A avaliação positiva da gestão da presidente Dilma Rousseff, mensurada pela soma dos conceitos de ótimo e bom, era de 65% em março e caiu abruptamente para 30% no fim de junho (Datafolha), reflexo dos protestos de rua daquele período.
Logo após a publicação daquela pesquisa de junho o marqueteiro da presidente, João Santana, desdenhando do potencial de corrosão eleitoral dos movimentos populares de então, tratando-os como episódicos e sem maiores conseqüências, vaticinou que em quatro meses a sua cliente recuperaria a popularidade perdida.
AVALIAÇÃO
DA ADMINISTRAÇÃO (%) DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF VÁRIAS
PESQUISAS NACIONAIS (agosto
a novembro de 2013)
|
|||||
Conceito
|
agosto
|
setembro
|
outubro
|
novembro
|
Média
|
Ótimo
+ Bom
|
37
|
37
|
38
|
39
|
38
|
Fonte: elaboração própria com base em oito pesquisas nacionais
Essa resistência dos eleitores em atribuir conceitos mais generosos à gestão da presidente Dilma é rescaldo das manifestações reivindicatórias do meio do ano que, inobstante hajam refluído enquanto movimentos de rua, permanecem latentes, impulsionadas pelas motivações que as ensejaram.
Sob esse prisma, então, de aprovação de governo – variável tida pelos especialistas como um dos principais fatores que influenciam a reeleição de incumbentes – há razões sobrantes para preocupações nas hostes petistas. Até porque essa variável independe dos cenários de intenção de votos. Mostra apenas como o eleitor avalia a administração governamental sem fazer associação com os postulantes que almejam gerenciá-la.
Em termos de intenção de votos, as manifestações dos eleitores são um pouco mais favoráveis à presidente do que à apreciação que é conferida a seu governo. Na pesquisa de março deste ano o Datafolha registrou 58% de intenção de votos para Dilma no cenário mais plausível, o que continha Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos.
No fim de junho tais intenções de votos caíram para 30%, no mesmo cenário. Nos primeiros levantamentos de agosto, e nos que se seguiram até a erupção da aliança PSB-Rede, houve recuperação da presidente de cerca de oito pontos, em média, sempre no mesmo cenário e considerando pesquisas nacionais de vários institutos.
A partir da coalizão entre os partidos de Eduardo e Marina, a média de intenção de votos da pré-candidata petista alcançou o patamar de 42%, na configuração de disputa mais provável, contra Aécio Neves e Eduardo Campos. Embora não se possa comparar números que se originaram de cenários distintos, a zona de conforto da presidente parece mais ampla agora, contra dois candidatos,conforme pode ser visto na tabela a seguir.
PESQUISAS
DE INTENÇÃO DE VOTOS (%) PARA PRESIDENTE DO BRASIL
(outubro e novembro de 2013)
|
||||||
Candidato
|
Datafolha
|
Vox Populi
|
Ibope
|
Sensus
|
MDA
|
Média
|
Dilma Rousseff
|
42,0
|
43,0
|
41,0
|
40,2
|
43,5
|
41,9
|
Aécio Neves
|
21,0
|
20,0
|
14,0
|
18,0
|
19,3
|
18,5
|
Eduardo Campos
|
15,0
|
10,0
|
10,0
|
10,6
|
9,5
|
11,0
|
B/N/N*/NS/NR
|
23,0
|
27,0
|
35,0
|
31,3
|
27,8
|
28,8
|
Data
|
11/out
|
11-13/out
|
12-21/out
|
17-21/out
|
31-4/nov
|
|
B =
Branco; N = Nulo; N*= Nenhum; NS = Não sabe; NR = Não respondeu
|
Fonte: elaboração própria com base nas pesquisas listadas
De fato, no cenário mais provável de acontecer, a diferença média de intenções de voto entre Dilma e seus concorrentes é de um pouco mais de 12 pontos, o que possibilita seja o pleito encerrado no primeiro turno, se a eleição fosse hoje.
Ainda assim, nota-se que o percentual atribuído à presidente nesta pesquisa de novembro do MDA difere muito pouco dos registrados nos levantamentos de outubro. Tal proximidade numérica suscita especular se não estaria ocorrendo aí, no campo das intenções de voto pós-junção Eduardo/Marina, o mesmo fenômeno de constância (38%) detectado nas pesquisas anteriores à celebração da referida aliança, só que agora num patamar ligeiramente superior (42%)?.
Enfim, a presidente continua favorita a permanecer no cargo, até pelo protagonismo que a condição de incumbente lhe confere. Entretanto, a alardeada liderança de intenções de voto que exibe hoje nas pesquisas carece de leitura mais crítica.
—————————————————————-
Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto
Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de
Nassau. mauricio-romao@uol.com.br