Mais do que com sua imagem ambiental arranhada, o Brasil chega hoje às discussões da Cúpula de Líderes sobre o Clima com sua reputação invertida. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fará um pronunciamento durante o evento virtual organizado pelo líder americano, Joe Biden. No total, a videoconferência reunirá 40 dirigentes, entre os quais o chinês Xi Jinping e o russo Vladimir Putin.
O Brasil já foi referência global nas negociações para controle das mudanças climáticas — em 2008, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi a primeira nação a apresentar metas voluntárias de redução de emissão de gases do efeito estufa.
Desde 2015, porém, segue numa direção oposta, e vem perdendo capital político nessa mesa de negociação. Em 2020, o desmatamento na Amazônia foi três vezes superior à meta proposta pelo Brasil para a Convenção do Clima de 2009, em Copenhague. Sob comendo de Salles, o Ministério do Meio Ambiente perdeu poder fiscalizador para evitar desmatamento, invasões de áreas indígenas e mineração ilegal.
Joe Biden, por sua vez, e seus Estados Unidos — segundo maior emissor de poluentes do planeta — tentam assumir o protagonismo nas negociações climáticas. O que é uma mudança significativa, escreve hoje no UOL Guilherme Castellar, especialmente pouco após a gestão de Donald Trump.
Há uma semana, Bolsonaro chegou a escrever uma carta de Bolsonaro a Biden em que o governo prometeu zerar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030.
Para amanhã, segundo interlocutores do Palácio do Planalto e do Itamaraty, Bolsonaro sabe que será cobrado por outros líderes acerca de visões controversas sobre a política ambiental brasileira, apurou o repórter Hanrrikson de Andrade.
Por esse motivo, a ideia inicial do Planalto é apresentar números, metas e buscar um afastamento da imagem ruidosa deixada durante a abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) no ano passado — quando ele mentiu e distorceu fatos.
Em tese, a mudança do perfil discursivo de Bolsonaro e o foco em uma postura classificada internamente como "moderada" fazem parte de um esforço do governo brasileiro para melhorar o diálogo com a comunidade internacional, sobretudo Estados Unidos e China.
Essa é uma demanda que se mostrou inevitável aos interesses do país e resultou, inclusive, na troca de comando no Itamaraty —o ex-ministro Ernesto Araújo, olavista e adepto de teorias sobre "globalismo" e "marxismo cultural", foi substituído pelo diplomata Carlos França.