terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

IVAN RODRIGUES É UM MOLEQUE - Por Gerson Lima

Em foto do seu Facebook, Ivan Rodrigues ao lado de um dos seus filhos, Pedro Leonardo


Neste 13 de fevereiro de 2018 esse moleque faz 90 anos e não perde a pose. 

Se já é desconcertante associar sua paisagem física com essas nove décadas, imagine o cérebro recauchutado com um HD de 5 mil Gigas de memória. Não se atreva a desafiá-lo em datas, pessoas, circunstâncias e referenciais históricos diversos. Vai em cima com uma precisão invejável. Quando recebe alguém, o olhar de duende fuzila o rosto do outrem disparando alegria e cordialidade como quem cumpre a ansiedade de um encontro marcado. Quero dizer que o moleque tá inteiro. 

Nos ombros o sacerdócio por Pernambuco e suas lutas libertárias das quais participou inúmeras vezes.  

Por Garanhuns, é sempre bom estar preparado para prestar contas da terrinha quando encontrá-lo. Porque ele cobra faturas inimagináveis se dispondo, inclusive, em ajudar a pagá-las. É molecagem fazer 90 anos assim. Ter sempre uma história pra contar, uma comparação a fazer, um exemplo a dar, um diagnóstico sensato e uma pré-disposição político-cidadã latente. 

Conheço Ivan desde a década de 70. Daí para trás quem conheceu foi Miguel Arraes, Gregório Bezerra e outros imprescindíveis da história de Pernambuco e do Brasil. Com esses camaradas e tantos outros, em 64, durante o Golpe Militar, o moleque foi convidado a passar umas férias retido numa cela. Trancaram o moleque, mas não trancaram seu idealismo mesmo num momento em que andar pelas ruas do Recife era como pisar em brasas. 

O outro lado faceiro do Ivan Rodrigues a que chamo de “moleque”, no sabor genuíno da expressão brincante, conheci na década de 70, aos domingos num cantinho do palco do Teatro em Garanhuns, quando marcávamos nossos ensaios teatrais. Estava ali nada menos do que Ronaldo White ao piano acompanhando Ivan e Rossine Moura num revezamento de duetos debulhando Jamelão, Dick Farney, Lupicínio Rodrigues, enquanto desciam goela abaixo suas vitaminas destiladas, com gelo. Ficávamos ali, no silêncio que todo piano e a música boa impõem. No intervalo entre uma música e outra, Ronaldo me dizia que o hino nacional brasileiro na verdade é um baião. O fato é que Gianfrancesco Guarnieri, Millôr Fernandes, Plinio Marcos nunca foram encenados em Garanhuns por causa dessa molecagem. 

O filho de Zé Batatinha tinha outra travessura posta em prática na Terça-feira de Carnaval quando nos juntávamos em sua casa à Praça Souto Filho e a partir das 10 da manhã, enchíamos o papeiro de Vodka com suco de pitanga e o que mais aparecesse à base de álcool. Ao final da tarde, turbinados e gerando óleo 40, saíamos todos para “fazer o passo” em direção a Av. Santo Antônio. De braço dado com sua Dulce, o moleque vestia-se de Normalista e ganhava as ruas puxando pro bloco improvisado quem achasse que era só plateia na festa do Momo. Rosto cheio de araruta ou talco Gessy, o moleque sempre foi desses que nunca viu a banda passar....ele segue a banda mesmo. 


Gerson Lima
Quando pensei que aos 90 anos poderia somar a Dulce, uma bengala, os netos e extraordinárias lembranças, o moleque se encanta com o computador e começa a redigir coisas que é bom prestar atenção. Somente Dulce, aliás, seria mesmo capaz de lhe obrigar a reserva de uma dedicação quieta e compenetrada. O Resto não. Por que: A politica gira como um pinhão, e o moleque dá voltas soltas no ar – Pernambuco é vivo e se mexe como água em ebulição, e o moleque atiça o fogo regulando temperaturas. E os homens e mulheres ao seu redor, são brinquedos coloridos expostos dos quais se agrada e brinca entretido em construir castelos. 

E a vida...Ah...A vida é essa molecagem de Deus que ele sempre soube aproveitar.. 

Parabéns – Doutor Ivan Rodrigues.

Gerson Lima 
Radialista e profissional de Marketing Político

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