O corpo a corpo que existe nas campanhas locais, a exemplo de vereador, prefeito, deputado e até governador, acaba influenciando o voto nas comunidades. Geralmente as lideranças transformadas em cabos eleitorais conseguem transformar esta proximidade em voto.
Entretanto este fenômeno não existe na eleição presidencial. Explico o porquê.
O voto para presidente parece estar acima da conveniência local, é como se o eleitor valorizasse mais ele, não se deixando levar por um pedido, em sua grande maioria. O eleitor exerce o seu arbítrio e leva em consideração a sua vida, suas convicções e as análises que faz da conjuntura nacional, muitas vezes sem perceber.
A influência maior é da TV, dos guias eleitorais, debates e, repito, da sua vida, das suas certezas. Portanto, é um voto que não sofre tanto a influência local das lideranças políticas. Vejamos o resultado do Nordeste, muito parecido nos municípios, onde Dilma venceu com margens entre 75% e 90%. O grande cabo eleitoral se chama bolsa-família e outros programas de inclusão social. E outro é Lula. Indiscutível.
Este fato explica porque em municípios da região em que Dilma tinha ou não tinha o prefeito, o resultado foi semelhante. Explica também porque Paulo Câmara teve 70% dos votos mas não conseguiu transferir para Aécio.
Muitos prefeitos nem conseguiram pedir votos para o mineiro, seria ir de encontro à população que manifestadamente, seria Dilma, não aceitando outras candidaturas. Como dissemos, para presidente, a influência local, nos moldes de outras campanhas políticas, quase inexiste, quando se tem no jogo uma candidatura de grande inserção nas camadas mais populares e em segmentos que reconhecem estes avanços no interior do país.
Portanto, acredito, não se pode colocar na conta de vereadores, prefeitos e nem dos governadores, o atual e o fututo, qualquer derrota ou vitória em determinado território. Perguntem a qualquer eleitor porque ele votou em um ou outro candidato a presidente, e terá uma resposta diretamente deste porquê. Não será, em sua grande maioria, atendendo o pedido de alguém, mas porque ele acha que seria o melhor para o país!
Em Pernambuco, estado Lulista por natureza, onde Dilma fechou com 70% dos votos, acho até que se a Família Campos, o governador João Lyra e Paulo Câmara não tivessem no lado contrário, dividindo os votos da região metropolitana, principalmente o Recife com Geraldo Júlio, e Caruaru, onde ficaram na faixa de 55% a 45%, Dilma poderia contabilizar quase a hegemonia por aqui, basta lembrar que no primeiro turno Aécio teve somente 5% dos votos dos pernambucanos.
A vitória e a derrota existem, claro, para quem apoiou um ou outro, mas ela não aconteceu ou deixou de acontecer por conta de um apoio local. Dilma venceu em todos os estados do Nordeste, onde tinha e onde não tinha o governador. Dilma venceu em todos os municípios do Agreste, onde tinha e onde não tinha o prefeito. E os percentuais são muito parecidos.
Claro que as lideranças têm seus votos para repassar, e todos que apoiaram Dilma devem comemorar, mas não vejo como creditar ou debitar a vitória ou a derrota às lideranças locais em Pernambuco e nos municípios. Debitar a derrota a Paulo Câmara, Renata e João Lyra seria creditá-la a Humberto Costa e Armando Monteiro? Claro que não. Pois este último nem participou da campanha no segundo turno.
Foi o povo, soberano em sua escolha, no exercício do seu arbítrio, que preferiu continuar com Dilma e Lula.