A pesquisa do Instituto Ibope de antes das manifestações de junho de 2013, realizada em março, apontava a presidente Dilma Rousseff exibindo grande popularidade no Nordeste: 72% de avaliação positiva, medida pelas menções de ótimo e bom.
Logo após aquelas insurgências, o levantamento do mesmo instituto em julho já registrava queda da avaliação positiva para 43%. Depois de esboçar certa reação a partir dali, e até dezembro do ano passado, a seqüência de pesquisas mensais do Ibope em 2014 mostra que os níveis de popularidade da mandatária nacional retornaram aos patamares pós-manifestações (vide gráfico).
Essa trajetória de aprovação do governo no Nordeste, entre declinante e estabilizada no entorno dos 40%, tem afetado as intenções de voto à presidente. De fato, depois de formalizada a coalizão Rede/PSB, em outubro de 2013, o Ibope registrou naquele mês 57% de intenção de votos para Dilma na região. Agora em agosto, o mesmo instituto constatou queda dessa votação para 51%.
Pode-se dizer que, embora caindo, tanto a avaliação do governo da presidente, como suas intenções de voto, ainda são elevadas. E de fato são. Basta ver, por exemplo, que o conjunto dos adversários da presidente alcançou apenas 27% de intenção de votos nessa pesquisa do Ibope de agosto, na região Nordeste, contra os 51% já mencionados.
É no Nordeste que a presidente Dilma desfruta de grande consideração e de muitos adeptos à sua postulação a novo mandato, menos talvez pelos resultados de seu governo e mais pelo extraordinário prestígio do seu maior aliado e eleitor, o ex-presidente Lula.
Não é surpresa, pois, que Dilma desfile seus mais reluzentes índices votos e popularidade na região. E precisa mantê-los elevados para assegurar que o pleito termine no primeiro turno, já que se houver o segundo, são bem mais remotas as chances de reeleição da presidente (vide texto “Turnos eleitorais”, no blog do autor).
Mas a questão não é de “estoque” (magnitude dos indicadores), mas de “fluxo” (trajetória dos indicadores). Tanto a avaliação do governo, quanto as intenções de voto da presidente estão com tendência de declínio de outubro para cá, o que sinaliza obstáculos à sua pretensão.
A nível nacional a disputa presidencial está técnica e numericamente empatada (50% para a presidente e 50% para o conjunto dos oponentes, em votos válidos), levando-se em conta a média das últimas três pesquisas nacionais em julho (Sensus, Datafolha e Ibope), ou a média dessas três pesquisas mais a do Ibope de agosto, ou apenas a do Ibope de agosto.
Assim, para manter a perspectiva de ganhar a eleição na sua primeira etapa a candidata petista precisa, no mínimo, manter a votação excedente que tem no Nordeste, relativamente ao conjunto de seus adversários, ceteris paribus.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br,http://mauricioromao.blog.br.