Vídeo: Salatiel Júnior
Texto: Carta Capital
Em fevereiro deste ano, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) do Ceará divulgou em sua página nas redes sociais um vídeo preocupante. Nas imagens, jovens uniformizados adentram o templo em meio ao culto marchando em formação militar, e, ao ouvir o comando “atenção gladiadores!” de um superior, batem continência e ficam em silêncio. O que se vê no vídeo é a mais nova organização formada dentro da IURD, os "Gladiadores do Altar", que segundo a própria igreja “visa formar jovens disciplinados e altamente preparados para enfrentar os desafios diários de ganhar almas e fazer discípulos”.
O vídeo polêmico, no entanto, não mostra uma singularidade da filial da IURD no Ceará, mas a expressão de uma nova política internacional da instituição. Vídeos similares podem ser vistos em igrejas da Universal na Colômbia e Argentina, por exemplo.
Jean Wyllys
Chocado, o Deputado Federal Jean Wyllys (PSol-RJ) postou o vídeo em sua página no Facebook criticou a organização como expressão do fundamentalismo religioso no Brasil, “articulado profundamente à lógica de mercado e promovido por estratégias publicitárias que interpelam as pessoas a partir de preconceitos históricos”.
“O fundamentalismo cristão no Brasil tem ameaçado as liberdades individuais, a diversidade sexual e as manifestações culturais laicas. Agora ele está formando uma milícia que, por enquanto, atende pelo nome de "Gladiadores do Altar". Quando atentaremos de verdade para o monstro que emerge da lagoa? Quando começarem a executar os ‘infiéis’ e ateus e empurrar os homossexuais de torres altas como vem fazendo o fundamentalismo islâmico no Oriente Médio?”, afirmou.
Na terça-feira (03), a Igreja Universal do Reino de Deus se pronunciou pela primeira vez sobre a polêmica envolvendo o controverso projeto Gladiadores do Altar. Um texto publicado no site oficial da instituição diz que ele foi alvo de "interpretações absurdas" de usuários de redes sociais, portais de internet e políticos e alega que o deputado federal Jean Wyllys "uniu ódio à burrice motivada" para avaliá-lo erroneamente.
"Nas últimas horas, circulam em alguns portais e por redes sociais interpretações absurdas sobre o projeto Gladiadores do Altar (...). O deputado federal Wyllys, que iniciou cruzada pessoal pela Internet contra os Gladiadores do Altar, havia afirmado em seu perfil na rede social Instagram, há duas semanas: 'A burrice motivada é a falta de vida com pensamento; a burrice motivada e o ódio são, quando combinados, o fascismo e estão fazendo emergir o pior das pessoas nas redes sociais digitais e fora delas'. Ao tecer o comentário sobre os Gladiadores, ele contradisse sua própria afirmação, unindo seu ódio à burrice motivada e fez uma avaliação sobre um projeto do qual nada sabe a respeito e sequer procurou saber antes de publicar tal injúria", diz a publicação, intitulada Universal responde ataque de deputado federal.
A polêmica começou no último dia 15 de fevereiro, quando a Igreja Universal do Ceará compartilhou um vídeo, em seu perfil do Facebook, que mostra uma das apresentações dos participantes do projeto. Na gravação, homens uniformizados de verde e preto marcham em fila até se posicionarem lado a lado em posição de sentido. Todos batem continência. Quando o "comandante" à frente se pronuncia, os "gladiadores" repetem suas palavras. Nos dias seguintes, internautas compararam as cenas com ações de grupos religiosos radicais, como, por exemplo, o Estado Islâmico.
"O vídeo é chocante (ao menos para mim). O fundamentalismo cristão no Brasil tem ameaçado as liberdades individuais, a diversidade sexual e as manifestações culturais laicas. Agora ele está formando uma milícia que, por enquanto, atende pelo nome de 'gladiadores do altar'. Quando atentaremos de verdade para o monstro que emerge da lagoa? Quando começarem a executar os 'infiéis' e ateus e empurrar os homossexuais de torres altas como vem fazendo o fundamentalismo islâmico no Oriente Médio? Não é porque tem a palavra 'cristão' na expressão que o fundamentalismo cristão deixa de ser perigoso e não fará o que já faz o fundamentalismo islâmico", escreveu Wyllys em suas redes.
Para a instituição, no entanto, "buscar uma motivação violenta ou condenável em jovens uniformizados que marcham e cantam unidos em igrejas" é "absurdo". A "analogia militar", para ela, pode ser usada "de forma positiva e pacífica". A IURD alegou ainda que o projeto funciona desde janeiro deste ano e serve para "orientação e formação de jovens vocacionados para a propagação da Fé Cristã".