Em palestra no Estaleiro Mauá, em Niterói (RJ) - com cobertura jornalística exclusiva do MONITOR MERCANTIL - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, realmente, escolheu a diretriz certa ao dar apoio à construção naval e à navegação, mas deixou claro que o importante, quando se aproxima a exploração do pré-sal, é aplicar-se, em todos os segmentos, a política de conteúdo local. Em resumo: deve-se prestigiar o mercado interno, as indústrias locais e com isso gerar empregos e levar dignidade ao trabalhador brasileiro.
- Eu posso dizer que conheço o trabalhador e o que ele quer é emprego com carteira assinada, para poder manter sua família e ainda se divertir um pouco nos fins de semana.
Com orgulho, disse:
- A taxa de desemprego de julho foi de 6%, a menor de um mês de julho nos últimos dez anos. Esse índice não é apenas um número, mas significa dignidade para milhões de pais de família e mostra o acerto da política econômica.
Ao longo de sua dissertação para 4 mil trabalhadores e empresários do setor de construção naval, no entanto, o ex-presidente tocou em outros temas, como inflação, gasto público e Copa do Mundo.
No caso da inflação, afirmou ser um mal que se deve evitar e, com seu estilo franco - que é entendimento pelo povo - disse: "Eu recebia o salário e procurava comprar, no supermercado, itens que se pode guardar, como óleo de soja. Minha casa ficava cheia de caixas de óleo".
Com isso, pareceu querer mostrar a necessidade de se manter um orçamento equilibrado, sem sonhos a qualquer preço. Em relação a gasto público, criticou as elites: "Se o governo atende a pedidos empresariais, isso é investimento, mas quando dá um benefício para o Bolsa Família, dizem que é extravagância, um gasto indevido. Não, melhorar o bolsa família é investimento, investimento econômico e social".
Primeiro em sondas
Sobre Copa do Mundo, disparou: "Um país que fez uma obra como Itaipu, como é que não poderia realizar uma Copa do Mundo? Há dinheiro para a Copa, o que está faltando é futebol à nossa seleção".
Com sua conhecida verve, disse que, se a Transpetro incentivou a instalação de um estaleiro no interior de São Paulo - em Araçatuba, para fazer embarcações fluviais - poderia fazer o mesmo em Garanhuns (PE), sua terra natal.
Falando sério, citou que a frota da Transpetro, hoje de 53 navios, deverá chegar a 110 em 2015, com índice de nacionalização de 70%. Destacou que, até 2020, a Petrobras vai precisar de 65 sondas, sendo que, hoje, no mundo, há apenas 103 unidades em operação, ou seja, irá encomendar mais de metade do que se tem no mundo.
Em seguida, elogiou o fato de que há novos estaleiros em diversas partes do país, como Rio, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco, o que distribui benefícios por diversas regiões.
- Temos de trabalhar muito, porque hoje o pré-sal representa 2% da produção e, em 2020, significará 40%.
Estaleiros por todo o país
Sem se referir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que, em 2002, antes de ele assumir o governo, os estaleiros estavam à míngua e hoje os soldadores são disputados a peso de ouro. Citou que, ao instalar novos estaleiros, o governo teve a preocupação de exigir que a mão-de-obra fosse local, para não frustrar a pobre população de região. O Atlântico Sul, em Pernambuco, prestigiou o trabalhador das proximidades e acolheu desempregados e ex-plantadores de cana.
- Quem diria, a construção naval passou 15 anos sem construir um navio grande. Um país com 8 mil quilômetros de litoral. Agora, há 300 projetos, incluindo navios, plataformas, barcos de apoio e tudo mais.
Lembrou que cidades como Santos (SP) e Rio Grande (RS) devem crescer muito com o pré-sal e obras navais. Citou as refinarias do Ceará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte e o Comperj, no Rio, como provas claras de política do governo e da Petrobras de suporte ao desenvolvimento.
Sobre o Estaleiro Atlântico Sul, revelou que as encomendas incluem 22 navios, uma plataforma, sete sondas, tudo no valor de US$ 8,6 bilhões, o que o coloca como o 29º estaleiro do mundo.
Com seu jeito descontraído, Lula disse a German Efromovich, dono dos estaleiros Mauá e Eisa, que ele também deveria fazer o Mauá subir, e German, de pronto, respondeu que isso dependia de pedidos de obras por parte da Petrobras.
Lula lembrou que houve polêmica sobre uso de aço nacional e a Usiminas está construindo usina para produzir 500 mil toneladas anuais de aço. Ao se despedir, deixou mensagem de esperança: " É a gente que define a nação que queremos. Depende de nossa atitude e decisão".
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