segunda-feira, 13 de julho de 2015

DINHEIRO FALSO? É muita coisa sem juízo - Por Ivan Rodrigues

Ivan Rodrigues
ARTIGO

Esse é o terceiro episódio, em que extravaso a minha inquietação pelo que está ocorrendo em nosso Brasil. Lutei muito durante longa vida para transmitir aos meus descendentes um país melhorzinho do que recebi e, por vezes, acreditei que conseguiria. Mas de uns tempos para cá, parece que fomos tomados por uma loucura epidêmica, eliminando o bom senso e o respeito, a solidariedade e prevalecendo uma cultura dominada pela grosseria, pela intolerância e pelas agressões gratuitas. As coisas estão acontecendo no Brasil, sem a menor razoabilidade e um mínimo de lógica e, por consequência, impossível de justificar de acordo com as mais elementares regras de decência, honradez e convivência.

Dizia esta semana para um amigo que do jeito que as coisas estão evoluindo, logo estaremos tirando as crianças da sala para poder abrir o Facebook, dada a virulência e o despudor da linguagem adotada pelos participantes. Como se não bastasse o fundamentalismo religioso que está massacrando milhares de “infiéis” em nome da FÉ, está se criando um fundamentalismo político-partidário insuportável e um fundamentalismo esportivo em que se mata gente tendo uma latrina como arma. Fica difícil de suportar. As notícias nos surpreendem à cada hora e eu estou com dificuldade de entender. E tudo passa a ser trivial e admissível.

Parece brincadeira, mas não é. Se não fosse notícia dos jornais do país inteiro, ninguém seria capaz de acreditar. Vejo diante de mim e do computador na minha mesa, a manchete da página 1 do Caderno de Economia do Jornal do Comercio de 27 de junho de 2015.

Leio estarrecido. Respiro fundo. Belisco meu braço para comprovar que não estou dormindo e sonhando. Vou à janela para me convencer que estou na minha residência e não noutro país. Consulto o calendário e a data confere. Fato corriqueiro, deve imaginar o povo brasileiro nesse quadro geral de demência ética e moral que impregnou definitivamente a cultura dominante!. Reproduzo a manchete:

“Banco do Brasil vende dólares falsos. Pai e filha estão retidos nos Estados Unidos após tentarem depositar em agência americana dinheiro comprado no banco”

Como é mesmo ? O Banco oficial de um país civilizado vendendo dinheiro falso ? O nosso Banco do Brasil S/A, instituição bancária respeitável e secular, aceitando dinheiro falso e servindo de mula para falsários ? Operação somente desmascarada nos Estados Unidos (que vergonha!) mediante a intervenção do FBI que meteu algemas no infeliz casal portador e apreendeu o dinheiro falso. O vexame exigiu a intervenção diplomática da Embaixada Brasileira Será que não existe mais nada sério neste pobre e espoliado país ? Em quem se confiar ? Será, pelo que se observa, que o mal tomou conta do coração e das mentes de todos que só pensam em se aproveitar de tudo e de todos ?

Algumas perguntas são inevitáveis para os leigos como nós, sobretudo diante do silêncio ensurdecedor e sepulcral que cerca o episódio. Parece que instalou-se uma conspiração de omertá uma vez que as autoridades responsáveis não se manifestam e o assunto é conduzido sem nenhuma transparência. Pesquisei a matéria a partir da data da primeira ocorrência e a constatação foi mais triste ainda. A despeito da imperativa intervenção do serviço diplomático em país estrangeiro, o Governo Federal não deu a menor satisfação ao povo brasileiro. O Banco emite apenas, através de uma Superintendência Regional, uma nota anódina e inconvincente sem explicar nada. Todos fazem cara de paisagem como se tudo fosse natural e não estivesse acontecendo nada. Há 15 dias retiraram de pauta e não se fala mais nisso em nosso país !

Sabido que o Banco do Central do Brasil é o órgão de regulação e controle do sistema financeiro nacional que envolve o controle e fiscalização do sistema bancário, não teria a obrigação indeclinável de dar uma satisfação à Nação explicando o ocorrido e justificando, se fosse capaz ?

Dias depois, com a divulgação da existência de 6 (seis) casos já constatados na agência central do Banco do Brasil em Recife de dólares falsos recebidos e passados adiante (?) é que, após ser autuado pelo PROCON-Pernambuco de acordo com a legislação de Defesa do Consumidor, surgiu uma nota da agência do Recife, suspendendo as operações de câmbio com a moeda norte-americana por 30 dias, que se revela um primor de desavisada ingenuidade e um desvio ostensivo do verdadeiro foco da questão.

Essa nota é tão surrealista quanto à circulação de dólares falsos em suas agências e sua autenticidade concorre com a qualidade do dinheiro circulado em seus caixas. Comecemos pela origem da nota que, em se tratando de questão grave e de repercussão internacional, deveria ser iniciativa da Direção Geral do BB e não de uma simples Superintendência Regional. E quem garante que em outras agências pelo país afora não estejam ocorrendo ilícitos iguais que exigiriam idênticas medidas às adotadas em Pernambuco?

Confessa, ainda, que tomou a providência de “suspender o serviço de câmbio em todas as agências do Estado por 30 dias” o que quer dizer: a providência não foi iniciativa própria e somente foi tomada atendendo à autuação do Procon-Pernambuco que tem jurisdição e competência restrita apenas a este Estado. Vamos pelo menos falar com um mínimo de sinceridade. Não fosse a atuação vigilante das autoridade estaduais, através da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, seguramente continuaria a enxurrada de moeda falsa circulando em seus escaninhos, sem qualquer providência.

E aí vem o mais grave da nota. Ao invés de lamentar a ocorrência de tão grave fato e, se possível, justifica-lo prefere explicitar um tendencioso desvio do verdadeiro foco da questão para “lamentar a 
notificação recebida, sem qualquer pedido de esclarecimento”. Essa atitude corresponde, com todo o respeito, à reação do marido ultrajado vendendo o sofá para que sua mulher não mais prevaricasse nele. Maldito vezo brasileiro de não preocupar-se com o cerne das questões e identificar as cáusas que as estão provocando. Considera-se mais o acessório que o principal. Mais as formalidades que o essencial. O correto não seria apurar o afrouxamento de regras que permitiram tal calamidade ?

É inevitável que se coloquem algumas perguntas ingênuas, à moda de Garrincha na véspera do jogo com os russos na Copa do Mundo, e perdoem minha ignorância. Não existem recursos técnicos e tecnológicos para contagem e aferição da autenticidade de papel moeda ? O Banco do Brasil já tomou conhecimento da existência de tais equipamentos, se for o caso ? Caso positivo, o Banco do Brasil já equipou suas agências com eles ? Caso positivo, eles são obrigatoriamente utilizados no recebimento do papel moeda ? Caso positivo, como admitir-se a entrada e a saída de dinheiro falso, em qualquer quantidade e em qualquer agência do Banco, depois de aferidos por esses equipamentos ? Confia-se, apenas, na habilidade digital dos caixas ?

É muita irresponsabilidade na prática e na solução das barbaridades, muita indiferença, muita leniência e, sobretudo, MUITA COISA SEM JUÍZO!

Por Ivan Rodrigues
Assessor Especial do Governo do Estado

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