Pedro Romero
Caderno1 Comunicação Integrada
Especial para o blog
Na próxima terça-feira faz exatamente 30 anos que o prático da barra, Nelcy da Silva Campos, salvou o Recife de uma tragédia. No dia 12 de maio de 1985, ele evitou que parte da cidade fosse varrida do mapa ao rebocar para longe da costa o navio Jatobá, que pegou fogo no Porto do Recife e cujas chamas ameaçavam explodir o Parque de Tancagem do Brum, onde estavam armazenados 153 mil metros cúbicos de produtos inflamáveis. De acordo com os técnicos, uma explosão no local destruiria tudo num raio de cinco quilômetros, atingindo os bairros de Santo Antônio, Recife Antigo, Boa Vista, Brasília Teimosa e Pina. Três décadas depois, o Herói Pernambucano terá seu busto recolocado no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto do Recife.
Era madrugada de um domingo, quando um dos três tanques do navio petroleiro Jatobá explodiu, deixando a embarcação em chamas. O navio, atracado no Porto do Recife, carregava 1.500 toneladas de gás butano, conhecido como gás de cozinha. As explosões, causadas pelos incêndios em série, estavam prestes a atingir o Parque de Tancagem do Brum, que estava a 500 metros do petroleiro e armazenava mais de 153 mil metros cúbicos de produtos inflamáveis.
Apesar da mobilização do Corpo de Bombeiros para combater o incêndio, não era possível debelar as chamas com quase 20 metros de altura. A situação era tão grave que o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, foi acordado às presas e teve que deixar o Palácio do Campo das Princesas, onde morava, localizado no Bairro da Boa Vista. "Foi Nelcy Campos quem se dispôs a levar o navio em chamas para o alto mar, livrando o Recife de uma tragédia. Com essa atitude corajosa, Nelcy Campos se tornou um homem credor da admiração do povo pernambucano pelo seu gesto heroico. Eu, inclusive, o agraciei com uma medalha pelo reconhecimento do feito", lembra o ex-governador.
Nelcy da Silva Campos, então com 54 anos, foi chamado às pressas em sua casa pelas autoridades responsáveis pela Capitania dos Portos. Ele chegou ao porto por volta das duas horas da manhã e, com a ajuda de alguns auxiliares, começou um perigoso trabalho. Distribuindo as ordens, chegou a serrar dois dos nove cabos do navio petroleiro, que estava ancorado no Armazém A-1.
Um desses cabos, que foi amarrado a outro de 200 metros, serviu para prender o petroleiro no reboque Saveiro. Para que a saída do Jatobá fosse possível também foi preciso movimentar os navios que estavam na frente e atrás dele. Só depois desse difícil trabalho, a embarcação em chamas pode ser rebocada para alto mar, onde não representava mais perigo para os recifenses. O petroleiro foi deixado à deriva a cerca de cinco quilômetros da costa.
Ao voltar ao porto, já na manhã do dia 13 de maios, Nelcy Campos foi recepcionado pelo governador, amigos e família, que o esperavam ansiosos. "Nunca me vi em situação tão difícil e perigosa, mas pensei logo na população. Mesmo sabendo que poderia morrer, parti para a operação", declarou Nelcy, após retornar ao Porto.
Nelcy da Silva Campos nasceu no Recife no dia 21 de janeiro de 1931. Trabalhou durante 25 anos como prático da Barra do Porto do Recife, ofício que aprendeu com o pai. Morreu no dia 27 de setembro de 1990, de causas naturais.
Busto deve ser reinaugurado ainda em maio
O busto do prático da barra Nelcy da Silva Campos está pronto para ser recolocado no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto do Recife. Com cerca de 25 quilos, esculpida em resina e pó de mármore, a escultura de 80 centímetros que retrata o busto do herói pernambucano recebeu um tratamento especial, delicado e minucioso. A responsabilidade ficou por conta do artista Demétrio Albuquerque, que se debruçou, principalmente, na limpeza da fuligem provocada pelo escamento dos veículos e que ficou incrustada na obra.
A previsão é de que a escultura seja reinaugurada neste mês de maio. Inclusive, Demétrio Albuquerque foi também o autor da obra, instalada na Praça do Marco Zero, em setembro de 2003. Naquela ocasião, Nelcy Campos foi homenageado pelo 3º Distrito Naval da Marinha, em uma cerimônia alusiva ao Dia Mundial do Marítimo.
Para o artista, o resultado do seu trabalho lhe rendeu orgulho e satisfação. Apesar de não conhecer a história do então Prático da Barra (espécie de guia para embarcações), Demétrio passou a admirar a determinação e o feito de Nelcy Campos, que salvou o Recife de uma explosão de um petroleiro que estava em chamas no parque de Tancagem do Brum. "Muitas vezes não conhecemos a figura nem a biografia daqueles que retratamos em esculturas. Contudo, eu me surpreendi, não apenas com a coragem de Nelcy Campos, mas também com a atitude independente dele, que tomou a decisão solitária de evitar uma possível catástrofe", reverencia.