Busto esculpido pela artista plástica e Oficial da Reserva da PMPE Capitã Telmira Cavalcante Sá Branco |
O ano de 2017 marcou o centenário de uma das páginas mais tristes da história de Garanhuns. Por motivações políticas aconteceu no município aquela que foi considerada a maior tragédia política do interior de Pernambuco e que entrou para a história como a Hecatombe de Garanhuns.
O historiador, escritor e professor José Cláudio Gonçalves de Lima, autor do livros: "Os Sitiados: A Hecatombe Garanhuns" e "A Cobertura Jornalística da Hecatombe de Garanhuns". recebeu a missão de abordar, em uma pequena palestra, a passagem histórica do Cabo Cobrinha e demais soldados na Hecatombe de Garanhuns, missão esta confiada pelo Tenente-Coronel Paulo César Gonçalves Cavalcante, Comandante do 9º BPM, que recebeu representantes da sociedade de Garanhuns, na última sexta-feira (15), para a solenidade de inauguração do busto do Cabo Cobrinha e dos soldados heroicos.
Vamos a um trecho elucidativo e importante da nossa história, nas palavras de Cláudio Gonçalves:
Naquele dia 15 de janeiro de 1917, a cidade estava em polvorosa, tomada por dezenas de homens fortemente armados dispostos a vingarem a morte do Coronel Júlio Brasileiro, assassinado na noite anterior na Capital Pernambucana. Estes aliados atribuíam equivocadamente o assassinato da sua liderança a um complô dos seus adversários políticos, que diante das ameaças foram convencidos a se recolherem à cadeia.
Ás 15h30min a cadeia seria cercada por esses homens dispostos a uma retaliação, é neste momento, como em muitos outros da nossa História, que alguns homens se destacam pelos seus atos de bravura e de não se avassalar perante o cumprimento do seu dever e pela honra dos seus ideais. Aquela pequena guarnição comandada pelo Cabo Antônio Pedro de Souza (Cabo Cobrinha), Sargento Pedro Cavalcanti Malta e os soldados Ezequiel Cabral de Souza, Francisco Maciel Pinto, Pedro Antônio Dias e Manoel João de Oliveira, resistiram e defenderam com heroísmo aquelas autoridades políticas a quem as vidas lhes foram confiadas, Coronel Manoel Jardim, Tenente-Coronel Francisco Veloso, Coronel Argemiro Miranda, Capitão Júlio Miranda, Major Sátiro Ivo, Doutor Borba Junior e o Jovem Gonzaga Jardim, que momentos antes do ataque foi a cadeia visitar o tio Manoel Jardim.
Cabo Cobrinha, comandante daquela guarnição policial, nascido em Garanhuns em 1889, havia ingressado voluntariamente na Força Policial do Estado de Pernambuco em 01 de dezembro de 1909, destacando-se no 2º Batalhão. Em 25 de novembro de 1911 seria promovido a Aspençado (antiga graduação entre cabo e soldado), e em 27 de novembro do mesmo ano, a Cabo de Esquadra. Sua ação naquela fatídica tarde ficou registrada na história. Cabo da Força Pública, oficial destemido, enfrentou o jagunço Vicentão, comandante daquele grupo assaltante que o ameaçava e aos seus comandados aconselhando-os a abandonarem a posição. Cabo Cobrinha não se rendeu as ameaças e antes de tombar a porta da cadeia e de ferir o seu agressor gravemente respondeu-lhe que aqueles cidadãos estavam sob a sua proteção e garantias, e que acima de tudo estava o cumprimento do dever, e que ali só entrariam passando por cima do seu cadáver. Célebre frase que o personifica e o imortaliza como um dos heróis da nossa história.
Por mais que os documentos históricos nos forneçam pistas, informações e descrições, daquele desigual e covarde ataque que durou aproximadamente trinta minutos, não haveria como descrevê-lo em toda sua amplitude a tamanha agressão injustiça. Foram minutos que só a coragem, o dever e a hombridade a farda da Polícia Militar deram forças aquela heroica guarnição policial para enfrentar em desvantagem aquele terrível combate até sucumbirem, não se renderam e permaneceram até o fim ao lado daquelas autoridades que confiaram fielmente naquela força policial. Mesmo o Sargento Pedro Cavalcanti Malta que conseguira escapar ferido ao cerco, retornaria para tentar salvar algumas vidas.
Daquela Força Policial o Cabo Cobrinha e os soldados Francisco Maciel Pinto e Ezequiel Cabral de Souza perderam a vida em combate. Os soldados Pedro Antônio Dias e o conselhense Manoel João de Oliveira vieram a falecer no Hospital Pedro II em Recife. O Sargento Pedro Cavalcanti Malta faleceria em 01 de fevereiro de 1961, ocupando o posto de Coronel da Polícia Militar de Pernambuco.
O Coronel José Novaes, Comandante da Força Pública, pelo ato de bravura e heroísmo promoveu todos esses notáveis defensores que escreveram seu nome na história de Policia Militar de Pernambuco, o Cabo Cobrinha foi promovido a 2º Sargento, o Sargento Pedro Malta a Alferes e dos demais soldados ao posto de Cabo de Esquadra.
Neste ano do Centenário da Hecatombe de Garanhuns, o 9º BPM, através do seu Comandante Tenente-Coronel Paulo César Gonçalves Cavalcante, idealizador desta solenidade e do memorial ao Cabo Cobrinha e demais soldados que morreram em defesa da sua missão, da sociedade e da honradez de suas fardas, promove o nobre Comandante nesta conceituada Corporação o reconhecimento histórico e militar desses saudosos e bravos oficiais e policiais militares que tiveram um comportamento exemplar e sempre deverão ser reverenciados por todos que compõem essa integra e renomada Corporação.
José Cláudio Gonçalves de Lima |
Que esses heróis sejam exemplo de motivação para os enfrentamentos e surpresas que a vida policial militar lhes revelará a cada dia, e motivo de orgulho, pois esses valorosos e destemidos militares nos deixaram uma página escrita de heroísmo para que todos que compõem o 9º BPM, seus oficiais e soldados, e por não dizer todos os integrantes da Policia Militar de Pernambuco possam se inspirar nessa gloriosa passagem histórica dos saudosos Cabo Cobrinha e demais policiais militares para escrever também a sua história e biografia de glórias e de motivo de orgulho nesta instituição.
Congratulo-me com o 9º Batalhão da Policia Militar, através do seu Comandante Tenente-Coronel Paulo César Gonçalves Cavalcante, demais oficiais e policiais militares por essa belíssima solenidade e pelo memorial ao Cabo Cobrinha e demais soldados falecidos na Hecatombe de Garanhuns, cujo busto do Cabo Cobrinha, esculpido pela artista plástica e oficial da Reserva da Policia Militar de Pernambuco Capitã Telmira Cavalcante Sá Branco, passa a ser um marco da preservação da nossa memória histórica.
Muito obrigado!
José Cláudio Gonçalves de Lima
Escritor"