"Mesmo o município de Garanhuns tendo sido emancipado ou elevado à categoria de cidade em 1879, só veio a eleger o seu primeiro prefeito 13 anos depois, haja vista o cargo de prefeito só ter sido considerado após o fim da Intendência Municipal (era indicado pelo governador) no começo da República(1889), 13 anos depois que Garanhuns emancipou-se e 3 anos após a Proclamação da República. A peculiaridade desta primeira eleição é que ela foi anulada por duas vezes, somente a terceira é que o Coronel Antonio da Silva Souto foi vencedor e governou o município por 4 anos, de 1892 a 1895.
Antes de entrar no assunto da manchete em epígrafe vale salientar que o primeiro prefeito eleito de Garanhuns era pai de SOUTO FILHO, este conhecido por Dr. Soutinho que, indiscutivelmente, por muito tempo, foi o “CACIQUE MÓR” da nossa política. Como curiosidade, politicamente ele foi tudo, mesmo assim, nunca exerceu o cargo de prefeito de Garanhuns. Apesar de ter sido eleito em 1929, ele renunciou ao cargo. Hoje a cidade presta-lhe uma merecida homenagem com uma obra erguida no centro da cidade; trata-se da Praça Souto Filho(praça da fonte luminosa), que fica defronte ao Colégio XV de Novembro. Souto Filho morreu em 1937, diga-se de passagem, relativamente jovem, aos 51 anos de idade.
Vale lembrar, a quem quiser e a quem interessar possa, que Souto Filho era cunhado de Euclides Dourado; Euclides Dourado era pai de Luiz Souto Dourado; Antonio da Silva Souto(1º prefeito) era o pai de Soutinho; e avô, por parte de mãe, de Luiz Souto Dourado.
Na minha singela concepção, sem nenhum demérito aos outros, Garanhuns teve dois grandes abnegados, que cada um em sua área distinta “ladrilhou com pedrinhas de brilhante” a passarela dos fatos relevantes e as boas coisas realizadas em Garanhuns. Tratam-se de, SOUTO FILHO e IVO AMARAL. Dr. Soutinho, no campo estritamente político, apesar de sua baixa estatura, era um gigante. Foi um político extremamente habilidoso. Já no campo ADMINISTRATIVO, o prefeito que elevou o nome de Garanhuns para os quatro cantos do Brasil e boa parte do Mundo(haja vista o alcance do Festival de Inverno) foi o excelente gestor, Ivo Tinô do Amaral, um prefeito digno de aplausos.
Continuando, no dia 15 de novembro de 1968, há exatamente 50 anos, o Município de Garanhuns elegia, até hoje, seu último prefeito filho da terra: o intelectual e advogado LUIZ SOUTO DOURADO que tomou posse aos 45 anos de idade. De lá pra cá passou-se meio século e tivemos 8 prefeitos(com três reeleições), nenhum deles com a certidão de nascimento da Terra de Simôa. Eis a sinopse numérica do resultado da eleição para prefeito realizada em Garanhuns, em 15 de novembro de 1968, organizada pelo Serviço de Estudos e Estatística da Secretaria do Tribunal Eleitoral do Estado, conforme consta das páginas do jornal Diário de Pernambuco em sua edição de 19 de novembro de 1968. O número de votantes foi de 11.827 e o resultado total foi o seguinte: LUIZ SOUTO DOURADO(MDB), 6.202 votos. ALUÍSIO SOUTO PINTO(ARENA), 5.258 votos. Souto Dourado, portanto, foi eleito prefeito ganhando aquele pleito por uma diferença com pouco mais de 900 votos.
Para ser eleito prefeito de Garanhuns, naquela circunstância o deputado Luiz Souto Dourado(que tinha como seu vice o jornalista Humberto de Moraes) recebeu o apoio maciço do então prefeito Amílcar da Mota Valença para derrotar o favorito do pleito, Aluísio Pinto, por diferença de 900 sufrágios(os dois – Aluísio e Dourado representavam Garanhuns na Assembleia Legislativa, eles foram deputados por Garanhuns em duas oportunidades e eram primos legítimos). Na avaliação do jornalista Ulisses Pinto, além da força que o intelectual Dourado recebeu do prefeito bem avaliado, Amílcar, pesou muito o seu SLOGAN de campanha que dizia o seguinte: “VAMOS DEIXAR ALUÍSIO PINTO NA ASSEMBLEIA e SEU PRIMO SOUTO DOURADO NA PREFEITURA”...
