João Gonçalves e Dona Dorinha. Meus avós! O velho João é um personagem pitoresco de Garanhuns, carismático e político, sempre foi do mesmo lado, desde Marcos Freire, Cristina Tavares e Arraes. Isso foi uma escola para nós. Uma família enooooorme e unida.
Mais uma vez: Valeu Cláudio! Semana que vem tem mais, parece-me que é Gomzaga de Garanhuns. Depois confirmo!