O escritor garanhuense Nivaldo Tenório teve uma nova crítica de seu livro publicada na edição desta terça-feira do Jornal do Commercio, assinado pelo Diogo Guedes. Confira:
A literatura é também uma forma de hipocondria. Escrever poderia ser um forma de tentar a cura mas, em Dias de febre na cabeça (U-Carbureto, 112 páginas, R$ 25, à venda na Livraria Jaqueira), do escritor e bombeiro garanhuense Nivaldo Tenório, parece que o objetivo é o exato oposto: adoecer, mergulhar ainda mais nas febres, dores de cabeça, gastrites, labirintites.
O livro tem 14 contos sucintos, com uma prosa de construções curtas e diretas. A voz narrativa crua que perpassa os vários contos aumenta a estranheza e a distância dos próprios personagens em relação às cenas que vivem. A história que dá título ao livro, por exemplo, traz a sensação asfixiante de uma morte lenta, com uma angústia naturalizada pela linguagem.
Em outros contos, essa narração funciona menos (em Medo, por exemplo), mas a irregularidade não chega a comprometer a obra. Nivaldo usa o gênero sem fórmulas, sem cair na facilidade de finais reveladores, redentores ou sintetizadores: os contos continuam além dos pontos finais, como imagens insolúveis. Na recorrente metáfora da literatura como uma investigação detetivesca, o garanhuense só monta precariamente os elementos do laudo, apresenta um caso sem apontar acusados ou vítimas. Apenas a falta de respostas, o elemento da realidade mais negado pela literatura fácil, interessa. Escrever, aqui, é abraçar o estranho, a hipocondria, o mistério.
Leia mais na coluna Escrita, no Jornal do Commercio desta terça (28/5).