Levantamento do jornal Folha de S.Paulo, com o auxílio do IBGE, constatou que dos 595 municípios criados desde 1977 no Brasil 570 nasceram com baixa qualidade de vida (medida pelo IDH, o índice de desenvolvimento humano, composto por indicadores de renda, escolaridade e saúde) e até hoje não superaram sequer os IDH médios dos respectivos estados.
As cidades de origem, as cidades-mãe desses 570 municípios, também não ultrapassaram o IDH dos seus estados após perderem área e população com o desmembramento. Então, do ponto de vista de desenvolvimento humano, as estatísticas são amplamente desfavoráveis aos novos municípios e às suas antigas sedes.
Mas é no contexto fiscal que a criação de cidades mostra sua faceta mais aterradora. Considere-se, por exemplo, o índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF). O IFGF é um indicador sintético alimentado por informações municipais relativas à Receita Própria, Investimentos, Gastos com Pessoal, Liquidez e Custo da Dívida. Quanto mais próximo de zero, mais crítica é a gestão do município, e quanto mais perto de um, mais a gestão é de excelência.
Dos 5.565 municípios brasileiros, o IFGF captou informações em 5.164. Os dados são referentes ao ano-base de 2011, ano menos dramático para os municípios em termos de transferências governamentais, o que pressupõe sejam as estatísticas atualizadas mais desfavoráveis, do ponto de vista fiscal.
Os números são preocupantes: dois terços dos atuais municípios, isto é, 3.418 municípios, estão em situação fiscal difícil ou crítica, com IFGF abaixo de 0,6. São municípios incapazes de manter equilíbrio entre despesas e receitas e, naturalmente, sem condições de aportar recursos para investimento. Alguns dos distritos que buscam emancipação encontram-se aí, nesse rol de cidades-sede insolventes.
Um extrato desse panorama pode ser visto em Pernambuco, relativamente aos municípios-sede para os quais há projetos de desmembramento na Assembléia Legislativa. Todos os municípios-mãe (23 localidades cujos dados estavam disponibilizados) apresentam uma radiografia fiscal desalentadora: ou suas gestões estão em dificuldade ou se encontram em situação crítica.
As generalizações são perigosas, mas diante desse quadro dantesco é concedido venia fazê-las. Antes de tudo é uma falácia argumentar que os distritos não se desenvolvem porque não têm autonomia, porque se encontram sob o jugo da sede, e são por ela desassistidos. Menos. Os distritos não se desenvolvem porque não têm produção, não criam empregos, não geram renda, não têm infraestrutura.
E aí vem a lógica: como é que um distrito que não se desenvolve (tanto assim é que pleiteia desmembramento sob essa alegação), pertencente a um município-mãe insolvente, pode manter-se autonomamente do ponto de vista fiscal e financeiro?
Que mágica é essa que faz com que um distrito pobre, de uma sede também pobre, seja capaz de nascer com condições estruturais de produção, emprego e renda superiores as do seu estágio antecedente, a ponto de, enfim, desenvolver-se?
Não é possível que os emancipacionistas imaginem que o distrito vá crescer social e financeiramente só porque terá uma prefeitura, uma câmara municipal, uma coordenação da sub-gerência do departamento regional da secretaria da educação!
É preciso muito malabarismo retórico para justificar a criação da maioria absoluta desses novos municípios.

As novas cidades, já se sabe, vão sustentar-se exclusivamente à custa das transferências governamentais, não têm como melhorar a qualidade de vida de seus munícipes, e serão, na verdade, mais uma fonte absorvedora de recursos públicos.
---------------------------------------------------------------
Maurício Costa Romão, Ph.D.
em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do
Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau.