quinta-feira, 24 de julho de 2014

AULA ESPETÁCULO NO CÉU ou ARIANO E A COMPADECIDA - Por Gerson Lima


A Compadecida havia garantido seu convite dois dias antes. Mesmo sabendo que sua autoridade Suprema lhe garantia lugar especial no recinto, fez questão de atravessar dois quarteirões de nuvens em direção ao Salão Celestial e encarar com humildade a enorme fila que se formou desde o dia em que o Divino havia anunciado a chegada de Ariano no Céu.

Chegado o momento, a Intercessora tomou assento na primeira fila do lado esquerdo da enorme plateia e com ela, milhares de santas formavam um exército de damas divinas.

O Criador preferiu reposicionar seu Trono de maneira que visse e ouvisse o Mestre de mais perto e de frente.

Um pouco mais atrás os santos e mártires e, por último uma infinidade de Anjos e Querubins inquietavam-se procurando um melhor ângulo para fotos.

Quando Gabriel, o Anjo da Anunciação e Mestre de Cerimônias, informou a presença do mestre, as Trombetas soaram uma peça musical Armorial e nada menos que Capiba, regeu um frevo à violino como nunca se escutou por aqui. Ariano adentrou sendo aplaudido de pé em sua chegada triunfal. Dom Sebastião, Quaderna, Chicó, João Grilo, e todos os selos do Movimento Armorial formaram um cenário vivo de estupenda beleza.

O mestre saudou a todos fazendo uma reverência especial à Compadecida, de quem era devoto desde os tempos terrenos. Entregou-lhe pessoalmente a medalhinha da sua imagem que o acompanhava enquanto andou por aqui. Não seria uma devolução, mas uma troca. Já não precisaria mais dela... A companhia agora era a Própria Compadecida, bem ali à sua frente. 

A voz rouca e cansada que se ouvia por aqui, não era a mesma. O mestre estrondou os anéis do Salão ao dizer: Muito abrigado a todos... Cheguei – se soubesse que era assim, teria vindo mais cedo! 

Iniciou sua Aula Espetáculo sem retirar nada. Revelou-se ao Poderoso ser mesmo um grande mentiroso porque isso é o que consagra um grande escritor. Agradeceu por ter ganho uma mente brilhante. Confirmou a miséria humana que viu na terra, pediu esperanças para um Brasil despido, tornou a sub-julgar a cultura de baixo nível e dissertou histórias e estórias que deixaram a plateia sem pestanejar.

Num dos anéis da arquibancada um sujeito arriscou um: Caza...cazá...cazá.. – Mas foi contido pelo olhar severo de Santo Expedito, o santo das causas perdidas. 

O mestre já não tinha idade, por isso flertava o público Divino com energia e exaltação. Recusou agradecido o cálice de Manjá dos deuses que Miguel Arcanjo havia posto em sua mesa. Não havia cansaço...não havia dores...não havia mais desilusão...nem sede e nem fome. Ariano Suassuna era essência. 

Ao fazer menção a sua chegada no Céu, citou Caetana, que era o nome que se dava a morte, no interior da Paraíba.”Era como eu imaginava...uma mulher bonita que me acompanhava até o Paraíso. Só assim eu encarava essa maldita”.

A platéia desmanchou-se em gargalhadas...E deste jeito, nunca se riu tanto no céu.

Ao mestre com carinho -

Gerson Lima
Dramaturgo e Produtor Cultural

RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

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