Abro mais um parênteses para falar do líder popular Aluísio Pinto(irmão do jornalista Ulisses Pinto) foi vereador por duas vezes pelo partido da UDN, eleito prefeito em 1959 com uma vantagem de mais de 70% dos votos sobre o seu adversário que foi Abdias Branco(tio e pai de criação por boa parte da vida do nosso querido e já noventão, Ivan Rodrigues). O vice de Aluísio foi Álvaro Rocha. Já em 1968, quando disputou a eleição com Souto Dourado Aluísio Pinto exercia o mandato de deputado estadual pelo partido governista da ARENA. Como prefeito, na sua gestão o município de Garanhuns era composto de sete distritos: Brejão, Caetés, Paranatama, São João, São Pedro, Iratama e Miracica. Aluísio Pinto morreu no dia 31 de dezembro de 1968(45 dias após perder a eleição para o primo Souto Dourado), de ataque cardíaco fulminante (conhecido na época pelo nome de moléstia do coração) aos 54 anos de idade.
Retornando à aldeia, naquela ocasião do pleito vitorioso do garanhuense Souto Dourado, houve uma bela sequência de fatos extraordinários protagonizados por candidatos a vereança como a eleição do debutante ANTONIO EDSON que foi na ocasião, o vereador mais votado ao obter 805 votos pelo MDB, partido do prefeito eleito; outros ilustres vereadores compuseram a Câmara, como Ivan Rodrigues(MDB) – Líder do Governo na Câmara -; Dr. Pinto(MDB); Hermínio Sampaio(MDB); Paulo Faustino(ARENA); Jaime Pinheiro(ARENA); José Inácio Rodrigues(ARENA) e tantos outros. O fato que chama atenção é ou foi do eleito Severino Pereira Guimarães(SEVERINO VENTINHA), pois se elegeu com 643 sufrágios sendo o mais votado da ARENA e que teve uma trajetória brilhante por ter sido o vereador recordista de mandatos na Câmara conseguindo se eleger por seis vezes consecutivas.
Foi-se o homem, fica a obra pela eternidade, perpetuada no tempo. No quesito EMBELEZAMENTO DA CIDADE, sem nenhum desmerecimento ou desonra aos outros, Garanhuns foi ou é beneficiada por três Grandes prefeitos: Souto Dourado(falecido em 1986 aos 63 anos de idade), Ivo Amaral e Izaías Régis(vivinhos da silva). Em sua profícua administração, Souto Dourado notabilizou-se no campo cultural, em feitos como por exemplo a reforma do suntuoso prédio da Estação Ferroviária, transformando-o no centro cultural com o nome merecido de Alfredo Leite, IDEIA INÉDITA PARA ÉPOCA, inclusive com uma acústica perfeita, elogiada por vários artistas de renome, como Benito de Paula.
Por fim, não está partindo de mim nenhuma pretensão de desenvolver aqui qualquer tese ou ensaio sociológico. Falo como um simples cidadão, digo o que ouvi, pesquisei, li, perguntei e muito do que presenciei nos últimos 50 anos neste município, mas afirmo que há meio século, Garanhuns não elege um prefeito filho da terra!!!
Não quero depreciar o trabalho dos “forasteiros”, afinal eles foram adotados como filhos de Garanhuns e têm correspondido com afeição e luta às causas da terra, mas é lastimável afirmar que em certos momentos Garanhuns parece uma cidade SEM famílias tradicionais como àquelas existentes nos tempos de outrora. Nada é tão lamentável e nocivo como constatar fato desta natureza na centenária Garanhuns..."
ALTAMIR PINHEIRO
Escritor, blogueiro e colunista de jornais